Francisco Brines – A Piedade do Tempo

Em que escuro recanto do tempo que morreu
vivem ainda,
a arder, aquelas coxas?

Dão luz ainda
a estes olhos tão velhos e enganados,
que voltam agora a ser o milagre que foram:
desejo de uma carne, e a alegria
do que não se nega.

A vida é o naufrágio de uma obstinada imagem
que já nunca saberemos se existiu,
pois só pertence a um lugar extinto.

Trad.: José Bento

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 07/03/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Francisco Brines – La piedad del tiempo

¿En qué oscuro rincón del tiempo que ya ha muerto
viven aún,
ardiendo, aquellos muslos?

Le dan luz todavía
a estos ojos tan viejos y engañados,
que ahora vuelven a ser el milagro que fueron:
deseo de una carne, y la alegría
de lo que no se niega.

La vida es el naufragio de una obstinada imagen
Que ya nunca sabremos si existió,
Pues sólo pertenece a un lugar extinguido.

Francisco Brines – Aquele verão de minha juventude

E o que restou daquele distante verão
nas costas da Grécia?
O que resta em mim do único verão de minha vida?
Se pudesse escolher, de todos em que vivi,
algum lugar, e o tempo que o ata,
sua milagrosa companhia me arrasta até lá,
onde ser feliz era a razão natural de existir.

Perdura a experiência, como um quarto fechado da infância;
não resta mais a lembrança de dias sucessivos
nesta sucessão medíocre dos anos.
Hoje sinto essa carência,
e busco na ilusão algum resgate
que me permita ainda olhar para o mundo
com o amor necessário;
E assim saber-me digno do sonho da vida.

De tudo o que foi ventura, daquele lugar de alegria,
saqueio avaramente
sempre uma única imagem:
seus cabelos agitados pelo vento,
e o olhar fixo no mar.
Tão só esse momento indiferente.
Selada nele, a vida.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 15/02/2019.

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog.

Aquel verano de mi juventud

Y qué es lo que quedó de aquel viejo verano
en las costas de Grecia?
¿Qué resta en mí del único verano de mi vida?
Si pudiera elegir de todo lo vivido
algún lugar, y el tiempo que lo ata,
su milagrosa compañía me arrastra allí,
en donde ser feliz era la natural razón de estar con vida.

Perdura la experiencia, como un cuarto cerrado de la infancia;
no queda ya el recuerdo de días sucesivos
en esta sucesión mediocre de los años.
Hoy vivo esta carencia,
y apuro del engaño algún rescate
que me permita aún mirar el mundo
con amor necesario;
y así saberme digno del sueño de la vida.

De cuanto fue ventura, de aquel sitio de dicha,
saqueo avaramente
siempre una misma imagen:
sus cabellos movidos por el aire,
y la mirada fija dentro del mar.
Tan sólo ese momento indiferente.
Sellada en él, la vida.

Francisco Brines – Os Verões

A Carmen Marí

Foram longos e ardentes os verões!
Ficamos nus juntos ao mar,
e o mar ainda mais nu. Com os olhos,
e em corpos ágeis, praticávamos
a mais prazerosa posse do mundo.

Éramos tocados por vozes banhadas de lua,
e era a vida vulcânica e violenta,
ingratos com o sonho, fluíamos.
O ritmo sombrio das ondas
nos abrasava eternamente, e éramos apenas tempo.
As estrelas se apagavam ao amanhecer
e, com a luz que fria retornava,
furioso e delicado se iniciava o amor.

Hoje parece um engano que fôssemos felizes
ao modo imerecido dos deuses.
Que estranha e breve foi a juventude!

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO, com alterações na tradução: poema publicado na página originalmente em 03/01/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Los Veranos

¡Fueron largos y ardientes los veranos!
Estábamos desnudos junto al mar,
y el mar aún más desnudo. Con los ojos,
y en unos cuerpos ágiles, hacíamos
la más dichosa posesión del mundo.

