Affonso Romano de Sant’Anna – Carta aos Mortos

Amigos, nada mudou
em essência.

Os salários mal dão para os gastos,
as guerras não terminaram
e há vírus novos e terríveis,
embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho
tomba morto por questão de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
e como sempre, mulheres portentosas
nos seduzem com suas bocas e pernas,
mas em matéria de amor
não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço
seis meses ou mais, testando a engrenagem
e a solidão.
Em cada olimpíada há recordes previstos
e nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
com a modernidade.

Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
relemos o Quixote, e a primavera
chega pontualmente cada ano.

Alguns hábitos, rios e florestas
se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
ou toma a fresca da tarde,
mas temos máquinas velocíssimas
que nos dispensam de pensar.

Sobre o desaparecimento dos dinossauros
e a formação das galáxias
não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
países se dividem
e as formigas e abelhas continuam
fiéis ao seu trabalho.

Nada mudou em essência.

Cantamos parabéns nas festas,
discutimos futebol na esquina
morremos em estúpidos desastres
e volta e meia
um de nós olha o céu quando estrelado
com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração , insolente,
continua a achar
que vive no ápice da história.

REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 09/10/2016

Affonso Romano de Sant’Anna – Eppur Si Muove

Não se pode calar um homem
Tirem-lhe a voz, restará o nome.
Tirem-lhe o nome
e em nossa boca restará
a sua antiga fome.

Matar, sim, se pode.
Se pode matar um homem.
Mas sua voz, como os peixes,
nada contra a corrente
a procriar verdades novas
na direção contrária à foz.

Mente quem fala que quem cala consente.
Quem cala, às vezes, re-sente,
Por trás dos muros dos dentes,
edifica-se um discurso tranparente.

Um homem não se cala
com um tiro ou mordaça. A ameaça
só faz falar nele
o que nele está latente.

Ninguém cala ninguém,
pois existe o inconsciente.
Só se deixa enganar assim
quem age medievalmente.
Como se faz para calar o vento
quando ele sopra
com a força do pensamento?
Não se pode cassar a palavra a um homem,
como se caçam às feras o pêlo e o chifre
na emboscada das savanas.
Não se pode, como a um pássaro,
aprisionar a voz humana
A gaiola só é prisão
para quem não entende
a liberdade do não.
Se a palavra é uma chave,
que fala de prisão, o silêncio
é uma ave- que canta na escuridão.

A ausência da voz
é, mesmo assim, um discurso.
É um rio vazio, cujas margens sem água
dão notícia de seu curso.

No princípio era o Verbo
– bem se pode interpretar:
no princípio era o Verbo
e o Verbo do silêncio
só fazia verberar.
Na verdade, na verdade vos digo:
mais perturbador que a fala do sábio
é seu sábio silêncio,
con-sentido.

O que fazer de um discurso interrompido?
Hibernou? Secou na boca, contido?
Ah, o silêncio é um discurso invertido,
modo de falar alto
– o proibido.

O silêncio
depois da fala
não é mais inteiro.
Passa a ter duplo sentido.
É como o fruto proibido, comido
não pela boca,
mas pela fome do ouvido.

Se um silêncio é demais,
quando é de dois, geminado,
mais que silêncio
– é perigo,
é uma forma de ruído.

Por isso que o silêncio
de algumas consciências,
quando passa a ser ouvido
não é silêncio
– É estampido.

Affonso Romano de Sant’Anna – Vai, Ano Velho

Vai, ano velho, vai de vez,
vai com tuas dívidas
e dúvidas, vai, dobra a ex-
quina da sorte, e no trinta e um,
à meia-noite, esgota o copo
e a culpa do que nem me lembro
e me cravou entre janeiro e dezembro.

Vai, leva tudo: destroços,
ossos, fotos de presidentes,
beijos de atrizes, enchentes,
secas, suspiros, jornais.
Vade retrum, pra trás,
leva pra escuridão
quem me assaltou o carro,
a casa e o coração.
Não quero te ver mais,
só daqui a anos, nos anais,
nas fotos do nunca-mais.

Vem, Ano Novo, vem veloz,
vem em quadrigas, aladas, antigas
ou jatos de luz moderna, vem,
paira, desce, habita em nós,
vem com cavalhadas, folias, reisados,
fitas multicores, rebecas,
vem com uva e mel e desperta
em nosso corpo a alegria,
escancara a alma, a poesia,
e, por um instante, estanca
o verso real, perverso,
e sacia em nós a fome
– de utopia.

