Joana – Sumário

Joana – Joan Margarit

Tradução: Nelson Santander

SUMÁRIO

Apresentação de “Joana”, de Joan Margarit

Joana – Prólogo

Oração para J. M. R.

Enquanto tu dormes

Não há milagres

Riera Pahissa

Amanhecer em Cádiz

Luzes de natal em Sant Just

Às quatro da madrugada

Manhã de domingo com a música de Lluís Claret

Metrô Fontana

Pai e filha

Sant Just, 2 de março de 2001

A felicidade

Oceano Atlântico, 1956

História natural

Água

Mãe e filha

Pilhagem

Súplica

Mari

Última caminhada

Um pobre instante

O dia depois da morte

Teu lobo

Final

Noite de junho

Espaço e tempo

Uma história

Uma fotografia pendurada na parede

Passageira

Recordações militares

Canção de ninar

O presente e Forès

Professor Bonaventura Bassegoda

O primeiro verão sem ti

Quadro com pássaros

Lápide

A espera

Um lugar perdido

No final da noite

Joan Margarit – No final da noite

O ar está congelando.
Até o rouxinol mantém-se em silêncio.
Com a testa apoiada na vidraça
peço perdão às minhas filhas mortas,
porque já quase nunca penso nelas.
O tempo passou, deixando sobre a cicatriz
sua argila empoeirada, e ocorre que, mesmo
quando se ama alguém, sobrevém o esquecimento.
A luz tem a mesma aspereza das gotas
que vão, com o degelo, caindo dos ciprestes.
Ponho uma tora, removo as cinzas,
ressurge a chama entre as brasas.
Começo a fazer café
e vossa mãe, do quarto,
sorri com sua voz: Que cheiro bom.
Acordaste muito cedo esta manhã.

Trad.: Nelson Santander

Joana e Joan, em 2000. Foto: arquivo da família Margarit Ribalta

JOANA FOI ESCRITO DE 10 DE OUTUBRO DE 2000 A 1 DE SETEMBRO DE 2001

What will survive of us is love.
PHILIP LARKIN

Nota a JOANA


Este livro foi escrito violando todos os conselhos que os poetas nos damos sobre a distância obrigatória entre os fatos e o poema. Uma vez que precisava escreve-lo assim, e, ademais, já começo a ter idade suficiente para ignorar os conselhos, usei como garantia a vigilância poética — pela qual ora agradeço — de meus amigos Pere Rovira, Paco Díaz de Castro, Ramón Andrés, Enrique Badosa, Luis García Montero, Antonio Jiménez Millán, Miguel Ángel e Ana del Arco, Isidor Cònsul, Maite Merodio e Jesús Munárriz, Àlex Susanna e Sam Abrams. E de Almudena del Olmo, que, diante das minhas dúvidas, me disse: Não penses mais nisso e dá-lhe o título do que é realmente a tua obsessão: Nunca mais. Foi assim que este livro começou a ser intitulado, mas no final ganhou o nome simples da protagonista, em relação à qual, ao fim e ao cabo, o título sugerido não passava de uma afirmação filosófica. Como me recordou Sam Abrams, o mesmo corvo de Poe diz Nevermore, e o nosso Nunca mais é Never again.

AL FONDO DE LA NOCHE

Está helando en el aire.
Guarda silencio hasta el ruiseñor.
Con la frente apoyada en el cristal
pido perdón a mis dos hijas muertas,
porque ya casi nunca pienso en ellas.
El tiempo ha ido dejando sobre la cicatriz
su polvorienta arcilla, y es que, incluso
cuando uno ama a alguien, sobreviene el olvido.
La luz tiene la misma dureza de las gotas
que van, con el deshielo, cayendo del ciprés.
Pongo un leño, remuevo las cenizas,
vuelve a surgir la llama entre las brasas.
Empiezo a hacer café
y vuestra madre, desde el dormitorio,
sonríe con su voz: Qué buen aroma.
Has madrugado mucho esta mañana.

