Tudo bem quando termina bem E os seus olhos, e os seus olhos não estão rasos d’água Mas eu sei que no coração ficaram muitas palavras Um vocabulário inteiro de ilusão
Tudo que viceja também pode agonizar E perder seu brilho em poucas semanas E não podemos evitar que a vida trabalhe com o seu relógio invisível Tirando o tempo de tudo que é perecível
É impossível, é impossível esquecer você É impossível esquecer o que vivi É impossível esquecer, o que senti
Tudo que morre fica vivo na lembrança Como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça Mas antes que eu me esqueça, antes que tudo se acabe Eu preciso, eu preciso, dizer a verdade
É impossível, é impossível esquecer você É impossível esquecer o que vivi É impossível esquecer, o que senti É impossível!
“Sou a favor da ditadura”, disse ele, “Do pau de arara e da tortura”, concluiu. “Mas o regime, mais do que ter torturado, Tinha que ter matado trinta mil”. E em contradita ao que afirmou, na caradura Disse: “Não houve ditadura no país”.
E no real o incrível, o inacreditável Entrou que nem um pesadelo, infeliz, Ao som raivoso de uma voz inconfiável Que diz e mente e se desmente e se desdiz.
Disse que num quilombo “os afrodescendentes Pesavam sete arrobas” – e daí pra mais: Que “não serviam nem pra procriar”, Como se fôssemos, nós negros, animais. E ainda insiste que não é racista E que racismo não existe no país.
Como é possível, como é aceitável Que tal se diga e fique impune quem o diz? Tamanha injúria não inocentável, Quem a julgou, que júri, que juiz?
Disse que agora “o índio está evoluindo, Cada vez mais é um ser humano igual a nós. Mas isolado é como um bicho no zoológico”, E decretou e declarou de viva voz: “Nem um centímetro a mais de terra indígena!, Que nela jaz muita riqueza pro país”.
Se pronuncia assim o impronunciável Tal qual o nome que tal “hino” nunca diz, Do inumano ser, o ser inominável, Do qual emanam mil pronunciamentos vis.
Disse que se tivesse um filho homossexual, Preferiria que o progênito “morresse”. Pruma mulher disse que não a estupraria, Porque “você é feia, não merece”. E ainda disse que a mulher, “porque engravida”, “Deve ganhar menos que o homem” no país.
Por tal conduta e atitude deplorável, Sempre o comparam com alguns quadrúpedes. Uma maldade, uma injustiça inaceitável! Tais animais são mais afáveis e gentis.
Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
Chamou o tema ambiental de “importante Só pra vegano que só come vegetal”; Chamou de “mentirosos” dados científicos Do aumento do desmatamento florestal. Disse que “a Amazônia segue intocada, Praticamente preservada no país”.
E assim negou e renegou o inegável, As evidências que a Ciência vê e diz, Da derrubada e da queimada comprovável Pelas imagens de satélites.
E proclamou : “Policial tem que matar, Tem que matar, senão não é policial. Matar com dez ou trinta tiros o bandido, Pois criminoso é um ser humano anormal. Matar uns quinze ou vinte e ser condecorado, Não processado” e condenado no país.
Por essa fala inflexível, inflamável, Que só a morte, a violência e o mal bendiz, Por tal discurso de ódio, odiável, O que resolve são canhões, revólveres.
“A minha especialidade é matar, Sou capitão do exército”, assim grunhiu. E induziu o brasileiro a se armar, Que “todo mundo, pô, tem que comprar fuzil”, Pois “povo armado não será escravizado”, Numa cruzada pela morte no país
E num desprezo pela vida inolvidável, Que nem quando lotavam UTIs E o número de mortos era inumerável, Disse “E daí? Não sou coveiro”. “E daí?”
“Os livros são hoje ‘um montão de amontoado’ De muita coisa escrita”, veio a declarar. Tentou dizer “conclamo” e disse “eu canclomo”; Não sabe conjugar o verbo “concl…amar”. Clamou que “no Brasil tem professor demais”, Tal qual um imbecil pra imbecis.
Vigora agora o que não é ignorável: Os ignorantes ora imperam no país (O que era antes, ó pensantes, impensável)… Quem é essa gente que não sabe o que diz?
Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
Chamou de “herói” um coronel torturador E um capitão miliciano e assassino. Chamou de “escória” bolivianos, haitianos… De “paraíba” e “pau de arara” o nordestino. E diz que “ser patrão aqui é uma desgraça”, E diz que “fome ninguém passa no país”.
Tal qual num filme de terror, inenarrável, Em que a verdade não importa nem se diz, Desenrolou-se, incontível, incontável, Um rol idiota de chacotas e pitis.
Disse que mera “fantasia” era o vírus E “histeria” a reação à pandemia; Que brasileiro “pula e nada no esgoto, Não pega nada”, então também não pegaria O que chamou de “gripezinha” e receitou (sim!), Sim, cloroquina, e não vacina, pro país.
E assim sem ter que pôr à prova o improvável, Um ditador tampouco põe pingo nos is, E nem responde, falador irresponsável, Por todo ato ou toda fala pros Brasis.
