Albert Katz – Ao chegar aos 70

foi por volta do meu 70º aniversário
que percebi que já não tinha mais 40

que o lastro que me mantivera estável por tanto tempo
havia mudado

que as pessoas que eu conjurei dos meus 20 anos
não eram mais dinâmicos dínamos carnais
reanimados em encontros revisionistas atemporais

no meu 70º aniversário, velhos amigos começaram a me ligar
relembrando
os camaradas e amantes mortos

comidos vivos pelo câncer de cólon, esqueléticos e em sofrimento, pendurados em uma corda amarrada
ao trinco da porta de um banheiro, desorientados pelas drogas em um abandonado hospital para tratamento de AIDS,
com câncer crescendo no cérebro, fazendo piadas até o fim, em agonia,

sangrando ao lado de uma estrada rural atingido por um garoto bêbado jovem demais para dirigir
que disse não ter visto o corredor pois tinha sido cegado pelo sol e tudo mais

quando cheguei aos 40
todos aqueles camaradas
e amantes
estavam vivos e pensavam que viveriam para sempre
inconvenientemente curiosos sobre minha situação
se minha vida estava saindo como eu esperava

porque aos 40
era aparentemente
a hora
de fazer um balanço dessas questões

e acho que o consenso
foi o de que se o meu progresso na vida
não era bem um A
era certamente um sólido B
ou talvez um B+

e zaz
chegou a isto
minha carreira descendo pela
minha coluna lentamente se desintegrando
e agora
tendo aceitado um pacote de aposentadoria
a surpresa é que eu
ainda me imaginava com 40
por tanto tempo

que aqueles poucos velhos amigos remanescentes
começaram a ligar novamente
porque
aparentemente aos 70
é apropriado relembrar amigos mortos
e avaliar a trajetória de vida de alguém
mais uma vez

Não quero desaponta-los
a todos
no entanto deixe-me ser claro

vão se foder

não tenho a intenção de fazer um balanço
ou abraçar “minha nova fase”
ou desaparecer no nevoeiro como
os mortos-vivos de algum
filme de terror

ou reviver infinitamente minhas façanhas juvenis com vocês
ou acompanha-los vagando sem rumo
para um último passeio

Eu reinicializei
isso é tudo
apenas reinicializei

e em todos os aspectos importantes
estou realmente com apenas 55

Trad.: Nelson Santander

On Hitting 70

it was around my 70th birthday
that I realized I wasn’t 40 anymore

that the ballast which had kept me steady for so long
had shifted

that the people I conjured from my 20s
were no longer lithe carnal dynamos
reanimated in ageless revisionist trysts

on my 70th birthday old friends started to call me
reminiscing
about dead comrades and lovers

eaten alive by colon cancer gaunt and in pain, dangling from a rope strung
over the bathroom door, foggy with drugs in an AIDS hospice abandoned,
cancer growing on the brain joking until near the end in agony

bleeding by the side of a country road hit by a drunk kid too young to drive
who said he didn’t see the jogger being blinded by the sun and all

when I had reached 40
all those comrades
and lovers
were still alive and thought they’d live forever
unseemly curious about my status
whether my life was turning out as I had hoped

because at 40
it was the time
apparently
to take stock of such matters

and I think the consensus
was that if my life’s progress
was not quite an A
it was certainly a solid B
or maybe B+

and whoosh
it has come to this
my career winding down
my spine slowly disintegrating
and now
having accepted a retirement package
the wonder is that I
still thought of myself as 40
for so long

those few old remaining friends
started calling again
because
apparently at 70
it is appropriate to reminisce about dead friends
and rate the arc of one’s life
once again

I don’t want to disappoint you
all of you
nonetheless let me be clear

fuck off

I have no intention to take stock
or embrace “my new phase”
or fade like the walking dead
from some horror film
into the mist

or endlessly relive my youthful exploits with you
or join you in wandering aimlessly
for the last furlong

I have reset
that is all
just reset

and in all ways important
am really just 55