20
Olha Jorge quando vier a morte
E virá cedo
“Não deixes fechar-me os olhos”
Eflorescências salitrosas me rebentarão das órbitas
Para queimar as mãos que fechar-mos queiram
– Não pode a luz negar-se a quem bêbado dela
Inventou em cada dia uma madrugada
E eis tudo quanto deixo a quem me herde
Não Jorge não deixes fechar-me os olhos
Não deixes roubar-me a luz que em vida
Neles sempre tive
Estendido no caixão sereno e impoluto
Irei de olhos abertos
Porque eu quero e sei que hei-de morrer
Como quem vive.
1956