Deborah Pope – Passando

Como um carro engatado,
uma galinha estúpida demais para perceber
que sua cabeça se foi,
ou aquele som que não cessa
mesmo depois do filme
ter caído da bobina,
um telefone
tocando e tocando
na casa de onde todos
se mudaram,
através de salas onde o pó
se aprofunda em camadas,
e o cadeado é desnecessário,
assim eu continuo te amando,
meu coração claudicando,
um músculo entornando
o que não é mais desejado,
e minhas palavras movendo-se,
como um trem em seus trilhos,
em direção a uma estação lacrada,
fechada por anos,
como o último falante
de um belo idioma que
ninguém mais pode ouvir.

Trad.: Nelson Santander

Aqui: Poetry, Fevereiro de 1995

Getting Through

Like a car stuck in gear,
a chicken too stupid to tell
its head is gone,
or sound ratcheting on
long after the film
has jumped the reel,
or a phone
ringing and ringing
in the house they have all
moved away from,
through rooms where dust
is deepening skin,
and the lock is unneeded,
so I go on loving you,
my heart blundering on,
a muscle spilling out
what is no longer wanted,
and my words hurtling past,
like a train of its track,
towards a boarded-up station,
closed for years,
like some last speaker
of a beautiful language
no one else can hear.