JOANA FUE ESCRITO DEL 10 DE OCTUBRE DE 2000 AL 1 DE SEPTIEMBRE DE 2001

What will survive of us is love.
PHILIP LARKIN

Nota a JOANA

Este libro fue escrito vulnerando todos los consejos que los poetas damos sobre la obligada distancia entre los hechos y el poema. Puesto que necesitaba hacerlo así y, además, ya empiezo a tener la edad de saltarme los consejos, he utilizado como garantía la vigilancia poética —que aquí agradezco— de mis amigos Pere Rovira, Paco Díaz de Castro, Ramón Andrés, Enrique Badosa, Luis García Montero, Antonio Jiménez Millán, Miguel Ángel y Ana del Arco, Isidor Cònsul, Maite Merodio y Jesús Munárriz, Àlex Susanna y Sam Abrams.Y de Almudena del Olmo, que, ante mis dudas, me dijo: No le des más vueltas y ponle por título lo que realmente es tu obsesión: Nunca más. Así se empezó titulando este libro, pero al final ha ganado el sencillo nombre de la protagonista frente al que, al fin y al cabo, no era más que una afirmación filosófica. Como me
ha recordado Sam Abrams, el mismo cuervo de Poe dice Nevermore, y nuestro Nunca más es Never again.

Joan Margarit – Um lugar perdido

UM LUGAR PERDIDO
In memoriam
Marta Ribalta i Taltavull (17-VIII-1946, 11-V-1999)
Joana Margarit i Ribalta (20-VIII-1970, 2-VI-2001)

Reluz o sol do conto de fadas
que para Marta foi esta casa
pequena e luminosa em frente aos campos.
Ninguém tocou em um único tronco
da lenha cortada e ordenada.
Joana fez um desenho para ela
onde lhe dizia: Que sejas muito feliz.
Quando Joana tinha dois anos éramos
tu e eu que lhe dizíamos:
Que sejas muito feliz.

Não é difícil imaginar que as duas
ainda estão aqui,
sentir a brisa das conversas
agitando o cortinado da porta.
Mas não há nada além de nossos olhos.
E os arranham velozes andorinhas
que agora se lançam
com seus chilreios entre as árvores frutíferas.

Trad.: Nelson Santander

UN LUGAR PERDIDO
In memoriam
Marta Ribalta i Taltavull (17-VIII-1946, 11-V-1999)
Joana Margarit i Ribalta (20-VIII-1970, 2-VI-2001)

Reluce el sol del cuento de la infancia
que para Marta fue esta luminosa,
pequeña casa enfrente de los campos.
Nadie ha tocado un solo tronco
de la leña cortada y ordenada.
Joana hizo un dibujo para ella
en donde le decía: Que seas muy feliz.
A los dos años éramos tú y yo
los que a Joana le decíamos:
Que seas muy feliz.

No es difícil pensar que, todavía,
siguen aquí las dos,
sentir la brisa de conversaciones
agitando el visillo de la puerta.
Pero no hay nada más que nuestros ojos.
Y los rayan veloces golondrinas
que ahora están lanzándose
con sus chillidos entre los frutales.

Joan Margarit – A espera

Muitas coisas estão sentindo a tua falta.
Cada dia é repleto de momentos que esperam
aquelas pequenas mãos
que seguraram as minhas tantas vezes.
Teremos de nos habituar à tua ausência.
Um verão já passou sem teus olhos
e o mar também terá que se acostumar.
Por muito tempo ainda,
a rua esperará diante de nossa porta,
pacientemente, pelos teus passos.
Não se cansará nunca de esperar:
ninguém sabe esperar como uma rua.
E a mim me domina este desejo
de que me toques e de que me olhes,
de que me digas o que fazer com minha vida,
enquanto os dias, com chuva ou céu azul,
já organizam a solidão.