Vem na areia da ampulheta com a
semente que contivesse outra se-
mente que contivesse ou-
tra semente ou pérola
na casca da ostra
como se
se
outra se-
mente pudesse
nascer do corpo e mente
ou do umbigo da gente como o ovo
o Sol a gema do Ano Novo que rompesse
a placenta da noite em viva flor luminescente.

Adeus, tristeza: a vida
é uma caixa chinesa
de onde brota a manhã.
Agora
é recomeçar.
A utopia é urgente.
Entre flores de urânio
é permitido sonhar.

Affonso Romano de Sant’Anna – Carta aos Mortos

Amigos, nada mudou
em essência.

Os salários mal dão para os gastos,
as guerras não terminaram
e há vírus novos e terríveis,
embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho
tomba morto por questão de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
e como sempre, mulheres portentosas
nos seduzem com suas bocas e pernas,
mas em matéria de amor
não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço
seis meses ou mais, testando a engrenagem
e a solidão.
Em cada olimpíada há recordes previstos
e nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
com a modernidade.

Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
relemos o Quixote, e a primavera
chega pontualmente cada ano.

Alguns hábitos, rios e florestas
se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
ou toma a fresca da tarde,
mas temos máquinas velocíssimas
que nos dispensam de pensar.

Sobre o desaparecimento dos dinossauros
e a formação das galáxias
não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
países se dividem
e as formigas e abelhas continuam
fiéis ao seu trabalho.

Nada mudou em essência.

Cantamos parabéns nas festas,
discutimos futebol na esquina
morremos em estúpidos desastres
e volta e meia
um de nós olha o céu quando estrelado
com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração , insolente,
continua a achar
que vive no ápice da história.

Affonso Romano de Sant’Anna – Que País é Este?

Para Raymundo Faoro

“¿Puedo decir que nos han traicionado? No.
¿Que todos fueram buenos? Tampoco. Pero
alli está una buena voluntad, sin duda y
sobretodo, el ser así.”
CÉSAR VALLEJO

           
              1

        Uma coisa é um país,
        outra coisa um ajuntamento.

        Uma coisa é um país
        outra um regimento.

        Uma coisa é um país,
        outra o confinamento.

Mas já soube datas, guerras, estátuas
usei caderno “Avante”
    – e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso”
e éramos maiores em tudo
    – discursando rios e pretensão.

           
    Uma coisa é um país,
    outra um fingimento.

    Uma coisa é um país,
    outra um monumento.

    Uma coisa é um país,
    outra o aviltamento.

Deveria derribar aflitos mapas sobre a praça
em busca da especiosa raiz? ou deveria
parar de ler jornais
            e ler anais
como anal
    animal
       hiena patética
        na merda nacional?
Ou deveria, enfim, jejuar na Torre do Tombo
comendo o que as traças descomem
            procurando
o Quinto Império, o primeiro portulano, a viciosa
            [visão do
paraíso
que nos impeliu a errar aqui?

           
    Subo, de joelhos, as escadas dos arquivos
    nacionais, como qualquer santo barroco
           a rebuscar
  no mofo dos papiros, no bolor
  das pias batismais, no bodum das vestes reais
  a ver o que se salvou com o tempo
  e ao mesmo tempo
     – nos trai.

              2

   Há 500 anos caçamos índios e operários,
   há 500 anos queimamos árvores e hereges,
   há 500 anos estupramos livros e mulheres,
   há 500 anos sugamos negras e aluguéis.

  Há 500 anos dizemos:
        que o futuro a Deus pertence,
        que Deus nasceu na Bahia,
        que São Jorge é que é guerreiro,
        que do amanhã ninguém sabe,
        que conosco ninguém pode,
        que quem não pode se sacode.

Há 500 anos somos pretos de alma branca,
   não somos nada violentos,
   quem espera sempre alcança
   e quem não chora não mama
   ou quem tem padrinho vivo
   não morre nunca pagão.

Há 500 anos propalamos:
   este é o país do futuro,
   antes tarde do que nunca,
   mais vale quem Deus ajuda
   e a Europa ainda se curva.

Há 500 anos
   somos raposas verdes
   colhendo uvas com os olhos,
   semeamos promessa e vento
   com tempestades na boca,
   sonhamos a paz da Suécia
   com suíças militares,

   vendemos siris na estrada
   e papagaios em Haia,

   senzalamos casas-grandes
   e soçobramos mocambos,

   bebemos cachaça e brahma
   joaquim silvério e derrama,

   a polícia nos dispersa
   e o futebol nos conclama,

   cantamos salve-rainhas,
   e salve-se quem puder,

   pois Jesus Cristo nos mata
   num carnaval de mulatas.

