Carlos Nejar – Gazel do Universo Começando

Irei, irás
onde os ventos
nos exigem.

E o universo
é o começo
de estar contigo.

2.

O arado
com o trigo
vai rodar.

Irei, irás
com os cabelos
rodando.

O céu irá
rodar
no colo plúmeo
das espigas.

Seguirás
com as colinas
e os plátanos
rodando.

O mundo
é tua mão
desprevenida.

Vai rodando
a alma
no teu corpo,
o feno dos meses,
tuas tranças.

Irei, irás
onde reluz
de outro limite,
o mar.

E o universo todo
é o começo
de estar contigo.

Carlos Nejar – José Mora

Eu retornei. A morte imensa,
tão imensa que não tocava
mais os seus limites,
os feudos. E eu, aos poucos,
fui vencendo, fui
desembaraçando seus cordames,
o mortal peso, a superfície
desamparada e vasta como se
num escafandro viesse lentamente
ao som das águas e fosse
uma cítara tangida entre
duas espigas de penumbra
e um rosal de clara água.
Fosse, fosse a mão
escapando da manga,
o braço do casaco
e os gestos no suave
bandolim da alma,
cavoucando a terra água,
a fera terra água
e agarrasse as aspas
e este touro na braçada
rolasse e sacudia fora
esta parte da morte.
E é como face a face
dei com a aurora.