Trad.: Nelson Santander

LA ESPERA

Muchas cosas te están echando en falta.
Cada día se llena de momentos que esperan
esas pequeñas manos
que cogieron las mías tantas veces.
Tendremos que avezarnos a tu ausencia.
Ya ha pasado un verano sin tus ojos
y el mar también tendrá que acostumbrarse.
Durante mucho tiempo todavía,
la calle esperará ante nuestra puerta,
con paciencia, tus pasos.
No se cansará nunca de esperar:
nada sabe esperar como una calle.
Y a mí me colma esta voluntad
de que me toques y de que me mires,
de que me digas qué hago con mi vida,
mientras los días van, con lluvia o cielo azul,
organizando ya la soledad.

Joan Margarit – Lápide

LÁPIDE
ANNA, 1967; JOANA, 1970-2001

Nossa memória guarda vossos nomes
em uma pequena praia que jamais
figurará nos mapas dos navios.
Quão próximas estais aqui, uma da outra,
minhas filhas, depois de tanto tempo.
Tão unidas agora, atrás de vossos nomes,
que olham para o mar
e que o sol lê a cada amanhecer.

Trad.: Nelson Santander

LÁPIDA
ANNA, 1967; JOANA, 1970-2001

Nuestra memoria guarda vuestros nombres
en una leve playa que jamás
figurará en los mapas de los barcos.
Qué cerca estáis aquí, la una de la otra,
hijas mías, después de tanto tiempo.
Tan juntas ya, detrás de vuestros nombres,
que miran hacia el mar
y que el sol lee cada amanecer.

Joan Margarit – Quadro com pássaros

A parede é, deste lado, escura e triste,
como naquela história
que um dia te contei. Fosse de verdade,
todos os pássaros que pintaste
estariam a tua espera do outro lado
cantando para ti:
acolher-te-ia aquela parte clara
de que falava a história
como o faríamos tua mãe e eu
se pudesses voltar para casa novamente.

Conto para mim mesmo esta história
enquanto olho para os últimos pássaros que pintaste.
Aqui, do lado sombrio da parede,
como poderia eu pagar por esta ilusão
de sentir-te na brisa de um momento?

Trad.: Nelson Santander

CUADRO CON PÁJAROS

El muro es, de este lado, oscuro y triste,
igual que en aquel cuento
que un día te expliqué. De ser verdad,
todos los pájaros que tú pintaste
te esperarían en el otro lado
cantando para ti:
te acogería esa parte clara
de la que hablaba el cuento
como lo haríamos tu madre y yo
si pudieses volver de nuevo a casa.

Me explico a mí mismo esta historia
mientras miro los últimos pájaros que pintaste.
Aquí, en el lado lóbrego del muro,
¿de qué forma podría pagar esta ilusión
de sentirte en la brisa de un momento?

Joan Margarit – O primeiro verão sem ti

I
Penhascos de um cinza esverdeado,
como grandes machados pré-históricos,
mergulham na água.
Como alguém descascando frutas,
a estrada recorta suas curvas
através das velhas colinas calcinadas.

O carro estaciona próximo ao mar
e no retrovisor não estão teus olhos.
Em frente, branco, La Gambina
com seu letreiro — HOTEL — azul
no alto, no telhado, mirando o amanhã.

II
Sentada diante das ondas:
as nuvens se acumulam sobre o povoado,
mas tu estás voltada para o horizonte,
ainda sob o céu do passado,
que é o nosso melhor momento.
O mar, as pessoas, as embarcações,
tudo está se movendo
neste último cartão postal de ti.

O vento ensaia rajadas
que sopram para longe um guarda-sol.
Gotas frias de chuva sobre a pele quente
são como um conselho maternal:
que os olhos recolham a sombra do perigo
em uma praia abandonada ao vento.

III
Joana, o temporal desliza agora
sob teus pés cansados.
Vejo-te fugir: lentamente
e cruzando os olhos da chuva.
De repente, já não estás na casa nem na praia,
teus retratos sorridentes são açoitados
pelos ventos do assombro.

Durante muitos anos prendeste tuas muletas
entre os pedregulhos para chegar ao mar.
Debaixo da ponte de ferro
— dir-te-ão as andorinhas mortas —
teu amado povoado de Colera
nunca mais se transformará para os teus olhos.