Este é um país de síndicos em geral,
este é um país de cínicos em geral,
este é um país de civis e generais.

   Este é o país do descontínuo
   onde nada congemina,

   e somos índios perdidos
   na eletrônica oficina.

Nada nada congemina:
        a mão leve do político
        com nossa dura rotina,

        o salário que nos come
        e nossa sede canina,

        a esperança que emparedam
        e a nossa fé em ruína,

        nada nada congemina:
        a placidez desses santos
        e nossa dor peregrina,

        e nesse mundo às avessas
        – a cor da noite é obsclara
        e a claridez vespertina.

              3

Sei que há outras pátrias. Mas
mato o touro nesta Espanha,
planto o lodo neste Nilo,
caço o almoço nesta Zâmbia,
me batizo neste Ganges,
vivo eterno em meu Nepal.

   Esta é a rua em que brinquei,
   a bola de meia que chutei,
   a cabra-cega que encontrei,
   o passa-anel que repassei,
   a carniça que pulei.

Este é o país que pude
      que me deram
            e ao que me dei,
e é possível que por ele, imerecido,
             – ainda
me morrerei.

              4

Minha geração se fez de terços e rosários:

        – um teço se exilou
        – um terço se fuzilou
        – um terço desesperou

e nessa missa enganosa
          – houve sangue e
desamor.
              [Por
isto,
canto-o-chão mais áspero e cato-me
        ao nível da emoção.

Caí de quatro
     animal
       sem compaixão.

        Uma coisa é um país,
        outra uma cicatriz.

        Uma coisa é um país,
        outra a abatida cerviz.

        Uma coisa é um país,
        outra esses duros perfis.

Deveria eu catar os que sobraram,
    os que se arrependeram,
    os que sobreviveram em suas tocas
e num seminário de erradios ratos
         suplicar:
        – expliquem-me
            [a mim
         e ao meu país?

Vivo no século vinte, sigo para o vinte e um
ainda preso ao dezenove
         como um tonto guarani
         e aldeado vacum. Sei que
            [daqui a pouco
         não haverá mais país.

País:
   loucura de quantos generais a cavalo
   escalpelando índios nos murais,
   queimando caravelas e livros
          – nas fogueiras e cais,
   homens gordos melosos sorrisos comensais
   politicando subúrbios e arando votos
   e benesses nos palanques oficiais.

Leio, releio os exagetas.
Quanto mais leio, descreio. Insisto?
Deve ser um mal do século
– se não for um mal de vista.

   Já pensei: é erro meu. Não nasci no tempo certo.
       Em vez de um poeta crente
       sou um profeta ateu.
       Em vez da epopeia nobre,
       os de meu tempo me legam
       como tema
        – a farsa
       e o amargo riso plebeu.

           
              5

Mas sigo o meu trilho. Falo o que sinto
e sinto muito o que falo

     – pois morro sempre que calo.
Minha geração se fez de lições mal-aprendidas.
     – e classes despreparadas.
Olhávamos ávidos o calendário. Éramos jovens.
Tínhamos a “história” ao nosso lado. Muitos
maduravam um rubro outubro
        outros iam ardendo um torpe
         [agosto.
Mas nem sempre ao verde abril
       se segue a flor de maio.
Às vezes se segue o fosso
            – e o roer do
magro osso.
E o que era revolução outrora
        agora passa à convulsão
inglória.
E enquanto ardíamos a derrota como escória
e os vendedores nos palácios espocavam suas
        [champanhes
          sobre a aurora
o reprovado aluno aprendia
        com quantos paus se faz a
derrisória
          [estória.
Convertidos e presa da real caçada
abriu-se embandeirado
       um festival de caça aos pombos
       – enquanto raiava sanguínea e fresca a
             
[madrugada.
Os mais afoitos e desesperados
em vez de regressarem como eu
        sobre os covardes passos,
e em vez de abrirem suas tendas para a fome dos desertos,
seguiram no horizonte uma miragem
               e
logo da luta
            
    passaram
              
ao luto.

Vi-os lubrificando suas armas
   e os vi tombados pelas ruas e grutas.
Vi-os arrebatando louros e mulheres
   e serem sepultados às ocultas.
Vi-os pisando o palco da tropical tragédia
   e por mais que os advertisse do inevitável final
   não pude lhes poupar o sangue e o ritual.

   Hoje
     os que sobraram vivem em escuras
     e europeias alamedas, e subterrâneos
     de saudade,aspirando um chão-de-estrelas,
     plangendo um violão com seu violado desejo
     a colher flores em suecos cemitérios.