E repetiu o mote “Deus, pátria e família” Do integralismo e da Itália do fascismo, Colando ao lema uma suspeita “liberdade”… Tal qual tinha parodiado do nazismo O slogan “Alemanha acima de tudo”, Pondo ao invés “Brasil” no nome do país.
E qual num sonho horroroso, detestável, A gente viu sem crer o que não quer nem quis: Comemorarem o que não é memorável, Como sinistras, tristes efemérides…
Já declarou: “Quem queira vir para o Brasil Pra fazer sexo com mulher, fique à vontade. Nós não podemos promover turismo gay, Temos famílias”, disse com moralidade. E já gritou um dia: “Toda minoria Tem de curvar-se à maioria!” no país.
E assim o incrível, o inacreditável, Se torna natural, quanto mais se rediz, E a intolerância, essa sim intolerável, Nessa figura dá chiliques mis.
Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
Por vezes saem, caem, soam como fezes Da sua boca cada som, cada sentença… É um nonsense, é um caô, umas fake-news, É um libelo leviano ou uma ofensa. Porque mal pensa no que diz, porque mal pensa, “Não falo mais com a imprensa”, um dia diz.
Mas de fanáticos a horda lamentável, Que louva a volta à ditadura no país, A turba cega-surda surta, insuportável, E grita “mito!”, “eu autorizo!”, e pede “bis!”
E disse “merda, bosta, porra, putaria, Filho da puta, puta que pariu, caguei!” E a cada internação tratando do intestino E a cada termo grosso e um “Talquei?”, O cheiro podre da sua retórica Escatológica se espalha no país.
“Sou imorrível, incomível e imbrochável”, Já se gabou em sua tão caracterís- Tica linguagem baixo nível, reprovável, Esse boçal ignaro, rei de mimimis.
Mas nada disse de Moise Kabagambe, O jovem congolês que foi aqui linchado. Do caso Evaldo Rosa, preto, musicista, Com a família no automóvel baleado, Disse que a tropa “não matou ninguém”, somente “Foi um incidente” oitenta tiros de fuzis…
“O exército é do povo e não foi responsável”, Falou o homem da gravata de fuzis, Que é bem provável ser-lhe a vida descartável, Sendo de negro ou de imigrante no país.
Bradou que “o presidente já não cumprirá Mais decisão” do magistrado do Supremo, Ao qual se dirigiu xingando: “Seu canalha!” Mas acuado recuou do tom extremo, E em nota disse: “Nunca tive intenção (Não!) De agredir quaisquer Poderes” do país.
Falhou o golpe mas safou-se o impeachável, Machão cagão de atos pusilânimes, O que talvez se ache algum herói da Marvel Mas que tá mais pra algum bandido de gibis.
Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
E sugeriu pra poluição ambiental: “É só fazer cocô, dia sim, dia não”. E pra quem sugeriu feijão e não fuzil: “Querem comida? Então, dá tiro de feijão”. É sem preparo, sem noção, sem compostura. Sua postura com o posto não condiz.
No entanto “chega! […] vai agora [inominável]”, Cravou o maior poeta vivo, no país, E ecoou o coro “fora, [inominável]!” E o panelaço das janelas nas metrópoles!
E numa live de golpista prometeu: “Sem voto impresso não haverá eleição!” E praguejou pra jornalistas: “Cala a boca! Vocês são uma raça em extinção!” E no seu tosco português ele não pára: Dispara sempre um disparate o que maldiz.
Hoje um mal-dito dito dele é deletável Pelo Insta, Face, YouTube e Twitter no país. Mas para nós, mais do que um post, é enquadrável O impostor que com o posto não condiz.
Disse que não aceitará o resultado Se derrotado na eleição da nossa história, E: “Eu tenho três alternativas pro futuro: Ou estar preso, ou ser morto ou a vitória”, Porque “somente Deus me tira da cadeira De presidente” (Oh Deus proteja esse país!”).
Tivéssemos um parlamento confiável, Sem x comparsas seus cupinchas, cúmplices, E seu impeachment seria inescapável, Com n inquéritos, pedidos, CPIs.
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Não há cortina de fumaça indevassÁvel Que encubra o crime desses tempos inci-vis E tampe o sol que vem com o dia inadiÁvel E brilha agora qual farol na noite gris. É a esperança que renasce onde HÁ véu, De um horizonte menos cinza e mais feliz. É a passagem muito além do instagramÁvel Do pesadelo à utopia por um triz, No instante crucial de liberdade instÁvel Pros democráticos de fato, equânimes, Com a missão difícil mas realizável De erguer das cinzas como fênix o país.
E quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
O homem velho deixa a vida e morte para trás Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais O homem velho é o rei dos animais
A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol As linhas do destino nas mãos a mão apagou Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock’n’roll As coisas migram e ele serve de farol
A carne, a arte arde, a tarde cai No abismo das esquinas A brisa leve traz o olor fugaz Do sexo das meninas
Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon Belezas, dores e alegrias passam sem um som Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom
Os filhos, filmes, livros, ditos como um vendaval Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual Já tem coragem de saber que é imortal
REPUBLICAÇÃO: Vídeo e letra publicados no blog originalmente em 18/04/2016
O episódio em que Chico Buarque foi xingado por um grupo de jovens aparentemente bêbados no final do ano passado suscitou uma série de discussões nas redes sociais, colocando em polos opostos, uma vez mais, de um lado, os defensores do PT e da esquerda de um modo geral, além dos fãs do compositor, e, de outro, os que querem ver o PT – e todos os que se identificam com o partido, como o compositor – varridos da face do planeta.
