Meu esqueleto,
que um dia doeu
com o próprio crescimento,
está agora,
a cada ano
imperceptivelmente menor,
mais leve,
absorvido por sua própria
concentração.
Quando eu dancei,
você dançou.
Quando você quebrou,
eu.
E assim foi, deitando,
caminhando,
subindo os fatigantes degraus.
Seus maxilares. Meu pão.
Algum dia você,
o que resta de você,
será extirpado deste casamento.
Artrite dos ossos do pulso,
harpa trincada da caixa torácica,
ponta partida do calcanhar,
exposta cavidade do crânio,
pratos gêmeos da pélvis –
cada pedaço seu me deixará para trás,
afinal serena.
O que sabia eu de seus dias,
suas noites,
eu que o segurei por toda minha vida
em minhas mãos
e pensei que elas estivessem vazias?
Você que me segurou a vida toda
em suas mãos
como uma mãe recente
segura seu próprio filho indefeso,
sem pensar em nada.
Trad.: Nelson Santander
My skeleton
My skeleton,
who once ached
with your own growing larger,
are now,
each year
imperceptibly smaller,
lighter,
absorbed by your own
concentration.
When I danced,
you danced.
When you broke,
I.
And so it was lying down,
walking,
climbing the tiring stairs.
Your jaws. My bread.
Someday you,
what is left of you,
will be flensed of this marriage.
Angular wristbone’s arthritis,
cracked harp of rib cage,
blunt of heel,
opened bowl of the skull,
twin platters of pelvis—
each of you will leave me behind,
at last serene.
What did I know of your days,
your nights,
I who held you all my life
inside my hands
and thought they were empty?
You who held me all your life
in your hands
as a new mother holds
her own unblanketed child,
not thinking at all.
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