bem-me-quer
e quando a morte
me desfolhar
num sopro de outono
e súbito cessar o peito
virarei pó
e voltarei
pólen
no vento
bem-me-quer
e quando a morte
me desfolhar
num sopro de outono
e súbito cessar o peito
virarei pó
e voltarei
pólen
no vento
no espelho do banheiro
não me reconheço
por vezes
vejo
todo mundo
percorro esse rosto
pouco
tateio
o mole dos
olhos o mármore dos
dentes o quente das
parcas narinas
lentamente me
asseguro:
estou viva
ainda
os fios já passam do pescoço
percebo
meu cabelo cresceu
o dos mortos também cresce
um pouco
não, aqui não há lugares reservados
[de antemão já lhe adianto:
nem adianta olhar para os lados]
o ambiente não é climatizado
os assentos não são flutuantes
e máscaras de oxigênio
não cairão
sobre suas cabeças
para sua segurança e conveniência
informamos que a vida
não vem equipada
com saídas
de emergência