Acho que o assunto já foi exaustivamente debatido e acredito que a grosseria cometida contra o artista foi devidamente repudiada por aqueles que são detentores de um mínimo de bom senso: o fato de o Chico ter uma postura defensiva em relação ao PT não autoriza ninguém a xingá-lo na rua (“Você é um merda!”, vociferou um dos playboys).
No meio dos inúmeros impropérios bradados contra o artista pelos que defendiam os playboys nas redes sociais, chamou-me a atenção aqueles que diziam respeito à sua obra. Não foram poucos os que tacharam o compositor de “medíocre” e seu trabalho de “chato” ou de baixa qualidade. Provavelmente a maioria dos que emitiu sua opinião contra o Chico artista não conhece nada de seu trabalho. E se conhecem, realmente não gostam. A arte de Chico, de fato, não é para todos. Melodias pouco óbvias e letras mais elaboradas do que o habitual na música brasileira tornam seu trabalho praticamente inacessível ao grande público. Os demais críticos simplesmente não tiveram a habilidade de separar o Chico cidadão e eleitor do PT do Chico artista, e atacaram este pela orientação política daquele.
E houve aqueles que, embora reconheçam que o artista é detentor “de um certo talento”, suscitaram a existência de uma espécie de corte temporal na qualidade de seu trabalho. Para estes, a última canção de boa qualidade do Chico foi composta nos anos 80 e nada do que ele produziu de lá para cá prestaria. Será mesmo?
Olhando a discografia do Chico dos anos 90 até hoje, podemos ver que ele lançou cinco discos de canções inéditas (com algumas regravações): Paratodos (1993), As Cidades (1998), Cambaio (2001), Carioca (2006) e Chico (2011). Os dois primeiros são de altíssimo nível, e contam com canções que, se não superam, rivalizam com o que de melhor o compositor produziu nos anos anteriores. São de Paratodos (1993) as obras primas “Paratodos” (em que o compositor faz sua profissão de fé), “Choro Bandido”, “Tempo e Artista”, “De Volta ao Samba” (cuja aparente simplicidade melódica esconde um samba de melodia extremamente sofisticada), “A Foto da Capa” e aquela que é uma das mais belas canções compostas pelo artista, “Futuros Amantes”:
Não se afobe, não Que nada é pra já O amor não tem pressa Ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário Na posta-restante Milênios, milênios no ar
E quem sabe, então O Rio será Alguma cidade submersa Os escafandristas virão Explorar sua casa Seu quarto, suas coisas Sua alma, desvãos
Sábios em vão Tentarão decifrar O eco de antigas palavras Fragmentos de cartas, poemas Mentiras, retratos Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não Que nada é pra já Amores serão sempre amáveis Futuros amantes, quiçá Se amarão sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra você
De As Cidades (1998), destacam-se: “Sonhos Sonhos São”, “A Ostra e o Vento” (que tem essa linda estrofe: “Se o mar tem o coral / A estrela, o caramujo / Um galeão no lodo / Jogada num quintal / Enxuta, a ostra guarda o mar / No seu estojo”), “Assentamento” e a belíssima “Cecília”, que tinha versos como estes:
(…) Me escutas, Cecília? Mas eu te chamava em silêncio Na tua presença Palavras são brutas Pode ser que, entreabertos, Meus lábios de leve Tremessem por ti Mas nem as sutis melodias Merecem, Cecília, teu nome Espalhar por aí
Como tantos poetas Tantos cantores Tantas Cecílias Com mil refletores, Eu, que não digo Mas ardo de desejo, Te olho Te guardo Te sigo Te vejo dormir
Para Carioca (2006), Chico Buarque compôs (em parceria – a primeira – com Ivan Lins) uma verdadeira pérola chamada “Renata Maria”, que será objeto de análise deste artigo.
Para Luca Bacchini (in Chico Buarque: o poeta das mulheres, dos desvalidos e dos perseguidos, organizado por Rinaldo de Fernandes), a letra de Renata Maria, “aparentemente insignificante”, chama a atenção pela sofisticação de sua construção, que contrastaria com a trivialidade da temática.
De que temática estamos falando?
De fato, a canção retrata uma história absurdamente simples: um homem vê uma mulher na praia (a quem ele chama de Renata Maria) e fica encantado por ela, passando a procura-la todos os dias na praia, em vão. Apenas isso. Mas, por baixo da aparente simplicidade do enredo, temos uma verdadeira ourivesaria na construção da letra da música, escancarando o talento do compositor no fazer poético.
