Pedro Mexia – “O fogo, o ferro, o futuro”

Eras um sustento,
eras um segredo,
uma feroz tentativa.

Eras a roupa do corpo
feito estandarte
a caminho de casa
e as tuas mãos metade das minhas.

Eras um fascínio,
eras um fracasso,
eras a chama que nunca te queimou,
o sul, o sufoco,
a madrugada.

Eras um tumulto
de éguas e galgos,
a minha impaciência,
o meu verde vivo.

Eras o que nunca podias,
assombração sem fantasia
descalça e abrigada,
loureiro da Aquitânia.
Eu era o viúvo, o tenebroso,
consolado na água
que de súbito secou.

Eras o que foste,
metáfora do que eu
tanto te quis.
O fogo, o ferro, o futuro.

Pedro Mexia – Paráfrase

Este poema começa por te comparar
com as constelações,
com os seus nomes mágicos
e desenhos precisos,
e depois
um jogo de palavras indica
que sem ti a astronomia
é uma ciência infeliz.
Em seguida, duas metáforas
introduzem o tema da luz
e dos contrastes
petrarquistas que existem
na mulher amada,
no refúgio triste da imaginação.

A segunda estrofe sugere
que a diversidade de seres vivos
prova a existência
de Deus
e a tua, ao mesmo tempo
que toma um por um
os atributos
que participam da tua natureza
e do espaço criador
do teu silêncio.

Uma hipérbole, finalmente,
diz que me fazes muita falta.