Tomas Tranströmer – Minnena Ser Mig (em duas traduções)

Memórias que me Observam

Manhã de Junho, cedo demais para acordar,
tarde demais para adormecer.

Tenho de sair – é densa a folhagem das
memórias, perseguem-me com o seu olhar.

Não se deixam ver, misturam-se todas
com o fundo, verdadeiros camaleões.

Tão perto estão que as ouço respirarem
aqui onde o canto do pássaro ensurdece.

     Trad.: José Eduardo Reis

As recordações olham para mim

Uma manhã de Junho quando ainda é cedo para acordar
mas demasiado tarde para voltar a pegar no sono.

Embrenho-me pelo arvoredo repleto de recordações
e elas seguem-me com os seus olhares.

Autênticos camaleões, elas não se mostram,
diluem-se literalmente no cenário.

E embora o gorjeio dos pássaros seja ensurdecedor,
estão tão perto de mim que ouço como respiram.

     Trad.: Alexandre Pastor

REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 05/01/2018

MINNENA SER MIG

En junimorgon då det är för tidigt
att vakna men för sent att somna om.

Jag måste ut i grönskan som är fullsatt
av minnen, och de följer mig med blicken.

De syns inte, de smälter helt ihop
med bakgrunden, perfekta kameleonter.

De är så nära att jag hör dem andas
fast fågelsången är bedövande.

Tomas Tranströmer – Neve Cai

Enterros chegam
mais e mais perto
como placas na estrada
ao se aproximar a cidade.

Milhares de olhares humanos
na longa terra das sombras.

Uma ponte aponta
devagar
bem longe no espaço.

Trad.: Marcia Sá Cavalcante Schuback

SNÖ FALLER

Begravningarna kommer
tätare och tätare
som vägskyltarna
när man närmar sig en stad.

Tusentals människors blickar
i de långa skuggornas land.

En bro bygger sig
långsamt
rakt ut i rymden.

Tomas Tranströmer – Kyrie

Às vezes, minha vida subitamente abre os olhos no escuro.
Uma sensação de multidões de pessoas avançando cegamente
pelas ruas, excitadas, em direção a algum milagre,
enquanto eu permaneço aqui sem ser visto

Como a criança que adormece aterrorizada
ouvindo as fortes batidas do seu coração.
Por um longo, longo tempo até que a manhã introduza seus raios de luz nas fechaduras
e os portões das trevas se abram.

Trad.: Nelson Santander

Kyrie

At times my life suddenly opens its eyes in the dark.
A feeling of masses of people pushing blindly
through the streets, excitedly, toward some miracle,
while I remain here and no one sees me.

It is like the child who falls asleep in terror
listening to the heavy thumps of his heart.
For a long, long time till morning puts his light in the locks
and the doors of darkness open.

Tomas Tranströmer – Minnena Ser Mig (em duas traduções)

Memórias que me Observam

Manhã de Junho, cedo demais para acordar,
tarde demais para adormecer.

Tenho de sair – é densa a folhagem das
memórias, perseguem-me com o seu olhar.

Não se deixam ver, misturam-se todas
com o fundo, verdadeiros camaleões.

Tão perto estão que as ouço respirarem
aqui onde o canto do pássaro ensurdece.

     Trad.: José Eduardo Reis


As recordações olham para mim

Uma manhã de Junho quando ainda é cedo para acordar
mas demasiado tarde para voltar a pegar no sono.

Embrenho-me pelo arvoredo repleto de recordações
e elas seguem-me com os seus olhares.

Autênticos camaleões, elas não se mostram,
diluem-se literalmente no cenário.

E embora o gorjeio dos pássaros seja ensurdecedor,
estão tão perto de mim que ouço como respiram.

     Trad.: Alexandre Pastor

MINNENA SER MIG

En junimorgon då det är för tidigt
att vakna men för sent att somna om.

Jag måste ut i grönskan som är fullsatt
av minnen, och de följer mig med blicken.

De syns inte, de smälter helt ihop
med bakgrunden, perfekta kameleonter.

De är så nära att jag hör dem andas
fast fågelsången är bedövande.