A canção começa com uma descrição pictórica da primeira visão que o narrador tem de Renata Maria:
Ela era ela era ela no centro da tela daquela manhã Tudo o que não era ela se desvaneceu Cristo, montanhas, florestas, acácias, ipês
Pranchas coladas na crista das ondas, as ondas suspensas no ar Pássaros cristalizados no branco do céu E eu, atolado na areia, perdia meus pés
Já de início, percebemos a obsessão do narrador pela musa da canção na repetição da palavra “ela” (inclusive nas rimas internas encontradas nas palavras “tela” e “aquela”). O encantamento causado pelo surgimento da mulher objetificada prossegue a ponto de causar o desvanecimento de tudo o que estava ao alcance da vista do homem (Cristo, montanhas, florestas, acácias, ipês) e a imposição de uma percepção onírica da realidade (Pranchas coladas na crista das ondas, as ondas suspensas no ar / Pássaros cristalizados no branco do céu). A visão, a se crer no narrador, é de tirar o fôlego e de fazer perder o chão, o que se reflete no duplo sentido contido no verso E eu, atolado na areia, perdia meus pés.
A canção prossegue alterando o foco narrativo antes voltado para o contexto da visão do narrador para o seu eu interior, retornando em seguida, uma última vez, para o exterior. Acentua-se, também, a sensação de incapacidade de reação do personagem, que fica sem palavras diante da fulgurosa visão de sua musa saindo do mar:
Músicas imaginei Mas o assombro gelou Na minha boca as palavras que eu ia falar Nem uma brisa soprou Enquanto Renata Maria saía do mar
Na sequência, vemos que o narrador passa a buscar sua musa, obsessivamente, dia após dia na mesma praia em que a viu saindo do mar:
Dia após dia na praia com olhos vazados de já não a ver Quieto como um pescador a juntar seus anzóis Ou como algum salva-vidas no banco dos réus
É notável a força da qualidade poética contida no primeiro verso que, em poucas e bem colocadas palavras, dá a exata medida do estado de ânimo do narrador. Se, de um lado, a expressão dia após dia indica que o narrador visita a mesma praia por vários dias sucessivos, a menção aos olhos vazados de não a ver sugerem que o personagem não enxerga mais nada nem ninguém nesses longos dias, alimentados exclusivamente pela busca do objeto de seu desejo.
Os versos seguintes indicam que a busca é de uma quietude obstinada, mas inócua: o pescador que junta seus anzóis voltou de mãos vazias da pescaria; o salva-vidas no banco dos réus (que metáfora linda) nada fez o dia todo além de esperar.
A sequência de versos seguinte é primorosa:
Noite na praia deserta, deserta, deserta daquela mulher Praia repleta de rastros em mil direções Penso que todos os passos perdidos são meus
Luca Bacchini assim interpreta este trecho da canção:
“É noite e o homem fica sozinho na praia. Andando contra qualquer princípio da arte venatória, aproveita a escuridão para abandonar a posição passiva de espera e passar à procura ativa. Mas Renata Maria continua a escapar-lhe. Ainda nesses versos o significado expresso pelas palavras resulta enriquecido por sofisticadas engenharias linguísticas. O adjetivo “deserta”, repetido três vezes, assemelha-se a uma voz que ecoa dentro de um espaço vasto, vazio e paradoxalmente fechado. Embora a praia seja habitualmente um espaço aberto onde não se realiza o fenômeno do eco, estamos aqui numa paisagem surreal, petrificada e asfíxica, fechada em cada lado: atrás pelas montanhas, de frente pelas ondas suspensas, em cima pelo branco do céu e pelos pássaros cristalizados e embaixo pela areia. Ao mesmo tempo o adjetivo “deserta”, mesmo que se referindo ao lugar, fornece informações também sobre o protagonista. A sua repetição devolve também a angústia da busca infrutífera do homem que persegue, sem nunca achar, a personificação de uma obsessão. De fato, do ponto de vista prosódico e musical, a passagem do si bemol das primeiras sílabas ao mi da última – de(si b.)-ser(si b.)-ta(mi) – reproduz, cada vez que a palavra “deserta” é pronunciada, um efeito ofegante, como se quem fala tivesse apenas terminado uma corrida, ficando sem o ar suficiente para pronunciar a última sílaba.”
É noite, como o próprio protagonista deixa claro. A praia, vazia, está repleta de rastros em mil direções como seria de se esperar de um lugar que é, durante o dia, frequentado por inúmeras pessoas. O personagem, todavia, está tão obcecado em sua busca que afirma, categoricamente, que todos os passos perdidos são dele. Os versos têm um efeito imagético muito forte, mas sua força maior reside naquilo que revela sobre o estado de espírito do narrador: o de alguém completamente perdido por conta de sua obstinação.
A canção termina da mesma maneira com que acordamos de um sonho bom: com uma resignação encharcada de um sentimento de perda; perda de algo que se sabe inalcançável ou talvez inexistente.
Eu já sabia, meu Deus Tão fulgurante visão Não se produz duas vezes no mesmo lugar Mas que danado fui eu Enquanto Renata Maria saía do mar
Há uma resignação amarga na constatação de que, embora o personagem já soubesse disso de antemão, a fulgurante visão de Renata Maria não se reproduziria novamente naquela praia.
Os dois últimos versos indicam o destino do narrador. O adjetivo substantivo danado comporta, no contexto, ao menos duas interpretações.
