Eu ouvia cânticos gregorianos
num carro em alta velocidade
em uma rodovia na França.
As árvores passavam velozes. As vozes dos monges
entoavam preces a um deus invisível
(ao amanhecer de uma capela tremendo de frio).
Domine, exaudi orationem meum,
vozes graves rogavam calmamente
como se a salvação estivesse crescendo no jardim.
Para onde eu ia? Onde o sol se escondia?
Minha vida estava em farrapos
nos dois lados da estrada, frágil como um mapa de papel.
Com os doces monges
percorri o caminho em direção às nuvens, ao azul profundo,
pesado, denso,
rumo ao futuro, ao abismo,
sorvendo duras lágrimas de granizo.
Longe da aurora. Longe de casa.
Em lugar de paredes — chapa de metal.
Em vez de vigília — vôo.
Viagem em vez de lembrança.
Um breve poema em vez de um hino.
Uma pequena e cansada estrela corria
mais à frente
e o asfalto da rodovia brilhava,
mostrando onde estava a terra,
e onde espreitava a navalha do horizonte
e a aranha negra da tarde
e da noite, viúva de tantas esperanças.
Trad.: Nelson Santander da versão do poema em inglês traduzido por Clare Cavanagh
A Quick Poem
I was listening to Gregorian chants
in a speeding car
on a highway in France.
The trees rushed past. Monks’ voices
sang praises to an unseen god
(at dawn in a chapel trembling with cold).
Domine, exaudi orationem meum,
male voices pleaded calmly
as if salvation were just growing in the garden.
Where was I going? Where was the sun hiding?
My life lay tattered
on both sides of the road, brittle as a paper map.
With the sweet monks
I made my way toward the clouds, deep blue,
heavy, dense,
toward the future, the abyss,
gulping hard tears of hail.
Far from dawn. Far from home.
In place of walls — sheet metal.
Instead of a vigil — a flight.
Travel instead of remembrance.
A quick poem instead of a hymn.
A small, tired star raced
up ahead
and the highway’s asphalt shone,
showing where the earth was,
where the horizon’s razor lay in wait,
and the black spider of evening
and night, widow of so many dreams.
(translated by Clare Cavanagh)