José María Cumbreño – Identidade

Durante anos, a roupa que usei foi herdada de meu irmão mais velho.
Meu nome me foi dado em homenagem ao meu avô.
O primeiro carro que conduzi era de segunda mão.
A primeira mulher que me beijou já havia beijado outros.
A casa em que habito é alugada.
Tudo o que escrevo já foi escrito por alguém há muito tempo, e muito melhor.
O irmão de minha filha não é meu filho.
Seu pai age como se não o fosse, e quem não é o pai
esforça-se para aprender a sê-lo.

Trad.: Nelson Santander

José María Cumbreño – Identidad

Durante años, la ropa que me he puesto la he heredado de mi hermano mayor.
Mi nombre me lo pusieron por mi abuelo.
El primer coche que conduje era de segunda mano.
La primera mujer que me besó ya había besado a otros.
La casa en la que vivo es de alquiler.
Todo lo que escriba ya lo habrá escrito alguien mucho antes y mucho mejor.
El hermano de mi hija no es hijo mío.
Su padre hace como si no lo fuera y quien no es su padre
se esfuerza por aprender a serlo.

Billy Collins – As cadeiras em que ninguém se senta

Vêem-se em varandas e em relvados
mesmo à beira do lago,
geralmente dispostas em pares indicando que um casal

se poderá sentar ali e olhar para
a água ou para as grandes árvores frondosas.
O problema é que nunca se vê ninguém

sentado nessas cadeiras abandonadas
embora a dada altura deva ter parecido
um bom lugar para parar e não fazer nada por um momento.

Às vezes há uma pequena mesa
entre as cadeiras onde ninguém
deixou um copo pousado ou um livro com a capa para baixo.

Posso não ter nada com isso,
mas suponhamos haver um dia
em que todos os que colocaram essas cadeiras vagas

numa varanda ou num cais se sentariam nelas
nem que fosse para se lembrarem
daquilo que achavam que valia a pena

ser contemplado das duas cadeiras
lado a lado com uma mesa pelo meio.
As nuvens estariam altas e imponentes nesse dia.

A mulher descola o olhar do seu livro.
O homem toma um gole da sua bebida.
E ouve-se apenas o som do seu olhar,

o marulhar da água do lago, e o canto de um pássaro
depois de outro, gritos de alegria ou de aflição —
o tempo vai passando enquanto se percebe quais.

Trad.: Ricardo Marques

Billy Collins – The Chairs That No One Sits In

You see them on porches and on lawns
down by the lakeside,
usually arranged in pairs implying a couple

who might sit there and look out
at the water or the big shade trees.
The trouble is you never see anyone

sitting in these forlorn chairs
though at one time it must have seemed
a good place to stop and do nothing for a while.

Sometimes there is a little table
between the chairs where no one
is resting a glass or placing a book facedown.

It might be none of my business,
but it might be a good idea one day
for everyone who placed those vacant chairs

on a veranda or a dock to sit down in them
for the sake of remembering
whatever it was they thought deserved

to be viewed from two chairs
side by side with a table in between.
The clouds are high and massive that day.

The woman looks up from her book.
The man takes a sip of his drink.
Then there is nothing but the sound of their looking,

the lapping of lake water, and a call of one bird
then another, cries of joy or warning—
it passes the time to wonder which.

José Luis García Martín – Em algum lugar

Logo, depois, mais tarde, quando nunca,
meus passos se afastaram dos meus passos
e em algum lugar, não sei se dentro ou fora,
ouviu-se uma voz que repetia um nome.
Uma voz, apenas um eco, quase nada,
talvez a voz do vento entre as árvores
onde árvores sequer existiam.
Tremiam os alicerces da terra
ou seria eu quem tremia naquele instante
quando um sol negro iluminava o mundo
e era minha vida inteira que ardia,
uma pilha de papéis amassados,
em um canto remoto, entre teus braços,
amor que foi, que é, que nunca existiu,
um vapor sujo que na noite se eleva.

