Dan Albergotti – Considere as flores do campo

Os grãos
espalhados no chão
buscam um ponto de arrimo
que consigam encontrar no terreno,
abrem-se, estendendo pés embrionários
como luminescentes raios e passos retardatários
para achar o nutrimento mais próximo e sugá-lo. Ou tal
se presumiria, observando a passagem do tempo. Mas nada é intencional.
É mais como tinta derramada a esmo. Não há design. Nutrientes despropositados
chegam aos grãos, pelo menos os poucos que são enxaguados
debaixo do chão. Todos os demais são perdidos.
Como muitos, os grãos são esparzidos.
A maior parte é um crasso
fracasso.

Trad.: Nelson Santander

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Consider the Flowers of the Field

The seeds
tossed among weeds
seek out any foothold
they can find in the soil, unfold
themselves, extending embryonic feet
like luminescent, slow-mo lightning strikes to meet
the nearest nourishment and suck it up. Or so you’d think,
watching the time-lapse. But there’s no will there. It’s more like ink
spilled artlessly. No design. Senseless nutrients
come to the seeds, at least the few ones rinsed
beneath the dirt. The rest are lost.
Like lots, the seeds are tossed.
Most of it’s pure
failure.

Dan Albergotti – Coisas para fazer no ventre da baleia

Meça as paredes. Conte as costelas. Registre os longos dias.
Olhe para o céu azul por entre os esguichos. Faça pequenas fogueiras
com os cascos partidos dos barcos de pesca. Pratique sinais de fumaça.
Ligue para os velhos amigos e escute os ecos de vozes distantes.
Organize sua agenda. Sonhe com a praia. Busque por toda jornada
pelo pálido brilho da luz. Trabalhe em seus relatórios. Recapitule
cada uma das dez milhões de escolhas de sua vida. Suporte os momentos
de autoaversão. Encontre as evidências dos que aqui estiveram antes de você.
Destrua-as. Tente ficar muito tranquilo e ouça o som das
engrenagens e da água em movimento. Ouça o som do seu coração.
Seja grato por estar aqui, engolido com todas as esperanças,
onde você pode descansar e esperar. Seja nostálgico. Pense em todas
as coisas que você fez e as que poderia ter feito. Lembre-se de
boiar pedalando no centro do tranquilo mar noturno, os dedos dos pés
apontando vezes sem conta para baixo, para as negras profundezas.

Things to Do in the Belly of the Whale

Measure the walls. Count the ribs. Notch the long days.
Look up for blue sky through the spout. Make small fires
with the broken hulls of fishing boats. Practice smoke signals.
Call old friends, and listen for echoes of distant voices.
Organize your calendar. Dream of the beach. Look each way
for the dim glow of light. Work on your reports. Review
each of your life’s ten million choices. Endure moments
of self-loathing. Find the evidence of those before you.
Destroy it. Try to be very quiet, and listen for the sound
of gears and moving water. Listen for the sound of your heart.
Be thankful that you are here, swallowed with all hope,
where you can rest and wait. Be nostalgic. Think of all
the things you did and could have done. Remember
treading water in the center of the still night sea, your toes
pointing again and again down, down into the black depths.