Basil Bunting – O que o diretor disse a Tom

Poesia? É um hobby
O meu são trens elétricos.
O sr. Shaw ali cria pombos.

Não é trabalho. Você não sua
a camisa. Ninguém paga.
Tente anunciar sabão.

Ópera é que é arte; ou o teatro.
A Canção do Deserto.
Nancy era do coro.

Mas pedir doze libras por semana
– casado, não? –
isso sim é ter peito.

Como vou encarar um cobrador
de ônibus
se lhe pagar doze libras?

Quem garante, aliás, que é poesia?
Meu garoto de dez
pode fazer igual, e com rimas.

Tiro três mil mais despesas,
carro, benefícios,
mas sou um contador.

Fazem o que mando,
é minha firma.
Você, o que faz?

Palavrõezinhos, palavrãozões,
isso não faz bem.
Vejo um poeta e já quero me lavar.

Tudo comuna e viciado,
bando de delinquentes.
O que você escreve é lixo.

O sr. Hynes que me disse, ele entende
disso, é professor.
Anda, arrume trabalho.

Trad.: Nelson Ascher

What the chairman told Tom

Poetry? It’s a hobby.
I run model trains.
Mr Shaw there breeds pigeons.

It’s not work. You don’t sweat.
Nobody pays for it.
You could advertise soap.

Art, that’s opera; or repertory —
The Desert Song.
Nancy was in the chorus.

But to ask for twelve pounds a week —
married, aren’t you? —
you’ve got a nerve.

How could I look a bus conductor
in the face
if I paid you twelve pounds?

Who says it’s poetry, anyhow?
My ten year old
can do it and rhyme.

I get three thousand and expenses,
a car, vouchers,
but I’m an accountant.

They do what I tell them,
my company.
What do you do?

Nasty little words, nasty long words,
it’s unhealthy.
I want to wash when I meet a poet.

They’re Reds, addicts,
all delinquents.
What you write is rot.

Mr Hines says so, and he’s a schoolteacher,
he ought to know.
Go and find work.