Trad.: Nelson Santander

En Algún Lugar

Luego, después, más tarde, cuando nunca,
mis pasos se alejaron de mis pasos
y en algún lugar, no sé si dentro o fuera,
se oyó una voz que un nombre repetía.
Una voz, sólo un eco, apenas nada,
quizá la voz del viento entre los árboles
donde ni tan siquiera árboles había.
Temblaban los cimientos de la tierra
o era yo quien temblaba aquel entonces
en que un sol negro iluminaba el mundo
y era mi vida entera la que ardía,
un montón de papeles arrugados,
en el rincón remoto, entre tus brazos,
amor que fue, que es, que nunca ha sido,
un humo sucio que en la noche asciende.

Walter de la Mare – Os que ouviam

“Está aí alguém?”, disse o Viajante
  Batendo à porta de luar;
A relva, chão de fetos da floresta,
  Pôs-se o cavalo a devorar.
Sobre a cabeça do Viajante, um pássaro
  Voou da torre para além.
E ele feriu a porta uma outra vez,
  Dizendo: “Está aí alguém?”
Do peitoril da janela, ninguém
  Desceu até o Viajante;
Ninguém lhe fitou os olhos cinzentos:
  E ele imóvel, em seu espanto.
Mas uma hoste de ouvintes fantasmas
  Que a casa deserta habitava,
Deixou-se ouvindo, à calma do luar,
  O que a voz, humana bradava;
Deixou-se conjugando o luar na escada
  Que dá ao vestíbulo vazio;
À escuta, num ar trêmulo e agitado
  Pelo chamado que se ouviu.
No coração ele sentiu que estranha
  Era a calma que respondia;
Enquanto o cavalo ceifava a relva
  E o céu de estrela e folha se incendia.
E então bateu mais uma vez à porta
  E ergueu muito alta a cabeça:
“Digam que vim e não me responderam;
  E que eu cumpri minha promessa.”
Os que escutavam nada se moveram
  Embora as palavras por certo
Na casa caíssem, reverberassem,
  A partir do homem desperto.
O pé no estribo, o ferro contra a pedra,
  Ah, que bem estavam ouvindo!
E ao silêncio nascendo para trás e o
  Chapinhar dos cascos partindo.

Trad.: Jorge Wanderley

PS.: confira também a tradução que fiz do mesmo poema:

https://nsantand.wordpress.com/2017/02/02/walter-de-la-mare-os-que-ouviam/

Walter de la Mare – The Listeners

‘Is there anybody there?’ said the Traveller,
  Knocking on the moonlit door;
And his horse in the silence champed the grasses
  Of the forest’s ferny floor:
And a bird flew up out of the turret,
  Above the Traveller’s head:
And he smote upon the door again a second time;
  ‘Is there anybody there?’ he said.
But no one descended to the Traveller;
  No head from the leaf-fringed sill
Leaned over and looked into his grey eyes,
  Where he stood perplexed and still.
But only a host of phantom listeners
  That dwelt in the lone house then
Stood listening in the quiet of the moonlight
  To that voice from the world of men:
Stood thronging the faint moonbeams on the dark stair,
  That goes down to the empty hall,
Hearkening in an air stirred and shaken
  By the lonely Traveller’s call.
And he felt in his heart their strangeness,
  Their stillness answering his cry,
While his horse moved, cropping the dark turf,
  ’Neath the starred and leafy sky;
For he suddenly smote on the door, even
  Louder, and lifted his head:—
‘Tell them I came, and no one answered,
  That I kept my word,’ he said.
Never the least stir made the listeners,
  Though every word he spake
Fell echoing through the shadowiness of the still house
  From the one man left awake:
Ay, they heard his foot upon the stirrup,
  And the sound of iron on stone,
And how the silence surged softly backward,
  When the plunging hoofs were gone.

