William Stafford – No monumento não-nacional ao longo da fronteira canadense

No monumento não-nacional ao longo da fronteira canadense, um poema de William E. Stafford

Este é o campo onde a batalha não aconteceu,
onde o soldado desconhecido não morreu.
Este é o campo onde de mãos unidas ficou o gramado
onde nenhum monumento foi levantado
e a única coisa heroica é o céu.

Pássaros voam aqui sem nenhuma agitação,
abrindo suas asas ao ar livre.
Ninguém matou – ou foi morto – neste torrão
abençoado pelo abandono e por um ar tão brando
que as pessoas o celebram dele se esquecendo.

Trad.: Nelson Santander

At the Un-National Monument Along the Canadian Border

This is the field where the battle did not happen,
where the unknown soldier did not die.
This is the field where grass joined hands,
where no monument stands,
and the only heroic thing is the sky.

Birds fly here without any sound,
unfolding their wings across the open.
No people killed — or were killed — on this ground
hallowed by neglect and an air so tame
that people celebrate it by forgetting its name.

William Stafford – O sonho de agora

Quando acorda, da noite e dos outros
sonhos, para o sonho de agora,
você conduz o dia para fora das trevas
como a uma chama.
Quando a primavera acontece no norte e as flores
desabrocham no solo e até adormecem,
você alteia o verão com sua respiração
para que ele não se perca jamais tão profundamente.
Sua vida você vive com a luz que encontra
e escolta da melhor maneira possível,
conduzindo na escuridão por onde quer que vá
sua diminuta chama que outra vez se acenderá.

Trad.: Nelson Santander

The Dream of Now

When you wake to the dream of now
from night and its other dream,
you carry day out of the dark
like a flame.
When spring comes north and flowers
unfold from earth and its even sleep,
you lift summer on with your breath
lest it be lost ever so deep.
Your life you live by the light you find
and follow it on as well as you can,
carrying through darkness wherever you go
your one little fire that will start again.

William Stafford – Uma cópia de arquivo

Deus tira uma foto sua: não desvie o olhar –
neste quarto agora, seu rosto inclinado
exatamente como é antes que você possa pensar
ou controla-lo. Vá em frente, deixe trair
todas as emergências secretas e ainda mantenha
aquele disfarce parcial que você chama de seu caráter.

Mesmo o seu lábio, dizem eles, o modo como ele arqueia
ou não, ou como ele não se decide, entregará
fardos de evidências. A câmera, totalmente aberta,
está pronta; a exposição é por trinta e cinco anos
ou mais – depois disso você se transforma,
qualquer que seja o seu verniz, por completo.

Agora você quer se explicar. Sua mãe
teve uma certa – como expressa-lo? – influência.
Sim. E seu pai, quem quer que ele tenha sido,
não poderia mudar isso. Não. E sua cidade,
claro, tinha seus limites. Prossiga, continue falando:
Espere. Não se mexa. Esse é você para sempre.

Trad.: Nelson Santander

An archival print

God snaps your picture: don’t look away –
this room right now, your face tilted
exactly as it is before you can think
or control it. Go ahead, let it betray
all the secret emergencies and still hold
that partial disguise you call your character.

Even your lip, they say, the way it curves
or doesn’t, or can’t decide, will deliver
bales of evidence. The camera, wide open,
stands ready; the exposure is thirty-five years
or so – after that you have become
whatever the veneer is, all the way through.

Now you want to explain. Your mother
was a certain – how to express it? – influence.
Yes. And your father, whatever he was,
you couldn’t change that. No. And your town
of course had its limits. Go on, keep talking :
Hold it. Don’t move. That’s you forever.