A primeira delas tem a ver com a acepção mais vulgar do termo, no sentido de alguém que é muito esperto, malandro, travesso, arteiro. Nesse sentido, os versos mas que danado fui eu enquanto Renata Maria saía do mar adicionam um elemento novo à interpretação: o de que a visão da musa suscitou no narrador outro tipo de obsessão: a da lubricidade.
No entanto, danado é também sinônimo de condenado, o que implica dizer que o narrador reclama o seu destino de ter sido amaldiçoado para sempre assim que colocou os olhos naquela mulher que não mais retornará àquela praia. Ele sabe que teve uma breve visão da beleza absoluta e que a deixou escapar para nunca mais, tornando-se, assim, vítima de um momento de danação que se perpetuará no tempo, em sua memória.
Alguém ainda acha que o melhor Chico ficou nos anos 80?
Post Scriptum, em 07/02/16: Chico nunca esteve sozinho. Charles Baudelaire, há dois séculos, já havia escrito um poema magistral sobre o tema do encontro fortuito com a mulher desconhecida que fica gravada para sempre na memória do artista:
A Uma Passante – Charles Baudelaire
A rua, em torno, era ensurdecedora vaia. Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa, Uma mulher passou, com sua mão vaidosa Erguendo e balançando a barra alva da saia;
Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina. Eu bebia, como um basbaque extravagante, No tempestuoso céu de seu olhar distante, A doçura que encanta e o prazer que assassina.
Brilho… e a noite depois! – Fugitiva beldade De um olhar que me fez nascer segunda vez, Não mais te hei de rever senão na eternidade?
Longe daqui! tarde demais! “nunca” talvez! Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste, Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!
Trad.: Guilherme de Almeida
REPUBLICAÇÃO: o artigo foi originalmente publicado no blog em 15/04/2016. No ano seguinte, Chico lançaria o álbum Caravanas, com outras pequenas pérolas, como “Tua Cantiga” (que causou um certo ruído na esquerda entre as feministas) e “Massarandupió”. Dentre elas, a última do disco, As Caravanas, cuja letra, de tão boa, reproduzo na íntegra:
É um dia de real grandeza, tudo azul Um mar turquesa à la Istambul enchendo os olhos Um sol de torrar os miolos Quando pinta em Copacabana A caravana do Arará, do Caxangá, da Chatuba A caravana do Irajá, o comboio da Penha Não há barreira que retenha esses estranhos Suburbanos tipo muçulmanos do Jacarezinho A caminho do Jardim de Alá É o bicho, é o buchicho, é a charanga
Diz que malocam seus facões e adagas Em sungas estufadas e calções disformes É, diz que eles têm picas enormes E seus sacos são granadas Lá das quebradas da Maré
Com negros torsos nus deixam em polvorosa A gente ordeira e virtuosa que apela Pra polícia despachar de volta O populacho pra favela Ou pra Benguela, ou pra Guiné
Sol, a culpa deve ser do sol Que bate na moleira, o sol Que estoura as veias, o suor Que embaça os olhos e a razão
E essa zoeira dentro da prisão Crioulos empilhados no porão De caravelas no alto mar
Tem que bater, tem que matar, engrossa a gritaria Filha do medo, a raiva é mãe da covardia Ou doido sou eu que escuto vozes Não há gente tão insana Nem caravana do Arará Não há, não há
Sol, a culpa deve ser do sol Que bate na moleira, o sol Que estoura as veias, o suor Que embaça os olhos e a razão
E essa zoeira dentro da prisão Crioulos empilhados no porão De caravelas no alto mar
Ah, tem que bater, tem que matar, engrossa a gritaria Filha do medo, a raiva é mãe da covardia Ou doido sou eu que escuto vozes Não há gente tão insana Nem caravana Nem caravana Nem caravana do Arará
Sei não, mas tenho a impressão de que aqueles que criticavam o Chico em 2016, ao ver a letra dessa canção, devem ter odiado. Até o ser humano mais tosco consegue enxergar-se quando um espelho é colocado na sua cara.
Meu xará Nelson Motta costuma afirmar, sem firulas, que a música americana é a melhor do mundo. O jornalista, compositor, escritor, roteirista, produtor musical, teatrólogo e letrista paulista radicado no Rio de Janeiro dispensa apresentações: sua extensa produção em todos os quadrantes da atividade musical – da produção à composição, passando pela crítica e história da música – lhe conferem um certo estatuto privilegiado para falar sobre o tema. Se ele diz que a música americana é a melhor do planeta, não sou eu quem irá contradita-lo.
É uma afirmação ousada, concordo. Afinal, todo país conta com artistas capazes de engendrar uma gama de produções artísticas de alta qualidade. Mas não dá para negar que, por uma série de razões (que vão da riqueza econômica do país mais rico do planeta à diversidade cultural que se verifica entre as diversas regiões do país, passando por um sistema educacional que incentiva as atividades voltadas às artes), a produção cultural americana é farta e diversificada. Em um ambiente assim, quase darwiniano, é enorme a possibilidade de que novos artistas talentosos possam surgir. Por sua visibilidade, o campo musical é onde essa profusão se revela com maior clareza: do rock ao jazz, do country à música clássica, do pop ao blues, não há nenhuma forma de expressão musical que os americanos não dominem com maestria. Nos estilos mais populares – mesmo no pop -, melodias sofisticadas costumam vir de par com letras muito bem escritas.