rocío – “não é que me sinta mais velha, mãe, é que todos esses meses…”

não é que me sinta mais velha, mãe, é que todos esses meses
todos os dias tendo que ser forte, fico cansada
pela manhã, acordo abraçada ao travesseiro e às vezes não sei o que dizer pra mim mesma
para levantar de minha pequena e solitária cama
em alguns meio-dias, se tomo cerveja, sinto-me um pouco otimista
mas depois, na hora do café inadvertidamente sinto o cheiro de algumas lembranças,
aqueles rotineiros dias de felicidade em que depois de comer
ele colocava a cafeteira no fogão e eu o observava do sofá
aquelas coisas cotidianas, um pouco insignificantes ou pequenas, como diz o teu querido cantor e compositor
a mim me bastava para sentir-me uma mulher feliz
agora contudo não posso dizer o mesmo, e me custa realmente compreender
o que mudou, porque eu obviamente não fui
tu sabes que quando amo, o faço instintivamente e sem medo, pra valer
e assim eu o amei desde o primeiro momento, com aquela entrega absoluta e sem limites
que penso agora se parecem de alguma forma com a tua bondade, essa bonita qualidade que como o amor
nunca é suficiente para quem recebe, e contra isso não se pode fazer nada
de maneira que ao cair da tarde não sei a que me aferrar e saio a caminhar pela
cidade
esse velho costume de arrastar-me pelas ruas e acabar sempre em nenhum lugar
ou quiçá pior, de novo e de novo exatamente no mesmo
sem saber como ou por onde devo continuar
vês, não tenho nenhuma certeza, mãe, como poderia tê-las?
se só sei fazer-me perguntas que não consigo nunca responder
se não consigo entender o que aconteceu e a incompreensão
penetra meu pensamento com uma insuportável e árdua insistência
especialmente quando tudo está submerso naquela quietude que invoca a escuridão da noite
e chega, às vezes discreto, outras feroz, o desespero
embora eu prefira não escrever sobre essa emoção tão pouco digna, compreenda-me
o que é importante que saibas é que apesar de tudo eu estou bem
estou despedaçada mas tranquila, esgotada e sem forças ainda que, meio relutante, viva
às vezes sinto o duro peso da distância, mas sei que já não é possível regressar
por sua vez o trabalho não me entusiasma, embora, vês, me deixa tempo para escrever
comecei a falar muito com o gato porque passo muito tempo sozinha com ele
mas não é nada grave e o médico me disse que eu não preciso continuar tomando ferro
não me queixo, mãe, dentro em pouco chegará o outono com seu frio morno e dourado
e ao caminhar sob o sol pelo passeio do rio sorrirei embora sem querer me lembre
que esse homem será todos os dias, até o fim de todos os caminhos, o amor da minha vida

Trad.: Nelson Santander

rocío – “no es que me sienta mayor, madre, es que todos estos meses así…”

