Germana Zanettini – Centésimo trigésimo nono

no espelho do banheiro
não me reconheço
por vezes
vejo
todo mundo

percorro esse rosto
pouco

tateio
o mole dos
olhos o mármore dos
dentes o quente das
parcas narinas
lentamente me
asseguro:
estou viva
ainda

os fios já passam do pescoço
percebo
meu cabelo cresceu

o dos mortos também cresce
um pouco

Germana Zanettini – Leia Antes de Usar

não, aqui não há lugares reservados
[de antemão já lhe adianto:
nem adianta olhar para os lados]

o ambiente não é climatizado
os assentos não são flutuantes
e máscaras de oxigênio
não cairão
sobre suas cabeças

para sua segurança e conveniência
informamos que a vida
não vem equipada
com saídas
de emergência