Ricardo Molina – Convite à Felicidade

        Es dulce ser amado pero amar,
        oh dioses, qué ventura…
        Goethe

Ama-me agora que tenho os cabelos pretos
e uma coroa de junco
e o perfume da água e da esteva
nos braços nus.

Ama-me agora que tenho nos olhos
a suave chama da tarde
e a graça do sorriso
e a leve frescura dos mananciais.

Ama-me agora que tenho nos lábios
o fogo deslumbrante do meio-dia
e a serenidade do céu em minha face.

Ama-me agora que tenho no pescoço
o resplendor dos lírios queimados.
Ama-me agora que corre pelos meus ombros
a torrente divina do desejo.
Ama-me agora que tenho o peito ébrio
como uma flor de videira.

Agora e não depois, agora e não amanhã,
agora que beija minha alma todo teu corpo
confundindo tua respiração com a dos meus lábios.

Beija-me agora que é primavera
e o Chamariz canta e voa em uma árvore,
agora, meu amor, que estamos em maio,
e zunem no ar as abelhas,
agora que tudo é belo e feliz,
agora e não amanhã,
agora e não depois.

Beija-me os lábios, os cabelos, os ombros
agora que nos pomares floridos
é tão doce a flor primeira da romãzeira.

Dá-me todo teu amor agora, meu amor,
não vês que sou na terra bendita,
doce como a árvore do paraíso?

Agora que sou uma nascente virgem
onde cada onda é uma carícia,
uma colina verde
onde cada pequena flor é um lábio aceso,
um vale misterioso
onde cada vento é um suspiro,
um rio de amores
cuja música frágil é o teu nome.

Não são nossos estes dias tão belos?
Não é bela a terra sob o sol e a lua?
Não fala tudo de amor, da alvorada ao entardecer?

Ama-me!
Agora e não amanhã, agora e não depois!

Trad.: Nelson Santander

Invitación a la dicha

        Es dulce ser amado pero amar,
        oh dioses, qué ventura…
        Goethe

Ámame ahora que tengo los cabellos negros
y una corona de junco
y el perfume del agua y de la jara
en los brazos desnudos.

Ámame ahora que tengo en los ojos
la suave llama de la tarde
y la gracia de la sonrisa
y la leve frescura de los manantiales.

Ámame ahora que tengo en los labios
el fuego deslumbrante del Mediodía
y la serenidad del cielo en las mejillas.

Ámame ahora que tengo en el cuello
el resplandor de los lirios quemados.
Ámame ahora que corre por mis hombros
el torrente divino del deseo.
Ámame ahora que tengo el pecho ebrio
como una flor de vino.

Ahora y no luego, ahora y no mañana,
ahora que besa mi alma todo tu cuerpo
confundiendo su aliento al de mis labios.

Bésame ahora que es primavera
y el chamariz canta y vuela en un árbol,
ahora, amor mío, que estamos en mayo
y zumban en el aire las abejas,
ahora que todo es hermoso y feliz,
ahora y no mañana,
ahora y no luego.

Bésame los labios, el cabello, los hombros
ahora que en los huertos florecidos
es tan dulce la flor primera del granado.

Dame todo tu amor ahora, amor mío,
¿no ves que soy en la tierra dichosa,
dulce como el árbol del paraíso?

Ahora que soy un manantial virgen
donde cada onda es una caricia,
una colina verde
donde cada florecilla es un labio encendido,
un valle misterioso
donde cada viento es un suspiro,
un río de amores
cuya música frágil es tu nombre.

¿No son nuestros estos días tan bellos?
¿No es hermosa la tierra bajo el sol y la luna?
¿No habla todo de amor desde el alba a la tarde?

¡Ámame!
¡Ahora y no mañana; ahora y no luego!

Editado em 08/04/2019: O internauta pabloalf me alertou para um poema da uruguaia Juana de Ibarbourou, chamado “La Hora”, que é muito parecido com o poema acima, de Ricardo Molina. Teria havido plágio? Se sim, quem teria plagiado quem?
Para fins de comparação, segue o poema da escritora uruguaia e a bela tradução feita por Maria Teresa Almeida Pina (peguei aqui: http://blogs.utopia.org.br/poesialatina/a-hora-juana-de-ibarbourou/).

Juana de Ibarbourou – La hora

Tómame ahora que aún es temprano
y que llevo dalias nuevas en la mano.

Tómame ahora que aún es sombría
esta taciturna cabellera mía.

Ahora , que tengo la carne olorosa,
y los ojos limpios y la piel de rosa.

Ahora que calza mi planta ligera
la sandalia viva de la primavera

Ahora que en mis labios repica la risa
como una campana sacudida a prisa.

Después… !oh, yo sé
que nada de eso más tarde tendré!

Que entonces inútil será tu deseo
como ofrenda puesta sobre un mausoleo.

¡Tómame ahora que aún es temprano
y que tengo rica de nardos la mano!

Hoy, y no más tarde. Antes que anochezca
y se vuelva mustia la corola fresca.

hoy, y no mañana. Oh amante, ¿no ves
que la enredadera crecerá ciprés?

Juana de Ibarbourou – A Hora

Toma-me agora que ainda é cedo
e que levo dálias novas na mão.

Toma-me agora que ainda é sombria
esta taciturna cabeleira minha.

Agora que tenho a carne cheirosa
e os olhos limpos e a pele de rosa.

Agora que calça minha planta ligeira
a sandália viva da primavera.

Agora que em meus lábios repica o sorriso
como um sino sacudido às pressas.

Depois…oh, eu sei
que já nada disto mais tarde terei!

Que então inútil será teu desejo,
como oferenda posta sobre um mausoléu.

Toma-me agora que ainda é cedo
e que tenho rica de nardos a mão!

Hoje, e não mais tarde. Antes que anoiteça
e se torne murcha a corola fresca.

Hoje, e não amanhã. Oh amante! Não vês
que a trepadeira crescerá cipreste?