Emily Bryant Voigt – A cúspide

Tão poucos pássaros — os que passam o inverno
e os gansos migrando pelos campos vazios,
atravessando as hastes retorcidas de milho cortado:
ao nosso redor, tudo o que é verde é suprimido,
e na melancólica floresta, as árvores nuas,
despidas de folhas ou quase sem elas,
formam uma morada sombria entre nuvens baixas
que têm o aspecto de neve obstinada.

Em um exercício puramente científico —
digamos que você veio da lua, ou, como
Lázaro, retornou piscando da caverna —
você não saberia se o inverno já passou ou se está apenas começando.
A margem se eleva, a margem desce em direção à vala.
Seria útil se eu dissesse que o luto tem um fim?
Faria diferença se eu dissesse que estamos na primavera?

Trad.: Nelson Santander

The Cusp

So few birds—the ones that winter through
and the geese migrating through the empty fields,
fording the cropped, knuckled stalks of corn:
all around us, all that’s green’s suppressed,
and in the brooding wood, the bare trees,
shorn of leaves or else just shy of leaves,
make a dark estate between low clouds
that have the look of stubborn snow.

In a purely scientific exercise—
say you came from the moon, or returned
like Lazarus, blinking from the cave—
you wouldn’t know if winter’s passed or now beginning.
The bank slopes up, the bank slopes down to the ditch.
Would it help if I said grieving has an end?
Would it matter if I told you this is spring?