Joan Margarit – A Espera

Tantas coisas estão sentindo tua falta.
Assim preenchem-se os dias,
instantes feitos de esperar por tuas mãos,
de sentir falta de tuas pequenas mãos,
que pegaram nas minhas tantas vezes.
Temos de nos acostumar com tua ausência.
Um verão já passou sem teus olhos
e o mar também haverá de acostumar-se.
Tua rua, ainda por muito tempo,
esperará, diante de tua porta,
com paciência, teus passos.
Não se cansará nunca de esperar:
ninguém sabe esperar como uma rua.
E a mim me domina esta vontade
de que me toques e de que me olhes,
de que me digas o que eu faço com a minha vida,
enquanto os dias se vão, com chuva ou céu azul,
já organizando a solidão.

Trad.: Nelson Santander

Joan Margarit – La Espera

Te están echando en falta tantas cosas.
Así llenan los días
instantes hechos de esperar tus manos,
de echar de menos tus pequeñas manos,
que cogieron las mías tantas veces.
Hemos de acostumbramos a tu ausencia.
Ya ha pasado un verano sin tus ojos
y el mar también habrá de acostumbrarse.
Tu calle, aún durante mucho tiempo,
esperará, delante de tu puerta,
con paciencia, tus pasos.
No se cansará nunca de esperar:
nadie sabe esperar como una calle.
Y a mí me colma esta voluntad
de que me toques y de que me mires,
de que me digas qué hago con mi vida,
mientras los días van, con lluvia o cielo azul,
organizando ya la soledad.

Paulus Silentiarius – da “Antologia Grega”

Zeus, em chuva de ouro, atravessou o bronze
que guardava Danae e roubou-lhe a virgindade.
Moral da história: o ouro tudo domina – paredes
e grilhetas de bronze, fechaduras e peias.
Foi o ouro que subjugou Danae. Não é necessário
rezar a Afrodite; só é preciso dinheiro.

Versão: José Alberto Oliveira

Lucilius – da “Antologia Grega”

Eutychides, o poeta lírico, morreu.
Fugi, ó moradores do Hades! – ele transporta odes
e ordenou que consigo queimassem
vinte liras e vinte e cinco pautas de música,
que Caronte terá de transportar.
Onde se poderá encontrar refúgio,
agora que Eutychides canta pela eternidade?

Versão: José Alberto Oliveira

Anônimo – da “Antologia Grega”

Não esbanjem comigo o odor da mirra,
nem ofereçam coroas de flores,
nem acendam a pira funerária,
tudo isso é desperdício; ofereçam-me
presentes, se quiserem, enquanto
estiver vivo – mas espalhar cinzas
no vinho torná-lo-á lama
e dele não beberão os mortos.

Versão: José Alberto Oliveira

Automedon – da “Antologia Grega”

Mandaste chamá-la, disseste para vir,
preparaste tudo. Mas, se vier, o que farás?
Repara no que se passa contigo, Automedon.
Esse canalha, que era alegre e firme, está
agora flácido, como cenoura cozida, morto
e encolhido entre as pernas. Como irão
rir se te puseres a navegar de mãos
vazias, um remador que perdeu o remo.

Versão: José Alberto Oliveira

Marcus Argentarius – da “Antologia Grega”

Psyllas jaz aqui. A sua ocupação
proxeneta; mantinha um bando
de raparigas e alugava-as para festas.
Um negócio pouco simpático, ganhar
dinheiro com carne humana e fraca.
Mas poupem o seu túmulo, não atirem
pedras, agora que está morto e enterrado.
Lembrem-se disto: os serviços que prestou
convenceram os rapazes a deixarem
as nossas mulheres sossegadas.

Versão: José Alberto Oliveira

Eunice de Souza – Alvorada 2

Falamos através de continentes.
É pouco provável que nos voltemos a encontrar.
Não posso fumar, não posso viajar,
nenhuma felicidade claro.
Sentindo um vento frio nas costas
renunciamos à filosofia.
Acabaram os amantes errantes, maridos,
passarões não propriamente sensatos.
Ainda temos a idade com que nos conhecemos.

Trad.: Francisco José Craveiro de Carvalho