Nos sonaban las voces encendidas de luna,
y era la vida cálida y violenta,
ingratos con el sueño transcurríamos.
El ritmo tan oscuro de las olas
nos abrasaba eternos, y éramos solo tiempo.
Se borraban los astros en el amanecer
y, con la luz que fría regresaba,
furioso y delicado se iniciaba el amor.

Hoy parece un engaño que fuésemos felices
al modo inmerecido de los dioses.
¡Qué extraña y breve fue la juventud!

Francisco Brines – O Triunfo do Amor

Eu te amei em Queroneia. Vivos éramos.
Em meio à tristeza derruída,
um sopro mortal: éramos vivos.
Séculos se passaram, e outros olhos
contemplam as ruínas, ainda intactas.
Quem percorreu este lugar? Apenas o vazio
foi o tecido do tempo nesta planície.

Eu te amei em Queroneia. Impalpável
era o calor das cinzas humanas,
e na manhã solitária jazem
sombras de colunas tombadas, corpos
ardentes sob sua sombra. Quantas
mortes teriam que ocorrer? Apagou-se
tua bela juventude, ventou na minha,
aqui nada perdurou, onde buscamos
que o coração se acelere, como
se fosse o único sinal de vida.

Na manhã solitária, amados,
acelerai o coração, como
se fosse o único sinal de vida.
Apenas o vazio é duradouro.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO, com alterações na tradução: poema publicado na página originalmente em 19/11/2018

El Triunfo Del Amor

Yo te amé en Queronea. Vivos éramos.
Entre la pesadumbre derruida
Un hálito mortal: éramos vivos.
Los siglos han pasado, y otros ojos
Contemplan las ruinas, aún intactas.
¿Quién aquí transcurrió? Sólo el vacío
fue el tejido del tiempo en este llano.

Yo te amé en Queronea. Impalpable
era el calor de la ceniza humana,
y en la mañana solitaria yacen
sombras de fustes derribados, cuerpos
ardientes fuimos en su sombra. Cuánta
muerte tendría que llegar, borró
tu hermosa juventud, sopló en la mía,
nada perduró aquí, donde buscamos
que el corazón se acelere, como
si fuese el solo signo de la vida.

En la mañana solitaria, amaros,
acelerad el corazón, como
si fuese el solo signo de la vida.
Perdurable tan sólo es el vacío.

Francisco Brines – “Collige, virgo, rosas”*

Já estás com quem desejas. Ri e goza. Ama.
E inflama-te na noite que agora se inicia,
e entre tantos amigos (e comigo)
abre os grandes olhos para a vida
com a avidez preciosa dos teus anos.
A noite, longa, extinguir-se-á com a aurora,
e virão esquadrões de espiões com a luz,
apagar-se-ão as estrelas, e também a lembrança,
e a alegria findará em nada.
Mas, mesmo que isso ocorra, inflama-te na noite,
pois por trás do esquecimento pode ser que ela renasça,
e a recuperarás pura, e aumentada em beleza,
se nela, por acaso, que será tua escolha,
selares a vida com o melhor que tiveste,
quando a noite humana se extinguir por completo,
e chegar esta outra luz, rancorosa e estranha,
que antes que a conheças, eu já terei conhecido.

N. do T.: “Collige, virgo, rosas” é uma citação em latim do poeta romano Virgílio, que significa “Colhe, donzela, as rosas”.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO, com alterações na tradução: poema publicado na página originalmente em 26/08/2018

“Collige, virgo, rosas”

Estás ya con quien quieres. Ríete y goza. Ama.
Y enciéndete en la noche que ahora empieza,
y entre tantos amigos (y conmigo)
abre los grandes ojos a la vida
con la avidez preciosa de tus años.
La noche, larga, ha de acabar al alba,
y vendrán escuadrones de espías con la luz,
se borrarán los astros, y también el recuerdo,
y la alegría acabará en su nada.
Mas, aunque así suceda, enciéndete en la noche,
pues detrás del olvido puede que ella renazca,
y la recobres pura, y aumentada en belleza,
si en ella, por azar, que ya será elección,
sellas la vida en lo mejor que tuvo,
cuando la noche humana se acabe ya del todo,
y venga esa otra luz, rencorosa y extraña,
que antes que tú conozcas, yo ya habré conocido.

