Espero o dia em que possa
deixar crescer as unhas
as meias por cerzir
a boca
sem propósito de beijar.
O dia que misture à noite
uma respiração de espelhos,
um registro acidental, mortificado,
ou o livro que se leu na tarde até perder a luz.
Que a natureza avance em mim sem esperança de ressurgimento.
Afagarei um cão
sem medo de guardar mãos ásperas.
E em ti não pensarei. Entre nós uma opressão de mundos,
distâncias sem cura
(do autocarro para os subúrbios, do crente
relativamente a deus),
uma disciplina oposta ao prazer.
Espero o dia em que console e gaste o corpo
um rio sujo à minha porta,
a corrente escura dos teus ombros,
uma paisagem sem apelo
abrindo as mãos dentro de mim.