Por exemplo, com alguém que já não existe mais,
que vive apenas nas cartas amareladas.
Ou longas caminhadas à beira de um córrego,
cujas profundezas guardam xícaras de porcelana
ocultas — e conversas sobre filosofia
com um tímido estudante ou um carteiro.
Um transeunte de olhar altivo
a quem você nunca conhecerá.
Amizade com este mundo cada vez mais perfeito
(se não fosse pelo cheiro salgado de sangue).
O velho que lhe faz lembrar alguém
tomando café em St.-Lazare.
Rostos passando rapidamente
nos trens urbanos —
as felizes faces de viajantes que se dirigem talvez
para um esplêndido baile, ou para uma decapitação.
E a amizade consigo mesmo
— pois, afinal de contas, você não sabe quem é.
Trad.: Nelson Santander a partir da versão do poema em inglês traduzido por Clare Cavanagh
Impossible Friendships
For example, with someone who no longer is,
who exists only in yellowed letters.
Or long walks beside a stream,
whose depths hold hidden
porcelain cups—and the talks about philosophy
with a timid student or the postman.
A passerby with proud eyes
whom you’ll never know.
Friendship with this world, ever more perfect
(if not for the salty smell of blood).
The old man sipping coffee
in St.-Lazare, who reminds you of someone.
Faces flashing by
in local trains—
the happy faces of travelers headed perhaps
for a splendid ball, or a beheading.
And friendship with yourself
—since after all you don’t know who you are.