Francisco Brines – Os Prazeres Inferiores

Não desdenhes as paixões vulgares
Tens os anos necessários para saber
que elas se correspondem exatamente com a vida.
Não reduzas sua ação,
pois se do breve tempo em que consistes
as retiras,
é ainda o existir mais imperfeito.
Descobre sua verdade por trás da aparência,
e assim não haverá falsidade,
não poderás fingir que foi razão de vida o que foi só passagem.
Mas elas evitaram-te o fiel tédio das horas.

Exigem lucidez, não em sua experiência,
mas em seu escasso ser;
dá-lhes seu exato valor,
para o que tens de saber o que a vida vale
e essa sabedoria há muito que é tua.
Se cometes um erro quando as medes,
hás-de fazê-lo atendendo à degradação.
Nunca melhores o que vale pouco.
E que não tenham nome, nem tempo demorado,
e fiquem confundidas em sua promiscuidade.
Sabes que tua memória é débil e te ajuda.
São todas uma só,
como é única a vida.
E as outras paixões que merecem um nome
e o abrigo de um tempo,
salva-as longe delas,
e sempre te recordem o que a vida não é.
E agradece tais erros à vida.

Trad.: José Bento

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 23/08/2018

Los Placeres Inferiores

No desdeñes las pasiones vulgares.
Tienes los años necesarios para saber
que ellas se corresponden exactamente con la vida.
No reduzcas su acción,
pues si del breve tiempo en que consistes
las sustraes,
es todavía el existir más deficiente.
Descubre su verdad tras la apariencia,
y así no habrá falsía,
y no podrás mentir que fue razón de vida lo que sólo fue tránsito.
Mas ellas te evitaron el fiel aburrimiento de las horas.
Exigen lucidez, no en su experiencia,
sino en su escaso ser;
valóralas exactas,
para lo cual has de saber lo que la vida vale,
y esa sabiduría hace tiempo que es tuya.
Si cometes error cuando las midas,
hazlo siempre en tendencia de la degradación.
Nunca mejores lo que vale poco.
Y que no tengan nombre, ni tiempo detenido,
y queden confundidas en su promiscuidad.
Sabes que tu memoria es débil, y te ayuda.
Todas son una sola,
como es una la vida.
Y las otras pasiones, que merecen un nombre
y el cobijo de un tiempo,
sálvalas lejos de ellas,
y siempre te recuerden lo que la vida no es.
Y agradece a la vida esos errores.

Francisco Brines – Esplendor negro

Somente uma vez experimentaste aquele Esplendor negro,
e intermitentemente recordas a experiência com imprecisão,
aproximações difusas, iminências,
e assim, desde a tua juventude, arrastas frio
um invisível manto escarlate de cinzas.
E não foi necessário cegar os olhos,
pois das brancas luzes das estrelas
chegou aquele delírio, a possibilidade mais exata e singela:
em vez de Deus ou do mundo
aquele negro Esplendor,
que nem sequer é um ponto, pois não há nele espaço,
nem se pode nomear, porque não se expande.
Serenidade e Vertigem têm o mesmo valor,
pois as palavras já estão ditas desde a aurora da terra,
e as palavras são apenas a expressão de um engano.
Voltar para o centro daquilo é ir para a periferia da vida
sem conhecer a vida, um não-mundo impossível,
pois somente não ter nascido poderia aproximar-te desta experiência.
Criar a inexistência e sua totalidade
não te fez poderoso,
nem derramou teu pranto, e nada redimiste.
A mesma incompreensão ao contemplar o mundo
produziu em ti o terror daquele Esplendor negro,
e aquele desamparo ao cobrirem-te os lençóis.