É o caso da pequena pérola chamada This Year, do The White Buffalo – nome artístico do cantor compositor americano Jake Smith -, que publiquei pela primeira vez no blog há dois anos, e à qual eu sempre retorno nos finais de ano. Pouco conhecido do público brasileiro – e mesmo do grande público americano -, Jake Smith já tem uma sólida carreira musical, iniciada com o lançamento de seu primeiro álbum – Hogtied Like a Rodeo – em 2002. Os fãs da série Sons of Anarchy talvez o conheçam porque várias canções interpretadas (e algumas compostas) por ele fizeram parte da trilha sonora do seriado (“Come Join The Murder”, “Matador”, “Damned”, “Wish It Was True”, “House of the Rising Sun” (com os The Forest Rangers), “The Whistler”, “Set My Body Free”, “Sweet Hereafter”, “Oh Darling, what have I done” e “Bohemian Rhapsody” (também com os The Forest Rangers).
Para alguém que topa com o seu trabalho pela primeira vez, duas coisas impressionam: primeiro, o vozeirão e a técnica vocal do cara. Realmente, é assombroso como ele canta bem. E segundo, a qualidade das suas canções. Influenciado por dois gêneros aparentemente inconciliáveis – o country (o estilo musical favorito de seus pais) e o punk rock, mais rock, soul, folk, blues – suas melodias são belas e variadas. Muitas vezes, imprevisíveis. Sobre suas letras, o artista costuma dizer que, por apreciar “músicas realmente honestas”, como as de Bob Dylan, Leonard Cohen, Elliot Smith e Kris Kristofferson, seu objetivo ao escrever é sempre abordar os temas “de uma forma real, de uma forma honesta”:
“Eu entro em cada personagem e o empurro o mais longe que posso. Por exemplo, “If I Lost My Eyes” é uma canção do novo álbum (ele se refere ao álbum de 2019, “Darkest Darks, Lightest Lights”), é muito sombria e baseada na ideia de que se você perder suas faculdades mentais, seu companheiro ficará com você, ele preencherá esse vazio?” (https://www.musicradar.com/news/the-white-buffalo-youre-just-trying-to-hit-people-in-the-heart-with-songs)
This Year é a nona canção do álbum Shadows, Greys & Evil Ways (um puta álbum, diga-se de passagem). Trata-se de um folk-rock cuja melodia e arranjos seguem, em termos de cadência e força, a história contada na letra, emprestando à canção um sentido mais completo. A letra acompanha por um ano a história da vida de um típico looser americano. Jake Smith se vale da passagem das estações (inverno, primavera, verão, outono e inverno novamente) para indicar o estado de espírito do personagem que conta sua história em primeira pessoa.
O ciclo se inicia com a virada do ano (que ocorre no inverno norte-americano). A força do compositor já pode ser sentida nos primeiros versos que, embora descrevam a euforia típica que toma conta das pessoas nas festas de fim de ano, revelam que se trata de uma falsa felicidade – pelo menos do ponto de vista do personagem que fala de si e de suas agruras. Sob esse aspecto, são reveladoras, nessa primeira parte, os versos “O ano novo veio com o mesmo velho elenco”, “Nós dançamos e bebemos como se ele fosse o último” e “Vamos nos concentrar nesta noite única / E apenas torcer para que cheguemos em casa vivos”.
Com a chegada da primavera – que marca, psicologicamente, o início efetivo do ano dos EUA após a temporada de inverno -, o personagem parece se animar. Para demonstrar o novo estado de espírito do homem, o compositor enfileira versos que, sem explicitar a leveza de espírito do personagem, mostram que ele está atento ao que ocorre ao seu redor:
Os dias ficam mais longos, e as noites mais curtas A mãe acorda um pouco mais radiante do que antes O gelo derrete e os jardins florescem O ar fresco e os campos são adoráveis A grama e os narcisos fazem cócegas em nossos pés As flores, elas desabrocham e os pássaros, eles cantam Preenchendo o dia com as melodias que eles produzem
Mas nosso depressivo personagem, embora perceba a beleza da nova estação, não se deixa afetar muito por ela. Conquanto flores e pássaros cantem na sua frente, ele não sente “mais vontade de cantar”, pois, para ele “as estações mudam”, mas ele não muda “em nada”. De toda forma, mesmo consciente de estar sujeito a erros e acertos, ele acredita ser possível “melhorar” e ser “diferente” no ano que se inicia.
