Quem teria pensado nisso, então?
O certo é que meu pai está morto
como se nunca tivesse existido.
Um dia congelaram suas mãos e os pés,
e a casa se encheu de parentes,
e minha mãe chorou, de joelhos, junto ao leito.
Ainda me lembro.
Meu pai está morto ou já não existe,
e não basta agora saber que ele era feliz.
Neste silencioso amanhecer de outono,
enquanto a água borbulha na chaleira,
e o rádio informa as últimas catástrofes,
e eu cumpro o rito habitual de me barbear,
só uma coisa é real: sua ausência, que não cessa.
Trad.: Nelson Santander
REPUBLICAÇÃO, com alterações na tradução: poema publicado no blog originalmente em 17/02/2018
César Cantoni – El Tiempo Irreparable
Quién iba, entonces, a pensarlo.
Lo cierto es que mi padre está muerto
como si nunca hubiese estado vivo.
Un día se le helaron las manos y los pies,
y la casa se llenó de parientes,
y mi madre lloró, de rodillas, junto al lecho.
Todavía lo recuerdo.
Mi padre está muerto o ya no está,
y no es suficiente ahora saber que fue feliz.
En este callado amanecer de otoño,
mientras el agua burbujea en la pava,
y la radio reporta las últimas catástrofes,
y yo cumplo con el rito habitual de afeitarme,
sólo una cosa es real: su ausencia, que no cesa.