no es que me sienta mayor, madre, es que todos estos meses así
cada día teniendo que hacerme fuerte, me cansan
por las mañanas, amanezco abrazada a la almohada y a veces no sé qué decirme
para levantarme de mi pequeña y solitaria cama
algunos mediodías, si tomo cerveza, me siento un poco optimista
pero luego, a la hora del café ya huelo sin querer algunos recuerdos
esos días felizmente rutinarios en los que después de comer
él ponía en el fuego la cafetera y yo lo miraba desde el sofá
esas cosas cotidianas, algo insignificantes o pequeñas, como dice tu querido cantautor
a mí me bastaban para sentirme una mujer dichosa
ahora en cambio no puedo decir lo mismo, y me cuesta realmente comprender
qué es lo que ha cambiado, porque yo no he sido desde luego
tú sabes que cuando amo, lo hago instintivamente y sin miedo, para siempre
y así lo he querido a él desde el primer momento, con esa entrega absoluta y sin límites
que pienso ahora se parecen en algo a tu bondad, esa bonita cualidad que como el amor
nunca es suficiente para quien recibe, y contra eso no se puede hacer nada
de manera que al caer la tarde no sé a qué aferrarme y salgo a caminar por la ciudad
esa vieja costumbre de arrastrarme por las calles y acabar siempre en ningún lugar
o quizá peor, una y otra vez exactamente en el mismo
sin saber cómo ni hacia dónde debería seguir
ya ves, no tengo ninguna certeza, madre ¿cómo podría tenerla?
si solo sé hacerme preguntas que no consigo nunca responder
si no logro entender qué ha sucedido y la incomprensión
me taladra el pensamiento con una insoportable y ardua insistencia
especialmente cuando todo se sumerge en esa quietud que invoca la oscuridad de la noche
y llega, a veces discreta y otras feroz, la desesperación
aunque preferiría no escribir sobre esa emoción tan poco digna, compréndeme
lo que es importante que sepas, es que a pesar de todo me encuentro bien
estoy rota pero tranquila, agotada y sin fuerzas aunque, un poco a mi pesar, viva
a veces siento el fatigoso peso de la distancia, pero sé que ya no es posible regresar
por su parte el trabajo no me entusiasma aunque ya ves, me deja tiempo para escribir
he comenzado a hablar demasiado con el gato porque paso mucho tiempo sola con él
pero no es nada grave y el médico me ha dicho que ya no tengo que seguir tomando hierro
no me quejo, madre, dentro de poco llegará el otoño con su frío tibio y dorado
y al andar bajo el sol por el paseo del río sonreiré aunque sin querer recuerde
que ese hombre será cada día hasta el final de todos los caminos, el amor de mi vida

Paulo Henriques Britto – À margem do Douro

Não espero nada, e já me satisfaço
com a consciência de ainda estar em mim
e não de volta ao nada de onde vim.
Por ora, ao menos, ainda ocupo espaço,
junto a uma mesa no Cais da Ribeira;
permito-me, sem culpa, desfrutar
de pão, e queijo, e vinho, e vista, e ar,
todo o entorno da minha cadeira.
Que os dias que me restam não me tragam
apenas a miséria de contá-los
pra ao fim ver que as contas não fecham. Peço
demais? Eu, que não sou desses que tragam
a vida num só gole e no gargalo,
sem ter nem mesmo perguntado o preço.

Joan Margarit – Professor Bonaventura Bassegoda

Recordo-o alto e gordo,
atrevido, sentimental. Você, então,
era uma autoridade em Alicerces Profundos.
Sempre iniciava suas aulas assim:
“Senhores, bom dia.
Hoje faz tantos anos, tantos meses
e tantos dias que minha filha morreu”.
E costumava secar algumas lágrimas.
Tínhamos vinte anos, mais ou menos,
e o homem corpulento que você era,
chorando no meio da classe,
nunca nos fez sorrir.
Há quanto tempo você não conta o tempo?
Tenho pensado em nós e em você,
hoje que sou uma amarga sombra sua
porque faz agora dois meses,
três dias e seis horas
que minha filha tem seus
profundos alicerces na morte.

Trad.: Nelson Santander

Profesor Bonaventura Bassegoda

Le recuerdo alto y grueso,
procaz, sentimental. Usted, entonces,
era una autoridad en Cimientos Profundos.
Inició siempre nuestra clase así:
«Señores, buenos días.
Hoy hace tantos años, tantos meses
y tantos días que murió mi hija».
Y solía secarse alguna lágrima.
Teníamos veinte años, más o menos,
y el hombre corpulento que usted era
llorando en plena clase,
nunca nos hizo sonreír.
¿Cuánto hace ya que usted no cuenta el tiempo?
He pensado en nosotros y en usted,
hoy que soy una amarga sombra suya
porque mi hija, ahora hace dos meses,
tres días y seis horas
que tiene sus profundos cimientos en la muerte.