Trad.: Nelson Santander

PRIMER VERANO SIN TI

I
Acantilados de un verdoso gris,
igual que grandes hachas prehistóricas,
se hunden en el agua.
Como quien pela fruta,
la carretera va recortando sus curvas
por las viejas colinas abrasadas.

El coche se detiene junto al mar
y en el retrovisor no están tus ojos.
Enfrente, blanco, La Gambina
con su letrero —HOTEL— color azul
arriba, en la azotea, mirando hacia el mañana.

II
Sentada ante las olas:
las nubes se amontonan sobre el pueblo,
pero tú estás de cara al horizonte,
debajo aún del cielo del pasado,
que es nuestro mejor tiempo.
El mar, la gente, las embarcaciones,
todo se está moviendo
en esta última postal de ti.

El viento ensaya ráfagas
que se llevan volando una sombrilla.
Gotas frías de lluvia sobre la piel caliente
son como una advertencia maternal:
que los ojos recojan la sombra del peligro
en una playa abandonada al viento.

III
Joana, el temporal resbala ahora
bajo tus pies cansados.
Te veo huir: despacio
y cruzando los ojos de la lluvia.
De pronto ya no estás ni en casa ni en la playa,
tus retratos sonrientes
los baten tramontanas del espanto.

Durante muchos años clavaste tus muletas
entre cantos rodados para llegar al mar.
Bajo el puente de hierro
—te lo dirán las golondrinas muertas—
tu amado pueblo de Colera
nunca más cambiará para tus ojos.

Joan Margarit – Professor Bonaventura Bassegoda

Lembrei-me de você, alto e corpulento,
atrevido, sentimental. Na época, você
era uma autoridade em Alicerces Profundos.
Iniciava as aulas sempre assim:
Senhores, bom dia.
Hoje faz tantos anos, tantos meses
e tantos dias que minha filha morreu.

E costumava secar algumas lágrimas.
Tínhamos vinte anos, mais ou menos,
e o homem corpulento que você era,
chorando durante a aula,
nunca nos fez sorrir.
Há quanto tempo você já não conta o tempo?
Tenho pensado em nós,
hoje que sou uma amarga sombra sua
porque minha filha agora faz dois meses,
três dias e seis horas
que tem seus alicerces profundos na morte.

5 de agosto de 2001, à meia noite

Trad.: Nelson Santander

PROFESOR BONAVENTURA BASSEGODA

Le he recordado, alto y corpulento,
procaz, sentimental. Por entonces, usted
era una autoridad en Cimientos Profundos.
Iniciaba las clases siempre así:
Señores, buenos días.
Hoy hace tantos años, tantos meses
y tantos días que murió mi hija.

Y solía secarse alguna lágrima.
Teníamos veinte años, más o menos,
y el hombre corpulento que usted era
llorando en plena clase,
nunca nos hizo sonreír.
¿Cuánto hace ya que usted no cuenta el tiempo?
He pensado en nosotros,
hoy que soy una amarga sombra suya
porque mi hija ahora hace dos meses,
tres días y seis horas
que tiene sus profundos cimientos en la muerte.

5 de agosto de 2001, a las 12 de la noche

Joan Margarit – O presente e Forès

I
Manhã de verão nos campos.
E Mariona, com seu avental,
cavando no jardim, sob as rosas.
Mònica — aos doze — anda de bicicleta
na estrada para a aldeia,
e Joana e Carles — ambos com cinco — dormem.
Reluz o ar do feriado:
pela janela aberta para as árvores,
entre as folhas sopradas pela brisa,
escapa o piano das «Suites inglesas»,
e de repente sinto medo e tristeza
como se esta ordem fosse o grande bocejo
com o qual o futuro nos devora.

