Thomas Lux – Irreconciliabilidade

Não importa o que você faça,
não é possível retê-lo por muito tempo,
nem trazê-lo de volta.

O céu, o céu vazio,
quase azul, as casas modestas do sono,
cobertas de musgo, irão chamá-lo.

Não importa o quanto você ame,
este amor vai passar, vai passar,
seus amigos imortalizados,

partiram, se perderam. Incandescem os verãos
e os anos, e tudo o que você conhece
desaparece, ferido pela escuridão.

Não importam filhos, esposa,
ou arte. O rio serpenteia
e serpenteia novamente rumo ao mar.

O suave estalar de lábios de vermes,
os pés de uma aranha sobre
uma folha; você vê, você ouve.

Não importam bênçãos, raiva,
ou repouso: os mortos permanecem mortos.
Você caminha, espinha firme, você se ajoelha,

encosta o ouvido no
chão. Deus vive ali?
Deus vive em algum lugar?

Trad.: Nelson Santander

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Irreconcilabilia

No matter what you do
you cannot hold it long
or take it back again.

The sky, the barely blue
blank sky, the tight moss-bound
houses of sleep, will call.

No matter how hard you love,
that love will pass, will pass,
your friends imparadised,

gone, lost. The summers blaze,
the years, and what you know
grows dim, hurt by the dark.

No matter child, or wife,
or art. The river bends
and bends again seaward.

The soft lip-click of worms,
a spider’s feet across
a leaf; you see, you hear.

No matter blessings, rage,
or rest: the dead stay dead.
You walk, spine alive, you kneel,

you lay your ear down on
the ground. Does God live there?
Does God live anywhere?

Thomas Lux – “Ti amo Coração”

Um homem arriscou sua vida para escrever essas palavras.
Um homem pendurado de cabeça para baixo (um amigo idiota
segurando-o pelas pernas?) com tinta spray
escreveu tais palavras em uma viga quinze metros acima
de uma rodovia. E sua amada,
na manhã seguinte, a caminho do trabalho…?
Suas palavras não são (eram pra ser) tão originais.
Ela terá reconhecido a caligrafia dele?
Teria ele sugerido algo à sua porta, na noite anterior,
sobre “algo especial, meu bem, amanhã”?
E ele ligou no trabalho dela esperando
que ela ficasse emocionada
com sua homenagem, sua paixão, seu risco?
Agora ela saberá que a amo,
mundo saberá do meu amor por ela!
Um homem arriscou sua vida para escrever as palavras.
O amor é assim, no âmago, espera-se, o amor
é assim, Coração, todo tolo e doloroso
e perigoso, inflamado, abençoado – sempre,
sempre, sem exceções,
sempre em assuntos ardentes como este: abençoado.

Trad.: Nelson Santander

“I Love You Sweatheart”

A man risked his life to write the words.
A man hung upside down (an idiot friend
holding his legs?) with spray paint
to write the words on a girder fifty feet above
a highway. And his beloved,
the next morning driving to work…?
His words are not (meant to be) so unique.
Does she recognize his handwriting?
Did he hint to her at her doorstep the night before
of “something special, darling, tomorrow”?
And did he call her at work
expecting her to faint with delight
at his celebration of her, his passion, his risk?
She will know I love her now,
the world will know my love for her!
A man risked his life to write the words.
Love is like this at the bone, we hope, love
is like this, Sweetheart, all sore and dumb
and dangerous, ignited, blessed – always,
regardless, no exceptions,
always in blazing matters like these: blessed.

Thomas Lux – As pessoas da outra aldeia

odiamos as pessoas desta aldeia
e pregaríamos os chapéus
às nossas cabeças por nos recusarmos a remove-los em sua presença
ou grampearíamos as mãos às nossas testas
por nos recusarmos a cumprimenta-los
se não os feríssemos primeiro: enviamos-lhes pacotes de ratos
e, à noite, misturamos vidro moído à sua farinha.
Nós fazemos isto, eles, aquilo.
Eles arrancam a laringe da garganta de um de nossos irmãos.
Nós evisceramos uma de suas irmãs.
Os poços de areia movediça que eles fabricaram eram bons.
Nossas equipes de amputação eram melhores.
Treinamos alguns pássaros para roubar-lhes o trigo.
Eles nos enviaram embaixadores-de-paz-bomba.
Eles fazem isto, nós, aquilo.
Nós cancelamos a importação de ovelhas.
Eles já não compram nossos cobertores.
Nós zombamos do seu maior poeta
e quando isso não surtiu efeito
parodiamos a forma como eles dançam,
causando-lhes dor, pelo que, por sua vez, disseram que nosso Deus
era leproso, careca.
Nós fazemos isto, eles, aquilo.
Dez mil (10.000) anos, dez mil
(10.000) anos belos e brutais.

Trad.: Nelson Santander

The People of the Other Village

hate the people of this village
and would nail our hats
to our heads for refusing in their presence to remove them
or staple our hands to our foreheads
for refusing to salute them
if we did not hurt them first: mail them packages of rats,
mix their flour at night with broken glass.
We do this, they do that.
They peel the larynx from one of our brothers’ throats.
We devein one of their sisters.
The quicksand pits they built were good.
Our amputation teams were better.
We trained some birds to steal their wheat.
They sent to us exploding ambassadors of peace.
They do this, we do that.
We canceled our sheep imports.
They no longer bought our blankets.
We mocked their greatest poet
and when that had no effect
we parodied the way they dance
which did cause pain, so they, in turn, said our God
was leprous, hairless.
We do this, they do that.
Ten thousand (10,000) years, ten thousand
(10,000) brutal, beautiful years.