Trad.: Nelson Santander

Esplendor negro

Sólo una vez pudiste conocer aquel Esplendor negro,
e intermitentemente recuerdas la experiencia con vaguedad,
aproximaciones difusas, inminencias,
y así, desde tu juventud, arrastras frío,
un invisible manto de ceniza escarlata.
Y no fue necesario cegar los ojos,
pues de las luces claras de los astros
llegó el delirio aquel, la posibilidad más exacta y sencilla:
en vez de Dios o el mundo
aquel negro Esplendor,
que ni siquiera es punto, pues no hay en él espacio,
ni se puede nombrar, porque no se dilata.
Valen igual Serenidad y Vértigo,
pues las palabras están dichas desde la noche de la tierra,
y las palabras son tan solo expresión de un engaño.
Volver al centro aquel es ir por las afueras de la vida,
sin conocer la vida, un no mundo imposible,
pues sólo el no nacer te pudiera acercar a esa experiencia.
Crear la inexistencia y su totalidad,
no te hizo poderoso,
ni derramó tu llanto, y nada redimiste.
La misma incomprensión que contemplar el mundo
te produjo el terror de aquel Esplendor negro,
y aquel desvalimiento al cubrirte las sábanas.

Francisco Brines – A realidade não permanece

Esta tarde rebelde me leva a Bath
e a ti, mas não à cidade de ruas
tranquilas, nem a quem tu deves ser hoje.
O quarto fica maior na penumbra
enquanto chove suavemente na rua.
Há, na lareira, um fogo que aquece
nossos corpos nus, e que ilumina
o vasto espaço de forma insuficiente.
És a luz que o fogo de teus cabelos
e o íntimo repouso dos lençóis merecem; sobre o tapete,
e contra o vermelho ardente, fazes teu corpo dançar.
Deitas-te ou caminhas, e conversas
subitamente séria, teu sorriso me ouve.
Como se o mundo fosse apenas um vão excesso
em nossas existências solitárias.

Agora que só em nossas vidas
existe tal mundo.
Ou encontraste, de novo, as paredes
do mesmo quarto em um país estranho?
Se contigo o acaso foi tão benigno,
extremo foi seu rigor com quem se lembra
de uma tarde tão longa em Bath,
que penetrou a noite, até as luzes quebradas
de um dia quase eterno.
Aquele quarto, que, por acaso, guarda agora
apenas a memória viva de um único habitante:
aquele que contemplou, de uma cama vazia,
a escassa realidade de um fogo extinto.

Trad.: Nelson Santander

La realidad no permanece

Esta revuelta tarde me lleva a Bath
y a ti, pero no a la ciudad de reposadas
calles, ni a quien tú debes ser en el día de hoy.
La habitación se agranda en la penumbra
mientras llueve en la calle suavemente.
Hay, en la chimenea, un fuego que calienta
nuestros cuerpos desnudos, y que alumbra
el vasto espacio con insuficiencia.
Es la luz que merecen las llamas de tu pelo
y el íntimo reposo de las sábanas; sobre la alfombra,
y contra el rojo ardiente, haces tu cuerpo danza.
Te tiendes o caminas, y conversas
con repentina seriedad, me escucha tu sonrisa.
Como si el mundo fuese sólo un exceso vano
en nuestras solas existencias.
Ahora que sólo en nuestras vidas hay
la existencia del mundo.
¿O acaso has encontrado, de nuevo, las paredes
de igual habitación en un país extraño?
Si contigo el azar fue tan benigno
extrema su rigor con quien recuerda
una tarde tan larga en Bath,
que penetró en la noche, hasta las luces rotas
de un día casi eterno.
Aquella habitación, que, acaso, guarda ahora
sólo el recuerdo vivo de un único habitante:
ese que contemplaba, desde un lecho vacío,
la escasa realidad de un destruido fuego.