O verão é a única estação do ano em que o personagem parece se livrar de seu estado depressivo e acreditar que tudo pode realmente mudar para melhor. É o que ele afirma, peremptoriamente e não sem uma ponta de desconfiança, após descrever como as pessoas e coisas se comportam na estação do ano mais alegre:
Oh, o futuro, o futuro parece promissor Eu até acho que posso acertar tudo, afinal
Mas chega, então, o “melancólico outono”, soprando “para longe os ventos do verão”. A metáfora não é gratuita. A chegada do outono que expulsa o verão marca o início da derrocada anual do personagem. Jake Smith se vale como nunca dos efeitos causados pelo outono no clima e na natureza para explicitar os dramas internos e externos enfrentados pelo personagem. “As folhas caem das árvores” e ele percebe que nunca mais as verá novamente – constatando que a fase boa de sua vida naquele ano já acabou. O personagem então diz que é hora de se recolher, “ficar dentro de casa”. Os próximos versos – terríveis – também usam as mudanças típicas sofridas pela natureza no outono americano para demonstrar com toda força o grau de devastação interna do personagem:
Sem flores, nem frutos, e os gramados todos morrem Como pode tudo desmoronar tão rápido? E por que eu achei que iria durar? Quando tudo está morrendo, como eu posso me sentir vivo? Oh, a vida é curta, e todos os dias bons desapareceram
O personagem constata então que talvez esteve “perdido” até aquele momento. Com o restinho de forças que lhe restam, ainda tem a esperança de que talvez possa se encontrar no ano que já vai terminando.
Mas então chega o inverno, a mais terrível das estações para um depressivo. O personagem, que havia se recolhido dentro de casa no outono, é dela arrancado à força pelo inverno, que lhe “derruba a porta” e faz o seu sangue fluir. Ao contrário do que acontecia na primavera (Os “dias ficam mais longos, e as noites mais curtas”), agora os “dias são muito curtos e as noites muito longas”. O natal está próximo, mas não traz felicidade nenhuma, até porque, “todo o dinheiro se foi”, sem que o personagem saiba “para onde”: “O natal não é fácil quando você não pode pagar o aluguel”. É quando “as luzes se apagam para uma noite infeliz”*. À essa altura, embora o personagem saiba que não pode desistir (pois “tudo o que você pode fazer é persistir na luta”), ele tem a plena consciência de que já perdeu o jogo. E de lavada. E sabe que não tem mais tempo para reverter o resultado:
Oh, a vida é dura, eu tenho lutado: um fracasso. Talvez eu tenha estado perdido Não acho que eu irei me encontrar Este ano
Os versos finais da canção são um verdadeiro exercício de resignação e, surpreendentemente, de esperança. Ele de novo reconhece seus erros e acertos e renova a esperança de que talvez consiga melhorar e de que pode ser que o ano seja diferente. Mas não esse, que acabou. O próximo. A sacada de Jake Smith, aqui, é repetir quase que integralmente o verso em que ele anunciava que o ano que se iniciava talvez pudesse ser diferente para melhor (“Maybe I’ll get better, maybe I’ll be different, this year”), alterando apenas uma palavra: this é substituída por next. Com isso, o personagem promove o realinhamento de sua vida fracassada com o ano que se inicia, na esperança de que neste ano novo tudo possa melhorar – evidenciando, portanto, o caráter circular da letra da canção.
Publiquei pela primeira vez o vídeo legendado desta canção (com alguns erros de tradução, devidamente corrigidos abaixo) no dia 31 de dezembro de 2018. O vídeo vinha acompanhado do seguinte texto:
Acho que toda mensagem de “Feliz Ano Novo” se resume à ideia contida na letra desta música: tente melhorar sempre e sempre. Se não der, tente de novo no ano que vem. E no outro. E no outro. Uma hora dá certo. Ou não.
Feliz 2019!
Dois anos depois, em 31 de dezembro de 2020 – o grande ano da peste – continuo pensando desta forma. Só que hoje estou bem menos esperançoso.
Feliz 2021! Se você conseguir.
* N. do T.: o verso original é assim: And the lights go out to a silent night. Silent Night é o nome de uma das canções natalinas mais conhecidas em todo o planeta. No Brasil, ela foi conhecida por Noite Feliz. Traduzido literalmente, o verso original ficaria mais ou menos assim: E as luzes se apagam para uma noite silenciosa. Para tentar aproveitar o efeito poético da paráfrase usada pelo compositor, também me vali do título em português da canção, mas invertendo o adjetivo de feliz para infeliz, o que, acredito, não afetou o sentido original pretendido pelo autor da canção).
