Wendy Cope – Em um trem

O livro que estou lendo
repousa em meu joelho. Você dorme.

Lá fora é tão bonito —
campos, pequenos lagos e árvores de inverno
sob o sol de fevereiro,
cada estacionamento um brilhante mosaico.

Longos e radiantes minutos,
sua mão na minha mão,
ainda quente, ainda quente.

Trad.: Nelson Santander

On a Train

The book I’ve been reading
rests on my knee. You sleep.

It’s beautiful out there-
fields, little lakes and winter trees
in February sunlight,
every car park a shining mosaic.

Long radiant minutes,
your hand in my hand,
still warm, still warm.

Wendy Cope – Para minha irmã, emigrando

Você deixou comigo
as coisas que não podia levar
ou que não conseguia doar – …
livros, discos e uma lata de biscoitos
que Nanna deu para você.

É velha e suja
e a tampa não encaixa.
Inerte em um canto do meu quarto,
totalmente inútil, é tão comovente
quanto um brinquedo que já foi amado.

Sim, estou sentimental –
mas se você tivesse ficado,
teríamos brigado
como sempre, encontrado
desculpas para não telefonar.

Nós nunca aprendemos. Crescemos
brigando, com medo
de que a família nos asfixie,
apenas cedendo ao amor
quando alguém morre ou se vai.

Trad.: Nelson Santander

For my sister, emigrating

You’ve left with me
the things you couldn’t take
or bear to give away – …
books, records and a biscuit-tin
that Nanna gave you.

It’s old and dirty
and the lid won’t fit.
Standing in the corner of my room,
quite useless, it’s as touching
as a once loved toy

Yes, sentimental now –
but if you’d stayed,
we woulkd have quarrelled
just the same as ever,
found excuses not to phone.

We never learn. We’ve grown up
struggling, frightened
that the family would drown us,
only giving in to love
when someone’s dead or gone.