Francisco Brines – Últimos dias

Na herdade ele confina a memória
e o corpo que declina. Tudo morre
sobre este mundo vivo; e a laranjeira,
e o voo do pombo, são traspassados
por um raio outonal de azul.
Acompanham-lhe os livros; as caminhadas
trazem até ele o odor de rosas abertas,
e o suave abatimento dos dias.
Ele ardeu na solidão, e agora escuta
a primavera viva dos melros.
Dias há em que foge de casa,
e no sul, próximo às águas, onde habitam
os jovens, ele se hospeda. Aprecia-lhes
a nudez, suas risadas, a ilusão
que depositam na vida. E eles tocam
nele uma estranheza, seu olhar
vivo, a abolição do entusiasmo.
A Cidade dos Jovens não dorme,
é fogo e é silêncio enquanto o hóspede
se prepara para retornar. Em sua alcova,
retomará a lenta despedida
da vida. Com rosas, e pombos,
e o único desejo que ainda o tenta:
seu próximo retorno à Cidade.
Uma noite, tenta um poema
pessoal, embora vago, como se escrito
por ele, quando jovem, pressentindo
os dias venturosos da velhice.
E é o último engano de sua vida.

Trad.: Nelson Santander

Días Finales


En la heredad recluye la memoria
y el cuerpo que declina. Todo muere
sobre este mundo vivo; y el naranjo,
y el vuelo del palomo, es traspasado
por un rayo otoñal desde el azul.
Se acompaña de libros; los paseos
llevan a él olor de abiertas rosas,
y el suave abatimiento de los días.
Ardió en la soledad, y ahora escucha
la primavera viva de los mirlos.
Algunos días huye de la casa,
y al sur, junto a las aguas, donde habitan
los jóvenes se hospeda. Agradece
su desnudez, sus risas, el engaño
que tienen de la vida. Y ellos tocan
en él una extrañeza, su mirada
viva, la abolición del entusiasmo.
La Ciudad de los Jóvenes no duerme,
es fuego y es silencio, cuando el huésped
se dispone al regreso. En su alcoba
recobrará la lenta despedida
de la vida. Con rosas, y palomos,
y el único deseo que aún le tienta:
su próximo regreso a la Ciudad.
Alguna noche intenta algún poema
personal, aunque vago, como escrito
por él, cuando era joven, presintiendo
los días venturosos de vejez.
Y es el último engaño de su vida

Francisco Brines – Discurso pagão

Achais, por acaso, que por crerdes
na imortalidade
ela vos deve ser dada?
Ela é obra da fé, do egoísmo
ou da desolação.
E, se existe, não importa não haverdes nela acreditado:
respostas ignorantes são todas humanas
se a morte interroga.

Continuai com vossos faustosos ritos, oferendas aos deuses,
ou grandes monumentos funerários,
as acolhedoras preces, vossa esperança cega.
Ou aceitai o vazio que virá,
onde nem mesmo um vento estéril soprará.
O que há de vir pertencerá a todos,
pois não há mérito em nascer
e nada justifica nossa morte.

Trad.: Nelson Santander

Alocución pagana

¿Es que, acaso, estimáis que por creer
en la inmortalidad,
os tendrá que ser dada?
Es obra de la fe, del egoísmo
o la desolación.
Y si existe, no importa no haber creído en ella:
respuestas ignorantes son todas las humanas
si a la muerte interroga.

Seguid con vuestros ritos fastuosos, ofrendas a los dioses,
o grandes monumentos funerarios,
las cálidas plegarias, vuestra esperanza ciega.
O aceptad el vacío que vendrá,
en donde ni siquiera soplará un viento estéril.
Lo que habrá de venir será de todos,
pues no hay merecimiento en el nacer
y nada justifica nuestra muerte.