Para quem quiser conhecer mais do trabalho do The White Buffalo, seguem alguns links interessantes:
O canal oficial do artista no Youtube (no qual, dentre outros materiais, periodicamente ele publica uns vídeos divertidíssimos da série “In the garage”, gravados literalmente na garagem da casa dele): https://thewhitebuffalo.com/
Outro ano mais velho, ele veio e se foi O sangue, as lágrimas e o dinheiro gasto O ano novo veio com o mesmo velho elenco Nós dançamos e bebemos como se ele fosse o último Agitando e esperando que a contagem regressiva comece Em câmara lenta, do dez até o um Um beijo e os fogos de artifício iluminam o céu Caindo aos pedaços durante a “Auld Lang Syne” Vamos nos concentrar nesta noite única E apenas torcer para que cheguemos em casa vivos
A terra gira, a primavera se precipita Os dias ficam mais longos, e as noites mais curtas A mãe acorda um pouco mais radiante do que antes O gelo derrete e os jardins florescem O ar fresco e os campos são adoráveis A grama e os narcisos fazem cócegas em nossos pés As flores, elas desabrocham e os pássaros, eles cantam Preenchendo o dia com as melodias que eles produzem E eu não sinto mais vontade de cantar As estações mudam, mas eu não mudo em nada Bem, eu errei, eu acertei Isso está claro Talvez eu consiga melhorar Talvez eu seja diferente Este ano
Ooh, lá vem o verão, ele vem quente Sem camisa, nada de escola, dê a ele tudo o que você tem O sol, ele chama, então vamos para fora Brindar com nossas bebidas ao sol quente O asfalto arde nas ruas da cidade É melhor você se apressar ou irá queimar seus pés Se atirando na água, espirrando e gritando Amor e riso o suficiente para um e para todos Oh, o futuro, o futuro parece promissor Eu até acho que posso acertar tudo, afinal
Melancólico outono sopra para longe os ventos do verão As folhas caem das árvores, nunca as verei novamente Como brasas, elas flutuam pelas ruas Dourada e vermelha dança que se repete Bem, agora é fechar as cortinas Vamos ficar dentro de casa Sem flores, nem frutos, e os gramados todos morrem Como pode tudo desmoronar tão rápido? E por que eu achei que iria durar? Quando tudo está morrendo, como eu posso me sentir vivo? Oh, a vida é curta, e todos os dias bons desapareceram Talvez eu tenha estado perdido Talvez eu me encontre Este ano
Bem, o inverno e o frio chegam com a tempestade Derrubam a porta e seu sangue flui Os dias são muito curtos e as noites muito longas Os corais de natal aparecem, eu não consigo cantar junto Oh, todo o dinheiro se foi, não sei para onde O natal não é fácil quando você não pode pagar o aluguel E as luzes se apagam para uma noite infeliz E tudo o que você pode fazer é persistir na luta E eu simplesmente não consigo ver o errado E eu simplesmente não consigo ver o correto Oh, a vida é dura, eu tenho lutado: um fracasso. Talvez eu tenha estado perdido Não acho que eu irei me encontrar Este ano
Bem, eu errei, eu acertei Isso está claro. Mas talvez eu consiga melhorar Talvez seja diferente No próximo ano
Trad.: Nelson Santander
The White Buffalo – This Year
Another year older, it came and went Blood and the tears and the money spent The new year’s here with the same old cast We dance and we drink like it may be our last Buzzin’ waitin’ for the countdown to come Feels like slow motion from ten to one A kiss and the fireworks light the sky Falling apart over Auld Lang Syne Let’s focus on this night alone Just hope that we’d make it home alive The Earth it turns, spring rushes in Days get longer and nights go thin Mother wakes up a little brighter than before Cold melts away and the gardens grow The air is crisp and fields are sweet Grass and the daffodils tickling our feet Flowers they bloom and the birds they sing Fill up the day with the songs they bring And I don’t feel much like singing at all Seasons change but I don’t change at all Well I’ve done wrong, well I’ve done right, that’s clear Maybe I’ll get better, maybe I’ll be different, this year Ooh, here comes summer, well it’s comin’ in hot No shirt, no school, give it all you got The sun, it calls so let’s go outside Toastin’ our drinks in the warm sunshine The asphalt smoulders in the city streets You better run fast or you’re gonna burn your feet Splashin’ and yellin’ the cannonball Enough love and laughter for one and all Oh the future’s, future’s looking bright I think that I might get it right after all Moody autumn blows in off a summer wind Leaves fall off of the trees, never see them again Like embers they float into the streets Golden and red dance repeat Well it’s close of the curtains, let’s stay inside No flower, no fruit and the lawns all die Well how could it all fall apart so fast And why would I think it would ever last? When everything is dying, well, how can I feel alive? Oh, life is short, well all good days disappear Maybe I’ve been lost, maybe I’ll get found, this year Well the winter and the cold come storming in Kicks down the door and your blood runs thin Day’s too short and the night’s too long Carolers came, I can’t sing along Oh money’s all gone, don’t know where it went Christmas ain’t easy when you can’t pay the rent And the lights go out to a silent night And all you can do is just stay in the fight And I just can’t see the wrong, and I just can’t see the right Oh, life is hard, I’ve been fighting, a failure Maybe I’ve been lost, don’t think I’ll get found, this year Well I’ve done wrong, well I’ve done right, that’s clear But maybe I’ll get better, maybe I’ll be different, next year
Tu te esfumarás me neblinarei sobre os telhados galáxias azuis. Sonambularás te voltearei gatos lambendo as estrelas Wendy e Peter Pan sem o amanhã nunca, pra nós dois, é sempre cedo. Marietarás, eu Buarquirei em dois cavalos com asas de luz. Tu te nublarás, me eclipsarei nuvens em nossa cabeça. Toma, Peter Pan, só um lexotan pra que tanto amor não te enlouqueça. Vagalumarás por sobre o campo, eu virei do mar, teu pirilampo. Como um circo aceso, o céu da manhã saudará o amor que não dormiu. Tu desabarás eu despencarei e o mar azul vai nos cobrir.
Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado,
Ao lado teu
Acho que toda mensagem de “Feliz Ano Novo” se resume à ideia contida na letra desta música: tente melhorar sempre e sempre. Se não der, tente de novo no ano que vem. E no outro. E no outro. Uma hora dá certo. Ou não.
Feliz 2019!
The White Buffalo – This Year (Tradução e Legendas: Nelson Santander)