II
Passados trinta anos, uma vez mais
pela janela aberta ouve-se um piano
tocando as «Suites inglesas». Ela segue
cuidando de sua roseira. O ar sacode
a casa como faz em todos os verões.
Ao longe, na estrada, creio ver
a bicicleta dirigindo-se à aldeia,
enquanto suponho que os dois pequenos
estão dormindo no andar de cima, no chão.
Mas Mònica está, com seus dois filhos,
em Barcelona. Carles foi viajar.
E joana morreu.
É uma estranha combinação:
este momento — imóvel como o casco
afundado de um naufrágio —
e o outro, fugaz, violento, em minha cabeça.

III
Tento lembrar-me, mas as áreas
onde nada restou são demasiado vastas.
Um espelho vazio é a memória:
são apenas curtas e abafadas eclosões,
pois a grande e verdadeira memória
nada mais é do que a morte.
Os instantes perdidos estarão
sempre lá, construindo este jardim sem ninguém,
com a casa vazia, o sol nas janelas,
a assustada vida como um pássaro em fuga
pelo cenário do esquecimento.

Trad.: Nelson Santander

EL PRESENTE Y FORÈS

I
Mañana de verano entre los campos.
Y Mariona, con el delantal,
cavando en el jardín, bajo las rosas.
Mònica —doce años— va alejándose
por el camino al pueblo en bicicleta,
y Joana y Carles —cinco años— duermen.
Reluce el aire de las vacaciones:
por la ventana abierta hacia los árboles,
entre hojas removidas por la brisa,
se escapa el piano de las «Suites inglesas»,
y yo de pronto siento miedo y lástima
por si este orden fuese el gran bostezo
con el cual el futuro nos devora.

II
Pasados treinta años, otra vez,
por la ventana abierta se oye un piano
tocar las «Suites inglesas». Ella sigue
cuidando su rosal. El aire mece
la casa igual que el resto de veranos.
Lejos, en el camino, creo ver
la bicicleta yéndose hacia el pueblo,
mientras supongo que los dos pequeños
están durmiendo aún arriba, en el piso.
Pero Mònica está, con sus dos hijos,
en Barcelona. Carles se fue de viaje.
Y Joana murió.
Es una extraña mezcla:
este tiempo —inmóvil como el casco
hundido de un naufragio—
y otro fugaz, violento, en mi cabeza.

III
Intento recordar, pero las zonas
en las que nada queda son demasiado vastas.
Un espejo vacío es la memoria:
son sólo amortiguadas y breves eclosiones,
pues la memoria grande y verdadera
no es otra que la muerte.
Los instantes perdidos estarán
siempre allí, construyendo ese jardín sin nadie,
con la casa vacía, el sol en las ventanas,
la asustadiza vida como un pájaro en fuga
por la escenografía del olvido.

Joan Margarit – Canção de ninar

Dorme, Joana.
E que este «Loverman» — sombrio e trágico
do sax do teu irmão em Montjuïc —
possa acompanhar-te
por toda a eternidade pelos caminhos
que só a música conhece.
Dorme, Joana, dorme.
E, se possível, não te esqueças
de teus anos no ninho
que dentro de nós tu deixaste.
Envelhecer será também reter
as cores que um dia brilharam em teus olhos.
Dorme, Joana. Esta é a nossa casa,
e a tudo ilumina o teu sorriso.
És um silêncio acolhedor onde agora esperamos
abaular as pedras da dor
para que aquilo que foste seja música,
a música que preenche o nosso inverno.

Trad.: Nelson Santander

CANCIÓN DE CUNA

Duerme, Joana.
Y que este «Loverman» —oscuro y trágico
del saxo de tu hermano en Montjuïc—
te pueda acompañar
toda la eternidad por los caminos
que tan sólo la música conoce.
Duerme, Joana, duerme.
Y a poder ser no olvides
tus años en el nido
que dentro de nosotros has dejado.
Envejecer será también guardar
los colores que un día brillaron en tus ojos.
Duerme, Joana. Ésta es nuestra casa,
y todo lo ilumina tu sonrisa.
Es un silencio amable donde ahora esperamos
redondear las piedras del dolor
para que cuanto fuiste sea música,
la música que llene nuestro invierno.