Louis Macneice – E o amor pairou sobre a cama

E o amor pairou sobre a cama, tranqüilo como cristal.
e encheu os cantos do quarto enorme:
a explosão da manhã que a deixou dormindo, mostrando
as flores refletidas na mesa de mogno.

Ó meu amor, se eu pudesse unicamente
prolongar esta hora de calma depois da paixão,
não racionar a felicidade mas conservar para sempre esta porta
fechada para o mundo e seu próprio mundo fechado por ela.

Mas as ondas da manhã importunam com o minuto efervescente,
os nomes dos livros fazem-se claros em suas prateleiras,
a razão escava a serviço do dever e tu acordarás
com um sobressalto e continuarás vivendo por tua própria conta.

O primeiro trem passa e as janelas gemem,
vozes se jactarão e tua voz se tornará
um tambor em harmonia com as deles: por toda esta noite, contudo,
como seiva a trabalhar através de uma árvore faminta,
ela afirmou nossa identidade de uma noite.

Trad.: Péricles Eugênio da Silva Ramos

And love hung still

And love hung still as crystal over the bed
And filled the corners of the enormous room;
The boom of dawn that left her sleeping, showing
The flowers mirrored in the mahogany table.

O my love, if only I were able
To protract this hour of quiet after passion.
Not ration happiness but keep this door for ever
Closed on the world, its own world closed within

But dawn’s waves trouble with the bubbling minut
The names of books come clear upon their shelves
The reason delves for duty and you will wake
With a start and go on living on your own.

The first train passes and the windows groan,
Voices will hector and your voice become
A drum in tune with theirs, which all last night
Like sap that fingered through a hungry tree
Asserted our one night’s identity.

Louis Macneice – O observador de estrelas

Quarenta e dois anos atrás (para mim, se não para mais ninguém,
O número é de algum interesse), fazia uma noite brilhante e estrelada
E o expresso para o ocidente, que não tinha nenhum corredor, estava vazio,
Assim, disparando de um lado para outro, eu pude capturar a inusitada visão
Daqueles buracos quase intoleravelmente
Brilhantes, cravados no céu, que me excitavam, em parte por causa
De seus nomes latinos e em parte porque tinha lido nos livros
O quão distantes eles estavam, parece que sua luz
Os tinha deixado (a alguns pelo menos) muito tempo antes de mim.

E a esta lembrança agora eu acrescento que a
Luz que então deixou alguns deles pelo menos,
Quarenta e dois anos atrás, nunca chegará
A tempo de eu captura-la, que a luz quando
Aqui chegar pode descobrir que não resta
Mais ninguém vivo
Correndo de um lado para o outro em um trem tarde da noite
Admirando-a e acrescentando nadas em vão.

Trad.: Nelson Santander

Star-Gazer

Forty-two years ago (to me if to no one else
The number is of some interest) it was a brilliant starry night
And the westward train was empty and had no corridors
So darting from side to side I could catch the unwonted sight
Of those almost intolerably bright
Holes, punched in the sky, which excited me partly because
Of their Latin names and partly because I had read in the textbooks
How very far off they were, it seemed their light
Had left them (some at least) long years before I was.

And this remembering now I mark that what
Light was leaving some of them at least then,
Forty-two years ago, will never arrive
In time for me to catch it, which light when
It does get here may find that there is not
Anyone left alive
To run from side to side in a late night train
Admiring it and adding noughts in vain.

Louis MacNeice – A luz do sol no jardim

A luz do sol no jardim
Endurece e esmorece,
Não podemos enjaular o minuto
Em suas malhas de ouro;
Quando tudo é proclamado
Não podemos implorar por perdão.

Nossa liberdade, como soldados a soldo,
Avança em direção ao seu fim;
A mundo compele, nele
Baixam sonetos e pássaros;
E em breve, meu amigo,
Não teremos tempo para danças.

O céu estava bom para voar,
Desafiar os sinos da igreja
E todas as sereias malignas
De ferro e o que elas dizem:
A terra compele,
Estamos morrendo, Egito, morrendo

E sem esperar por perdão,
Outra vez endurecidos de coração,
Mas felizes por termos estado debaixo de
Chuvas e trovoadas com você,
E gratos também
Pela luz do sol no jardim.

Trad.: Nelson Santander

The sunlight on the garden

The sunlight on the garden
Hardens and grows cold,
We cannot cage the minute
Within its nets of gold;
When all is told
We cannot beg for pardon.

Our freedom as free lances
Advances towards its end;
The earth compels, upon it
Sonnets and birds descend;
And soon, my friend,
We shall have no time for dances.

The sky was good for flying
Defying the church bells
And every evil iron
Siren and what it tells:
The earth compels,
We are dying, Egypt, dying

And not expecting pardon,
Hardened in heart anew,
But glad to have sat under
Thunder and rain with you,
And grateful too
For sunlight on the garden.