Tu tens um medo: Acabar. Não vês que acabas todo o dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que te renovas todo o dia. No amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que és sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas. Até não teres medo de … Continue lendo Cecilia Meireles – Cântico VI
Mês: outubro 2017
Ferreira Gullar – Traduzir-se
Uma parte de mim é todo mundo; outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera; outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta; outra parte se espanta. Uma parte de mim é permanente; outra parte se sabe … Continue lendo Ferreira Gullar – Traduzir-se
Orides Fontela – Kant (relido)
Duas coisas admiro: a dura lei cobrindo-me e o estrelado céu dentro de mim.
Frank O’Hara – Autobiographia Literaria
Quando era menino eu brincava sozinho num canto do pátio da escola sem ninguém. Odiava bonecas e odiava jogos, os bichos eram hostis e os pássaros fugiam. Se alguém me procurava eu me escondia atrás de uma árvore e gritava "Sou um órfão." E olha eu aqui, o centro de toda beleza! escrevendo estes versos! … Continue lendo Frank O’Hara – Autobiographia Literaria
Maya Angelou – Ainda assim me Levanto
Você pode me inscrever na história Com as mentiras amargas que contar Você pode me arrastar no pó, Ainda assim, como pó, vou me levantar Minha elegância o perturba? Por que você afunda no pesar? Porque eu caminho como se eu tivesse Petróleo jorrando na sala de estar Assim como a lua ou o sol … Continue lendo Maya Angelou – Ainda assim me Levanto
Emily Dickinson – Morri pela Beleza
Morri pela Beleza - e assim que no Jazigo Meu Corpo foi fechado, Um outro Morto foi depositado Num Túmulo contíguo - "Por que morreu?" murmurou sua voz. "Pela Beleza" - retruquei - "Pois eu - pela Verdade - É o Mesmo. Nós Somos Irmãos. É uma só lei" - E assim Parentes pela Noite, … Continue lendo Emily Dickinson – Morri pela Beleza
Wislawa Szymborska – O Terrorista, Ele Observa
A bomba vai explodir no bar às treze e vinte. Agora são só treze e dezesseis. Alguns ainda terão tempo de entrar; alguns de sair. O terrorista já passou para o outro lado da rua. A distância o livra de todo mal e a vista, bom, é como no cinema: Uma mulher de jaqueta amarela, … Continue lendo Wislawa Szymborska – O Terrorista, Ele Observa
Ana Martins Marques – Penélope (I)
O que o dia tece, a noite esquece. O que o dia traça, a noite esgarça. De dia, tramas, de noite, traças. De dia, sedas, de noite, perdas. De dia, malhas, de noite, falhas.
Ana Martins Marques – Batata Quente
Se eu te entregasse agora o meu amor aceso como ele está, como ele está, pesado, você o trocaria rapidamente de mão, você o guardaria um pouco na esquerda, um pouco na direita, por quanto tempo antes de o passar adiante?
Raymond Carver – O que o Médico Disse
Ele disse não parece bom ele disse parece mau aliás muito mau ele disse eu contei trinta e dois deles em um pulmão antes de parar de contar eu disse fico feliz não ia querer saber que tem mais do que isso lá ele disse por acaso você é religioso você se ajoelha em bosques … Continue lendo Raymond Carver – O que o Médico Disse