Eunice de Souza – Primavera Relutante

os corrupiões dourados se foram.
as mariquitas estão em silêncio.
a última folha vermelha na amendoeira
recusa o próprio outono.

Trad.: Nelson Santander

Reluctant Spring

the golden orioles have gone.
the warblers are silent.
the last red leaf on the almond tree
refuses to fall

Eunice de Souza – Alvorada 2

Falamos através de continentes.
É pouco provável que nos voltemos a encontrar.
Não posso fumar, não posso viajar,
nenhuma felicidade claro.
Sentindo um vento frio nas costas
renunciamos à filosofia.
Acabaram os amantes errantes, maridos,
passarões não propriamente sensatos.
Ainda temos a idade com que nos conhecemos.

Trad.: Francisco José Craveiro de Carvalho

Eunice de Souza – Convite

Tenta-me com uma visão de colinas
relva que é verde
pavões tão vulgares como pardais.

Podemos ler no pátio, diz ela,
ouvindo o picapau às voltas com a sua árvore,
admirar as rosas, colher fruta, contar estrelas.
Traga a tia, os cães, o periquito, diz,
escreva um ou dois poemas felizes.
De vez em quando, continua,
iremos até à aldeia
para sabermos como é que o mundo
não vai.

Trad.: Francisco José Craveiro de Carvalho

Invitation

She tempts me with the vision of hills
grass that’s green
peacecocks as common as sparrows

We can read in the courtyard, she says,
to the sound of the woodpecker working his tree,
admire her roses, pluck fruit, count stars.
Bring aunt, dogs, parakeet, she says,
writ a happy poem or two.
Once in a way, she says,
we’ll take a little walk to the village
to find out how the world’s
not getting on.