Talvez
  todo o país seja apenas um ajuntamento
  e o consequente aviltamento
      – e uma insolvente cicatriz.
  Mas este é o que me deram,
  e este é o que eu lamento,
  e é neste que espero
       – livrar-me do meu tormento.

Meu problema, parece, é mesmo de princípio:
– do prazer e da realidade
        – que eu pensava
com o tempo resolver
       – mas só agrava com a idade.

     Há quem se ajuste
     engolindo seu fel com mel.
     Eu escrevo o desajuste
     vomitando no papel.

           
              6

Mas este é um povo bom
          me pedem que repita
          como um monge cenobita
          enquanto me dão porrada
          e me vigiam a escrita.

Sim. Este é um povo bom. Mas isto também diziam
os faraós
   enquanto amassavam o barro da carne escrava.
Isso digo toda noite
     enquanto me assaltam a casa,
isso digo
   aos montes em desalento
enquanto recolho meu sermão ao vento.
Povo. Como cicatrizar nas faces sua imagem perversa
          [e una?
Desconfio muito do povo. O povo, com razão,
        – desconfia muito de
        [mim.

Estivemos juntos na praça, na trapaça e na desgraça,
mas ele não me entende
         – nem eu posso convertê-lo.
A menos que suba estádios, antenas, montanhas
e com três mentiras eternas
       o seduza para além da ordem
             [moral.

Quando cruzamos pelas ruas
não vejo nenhum carinho ou especial predileção nos
        [seus olhos.

Há antes incômoda surpresa. Agarro documentos,
        [embrulhos, família
a prevenir mal-entendidos sangrentos.

Daí, já vejo as manchetes:

    – o poeta que matou o povo
    – o povo que só/çobrou ao poeta
    – (ou o poeta apesar do povo?)

– Eles não vão te perdoar
         – me adverte o exageta.
Mas como um país não é a soma de rios, leis, nomes
       [de ruas, questionários e
geladeiras,

e a cidade do interior não é apenas gás neon, quermesse
    [e fonte luminosa,
uma mulher também não é só capa de revista, bundas
    [e peitos fingindo que é coisa nossa.

Povo
   também são os falsários
    e não apenas os operários,

povo
   também são os sifilíticos
    não só atletas e políticos,

povo
   são as bichas, putas e artistas
    e não só escoteiros
    e heróis de falsas lutas
   são as costureiras e dondocas
    e os carcereiros
   e os que estão nos eitos e docas.

Assim como uma religião não se faz só de missas na
        [matriz,
mas de mártires e esmolas, muito sangue e cicatriz,
a escravidão
     para resgatar os ferros de seus ombros
          requer
poetas negros que refaçam seus palmares e quilombos.

Um país não pode ser só a soma
de censuras redondas e quilômetros
quadrados de aventura, e o povo
não é nada novo
        – é um ovo
            que ora gera e degenera
            que pode ser coisa viva
                – ou
ave torta
depende de quem o põe
        – ou quem o gala.

           
              7

Percebo
   
    que não sou um poeta brasileiro. Sequer
    um poeta mineiro. Não há fazendas, morros,
    casas velhas, barroquismos nos meus versos.

Embora meu pai viesse de Ouro Preto com bandas de
    [música polícia militar casos de assombração e
     [uma calma milenar,
    [embora minha mãe fosse imigrando hortaliças
     [e a fé e o pão,
olho Minas com um amor distante,
como se eu, e não minha mulher
        – fosse um poeta etíope.

Fácil não era apenas os tempos das arcádias
entre cupidos e sanfoninhas,
fácil também era o tempo dos partidos:
      – poeta sabia “história”,
      vivia em sua “célula”
      o povo era seu hobby e profissão,
      o povo era seu cristo e salvação.
O povo, no entanto, não é o cão
e o patrão
        – o lobo. Ambos são povo.
        E o povo senso ambíguo
        é o seu próprio cão e lobo

Uma coisa é o povo, outra a fome.
Se chamais povo à malta de famintos,
se chamais povo à marcha regular das armas,
se chamais povo aos urros e silvos no esporte popular,
então mais amo uma manada de búfalos em Marajó
e diferença já não há
entre as formigas que devastam minha horta
e as hordas de gafanhoto de 1948
que em carnaval de fome
o próprio povo celebrou.

Povo
  não pode ser sempre o coletivo de fome.
Povo
  não pode ser um séquito sem nome.
Povo
  não pode ser o diminutivo de homem.
O povo, aliás,
  deve estar cansado desse nome,
embora seu instinto o leve à agressão
        e embora
o aumentativo de fome
   possa ser
     revolução.