XXIII
O vasto mundo: um grão de areia no espaço.
A ciência dos homens: palavras.
Os povos,os animais, as flores dos sete climas: sombras.
O profundo resultado da tua meditação: nada.
Trad.: Alfredo Braga
XXIII
O vasto mundo: um grão de areia no espaço.
A ciência dos homens: palavras.
Os povos,os animais, as flores dos sete climas: sombras.
O profundo resultado da tua meditação: nada.
Trad.: Alfredo Braga
Onde está a memória dos dias,
que foram teus na terra e teceram
fortuna e mágoa, e foram para ti o universo?
O rio numerável dos anos
os perdeu: foste uma palavra num índice.
A outros deram glória interminável os deuses,
inscrições e exergos e monumentos e historiadores pontuais;
de ti somente sabemos, obscuro amigo,
que ouviste o rouxinol numa tarde.
Entre os asfódelos da sombra, a tua sombra vã
pensará que os deuses foram avaros.
Porém os dias são uma rede de misérias triviais –
e haverá sorte melhor do que ser a cinza
de que se faz o olvido?
Sobre outros lançaram os deuses
a inexorável luz da glória, que mira as entranhas e enumera as fendas –
da glória, que acaba por fazer murchar a rosa que venera;
contigo foram mais piedosos, irmão.
No êxtase de um entardecer que não será uma noite,
ouves a voz do rouxinol de Teócrito.
Trad.: Renato Suttana
Não haverá uma porta. Já estás dentro,
Mas o alcácer abarca o universo
E não tem nem anverso nem reverso
Nem muro externo nem secreto centro.
Não penses que o rigor do teu caminho
Que fatalmente se bifurca em outro,
Que fatalmente se bifurca em outro,
Terá fim. É de ferro o teu destino
Como o juiz. Não creias na investida
Do touro que é um homem cuja estranha
Forma plural dá horror a essa maranha
De interminável pedra entretecida.
Não virá. Nada esperes. Nem te espera
No escuro do crepúsculo uma fera.
Torne-me à boca o verso castelhano,
A dizer o que sempre está dizendo
Desde o latim de Sêneca: o horrendo
Ditame de que o verme é soberano.
Torne a cantar a palidez da cinza,
Os fastígios da morte e a vitória
Da rainha retórica que pisa
Os estandartes ocos da vanglória.
Não assim. O meu barro agradecido
Eu não o vou negar como um covarde.
Sei que não há uma coisa: é o olvido.
Sei que na eternidade dura e arde
O muito e o melhor por mim perdido:
Esta frágua, esta lua e esta tarde.
Efêmero é algo breve, de curta duração. Efêmera é a tua história na história da humanidade. A humanidade é efêmera. Tudo o que é material é efêmero. Também o imaterial: um olhar, um gesto, uma saudação, um beijo, um orgasmo. As coisas que são e as que não são mais, mas que foram um dia: aqueles dias na praia, aquele deus a quem tu rezaste, aquela excitação que sentiste e até a próxima pessoa que irás conhecer. São efêmeros os teus seguidores e os “likes” de teu perfil… O efêmero nos prende, nos apaixona, precisa de nós. Tudo sucumbe ante a fragilidade do tempo. O tempo torna efêmera toda existência e pensamento, como um nascimento. E o nascimento de um palhaço é um ato de fé que raras vezes ocorre neste mundo em constante movimento. Assim começa esse espetáculo onde as palavras desaparecem, a emoção e a improvisação se tornam a linguagem principal e o tempo se transforma na urgência de viver. Cuco, é aquele palhaço que te olha nos olhos para que você reflita sobre ele. Ele só quer brincar, aprender, experimentar, fracassar. E sobretudo divertir-se com um público que frequentemente esqueceu o significado de rir como uma criança. Porque o riso também é efêmero. E é por isso que ele é tão desejado. Bem-vindo ao teatro, senta-te e deixa-te levar.
Texto de apresentação da peça “Cucko, cuando lo efímero se detiene”, de Francis J. Quirós
Efímero
Efímero, es algo breve, de poca duración. Efímera es tu historia en la historia de la humanidad. La humanidad es efímera. Todo lo material es efímero. También lo inmaterial: una mirada, un gesto, un saludo, un beso, un orgasmo. Las cosas que son y las que ya no son pero fueron algún día: esos días en la playa, ese dios al que rezasteis, esa euforia que sentisteis e incluso la próxima persona que conozcas. Son efímeros tus seguidores y los “likes” de tu perfil… Lo efímero nos engancha, nos enamora, nos necesita. Todo sucumbe ante la fragilidad del tiempo. El tiempo convierte en efímero toda existencia y pensamiento, como un nacimiento. Y el nacimiento de un payaso es un acto de fe que pocas veces sucede en este veloz mundo. Así comienza este espectáculo donde la palabra desaparece, la emoción y la improvisación se convierten en el lenguaje principal y el tiempo se transforma en la urgencia de vivir. Cucko, es ese payaso que te mira a los ojos para que te reflejes en él. Sólo quiere jugar, aprender, experimentar, fracasar. Y sobre todo divertirse con un público que, a veces, ha olvidado qué es eso de reír como un niño o una niña. Porque la Risa, también es efímera. Y por eso todos la deseamos con tanta fuerza. Bienvenidos al teatro, siéntate y déjate llevar.