Naquele Outubro
em que escolheu ser livre
na grama alta e seca junto ao pomar
você disse “quem sabe um dia, talvez daqui a dez anos”.
Terminada a universidade te vi
só mais uma vez. Você estava estranha.
E eu obcecado com um projeto.
Agora se passaram os tais dez anos
e até mais um pouco: eu sempre soube
onde você estava –
Devia ter ido te ver
movido pela esperança de recuperar seu amor.
Você continua solteira.
Mas não fiz nada disso.
Só em sonhos, como esta madrugada,
a intensidade terrível
de nosso amor de garotos
me ocupa de novo a mente, a carne.
Tivemos aquilo que todos
se esforçam tanto para ter;
e abandonamos tudo para trás aos dezenove anos.
Me sinto com mil anos, como se tivesse
vivido muitas vidas.
E talvez nunca descubra
se sou um idiota
ou fiz o que exigia
o meu karma.