Rui Knopfli – Fim de tarde no café

Na tarde cor de azebre
falávamos de coisas amargas.
Ali, na mesa triste do café
com moscas adejando
sobre restos de açúcar
e um copo de água
morna de esquecida,
falávamos da amargura das coisas,
entre rostos graníticos e enxovalhados,
entre estranhos e estranhos
de estranhos e os que,
nada tendo de estranhos,
cuidam de cuidar
o que se passa entre estranhos.
Na tarde comprida e silenciosa
tecíamos gestos inúteis
e palavras entre dentes,
mergulhados na paisagem geométrica
do café. Do café tão cheio de gente
e fumo e moscas e caras tristes
e afinal tão profundamente,
tão desesperadamente vazio.

Juan Vicente Piqueras – Os deuses Internos

Os deuses sabem mais e melhor do que nós
do que precisamos. Pedimos-lhes um filho,
e nos enviam um lobo, e não os compreendemos.

A vida diariamente os esquece.
A morte à noite os inventa.

E as doenças, como diz o sábio,
são deuses que agonizam dentro de nosso corpo,
seu último templo em ruínas,
seu refúgio sem fé. Imploram compaixão.

Os deuses não compreendem a estranha insensatez
com que decidimos acabar conosco
acabando com eles, o orgulho
com que os desprezamos.

Os deuses pedem pouco: que não os esqueçamos.

Mas é pedir demais a uma espécie escrava
que fez do esquecimento sua missão e sua vida
e sua razão de ser.
Os deuses se calam,
resignados, e morrem em silêncio
dentro de cada um de seus antigos súditos.

Trad.: Nelson Santander

Los Dioses Dentro

Los dioses saben más y mejor que nosotros
lo que nos hace falta. Les pedimos un hijo
y nos mandan un lobo, y no los comprendemos.

La vida cada día los olvida.
La muerte por la noche los inventa.

Y las enfermedades, como bien dijo el sabio,
son dioses que agonizan dentro de nuestro cuerpo,
su último templo en ruinas,
su refugio sin fe. Piden piedad.

Los dioses no comprenden la extraña insensatez
con que hemos decidido acabar con nosotros
acabando con ellos, el orgullo
con que los despreciamos.

Los dioses piden poco: que no los olvidemos.

Pero es mucho pedirle a una raza de esclavos
que han hecho del olvido su misión y su vida
y su razón de ser.
Los dioses callan,
resignados, y mueren en silencio
dentro de cada uno de sus antiguos súbditos.

Vladimir Holan – A Neve

A neve começou a cair à meia-noite. E não há dúvida
de que o melhor para o homem é estar sentado na cozinha,
ainda que seja a da insônia.
Ali faz calor, preparas-te algo, bebes vinho
e contemplas pela vidraça a eternidade familiar.
Por que te atormentarias querendo saber se nascimento e morte são apenas dois pontos,
sabendo que a vida não é uma linha reta…
Por que te torturarias ao ver o calendário
e inquietar-te-ias querendo saber o que está em jogo?
Por que admitirias que não tens dinheiro sequer
para comprar um par de sapatos para Saskia?
E por que haverias de jactar-se
de que sofres mais que os outros?

Embora não existisse silêncio na terra
Este nevar já o teria criado em seu sonho.
Estás só. Nenhum gesto. Nada a ostentar.

Trad.: Nelson Santander a partir de versão em espanhol de Josef Forbelski

Vladimir Holan – La Nieve

La nieve empezó a caer a medianoche. Y no hay duda
de que como mejor está el hombre es sentado en la cocina,
aunque sea la del insomnio.
Allí se está caliente, te preparas cualquier cosa, bebes vino
y contemplas por la ventana la eternidad familiar.
Por qué ibas a atormentarte queriendo saber si nacimiento y muerte son sólo dos puntos,
sabiendo que la vida no es una línea recta…
Por qué te ibas a torturar al ver el calendario
y a inquietarte queriendo saber qué valor hay en juego.
¿Y por qué ibas a confesarte que no tienes dinero
para comprarle unos zapatos a Saskia?
¿Y por qué ibas a jactarte
de que sufres más que los otros?

Aunque no hubiese silencio en la tierra
este nevar ya lo habría creado en su sueño.
Estás solo. Ni un gesto. Nada de ostentación.