Retrospectiva 2022

Segue abaixo uma relação dos melhores poemas publicados no blog no ano de 2022, em ordem cronológica pelo mês de postagem. Eu pretendia limitar a retrospectiva a um total de 50 textos, mas isso não foi possível. O ano foi fértil e tive a felicidade de traduzir e publicar muita coisa boa este ano, em número que supera o limite autoimposto. Paciência.

Dos internautas, espero, resignado, que apreciem a seleção. De mim mesmo, pretendo continuar com o blog no ano que vem. Minha motivação é que este é um hobby que pratico com enorme prazer e, por ora, não pretendo abandona-lo. Mas não só.

O constante aumento do número de internautas que visitam a página – o que vem ocorrendo ano após ano – é um estímulo a mais. E se tudo isso vier acompanhado de feedbacks sinceros dos internautas, melhor ainda. Portanto, amigos, sempre que puderem, comentem. Prometo não deixar ninguém sem resposta.

Feliz 2023 a todos!

1. William Ernest Henley - Invictus

No meio da noite que me abraça,
Negra como um Poço em sua inteireza,
Agradeço a cada Deus pela graça
De minha invencível natureza. (...)
2. Robyn Sarah – Ao fechar o apartamento dos meus avós de abençoada memória

E então eu me vi naquela sala pela vez final.
Mantive-me firme, com a chave em minha mão,
e ouvi o silêncio que era como um som,
e percebi como o longo sol da tarde invernal
baixava de maneira oblíqua ao chão
fazendo florir os veios do assoalho. (Tudo o que eles um dia
possuíram estava guardado aqui.) Na janela gemia
um estilhaço de vento. Em breve eu partiria. (...)
3. Agi Mishol – A mártir

Você tem apenas vinte anos
e sua primeira gravidez é uma bomba.
Sob sua folgada saia você está grávida de dinamite
e fragmentos de metal. É assim que você entra no mercado
tiquetaqueando entre as pessoas, você, Andalleb Takatka. (...)
4. Heather McHugh – O que ele pensou

Teríamos que fazer um trabalho na Itália
e, repletos dos nossos sentimentos por
nós mesmos (nossa sensação de sermos
Poetas da América) fomos
de Roma a Fano, conhecemos
o prefeito, refletimos
sobre alguns assuntos (o que é
uma piriguete, eles nos perguntaram; o que é
cerveja sem colarinho). (...)
5. Ósip Mandelstam – O ar foi todo bebido e o pão, corrompido…

O ar foi todo bebido e o pão, corrompido.
Cicatrizar as feridas é tão custoso!
O jovem José, ao Egito vendido,
Não poderia estar mais desgostoso! (...)
6. Reginald Gibbons – O que remanesce

Sim, o pão está envenenado. E não há sequer um gole de ar.
Como é difícil curar a ferida da vida.
O próprio José, vendido ao Egito como escravo,
não poderia ter ficado mais profundamente magoado. (...)
7. Jorge Valdés Díaz-Vélez – Polaroide

São sete contra a parede, em pé, e um sentado.
Mal conservam os traços desbotados
pelos anos. Os rostos resistem ao desgaste,
embora já não possuam as cores vivas
que ontem os distinguiram. (...)
8. Nicholas Christopher – Terminus

Eis uma leitura obrigatória
no final do nosso século
o final de um milênio que começou com as cruzadas

A transcrição de uma entrevista
entre um médico da Cruz Vermelha
e uma menina muçulmana de doze anos
na Bósnia
que descreveu os estupros que sofreu nas mãos de homens
que se autodenominavam soldados (...)
9. Ada Limón – Estrelas mortas

Aqui fora, até as árvores se curvam.
A mão gelada do inverno nas costas de todos nós.
Casca escura, folhas amarelas escorregadias, uma espécie de quietude
tão silenciosa que é quase de outra era. (...)
10. Robert Frost – Nada que é de ouro pode permanecer

No mundo, o ouro é o verde elementar,
Sua matiz mais difícil de conservar.
A flor é a sua inaugural semente;
Não obstante por um instante somente. (...)
11. Mary Oliver – A serpente negra

Foi quando a serpente negra
apareceu na estrada de manhã,
e o caminhão não conseguiu desviar –
morte, é assim que acontece. (...)
12. Wendell Berry – A cobra

No final de outubro
encontrei no chão da floresta
uma pequena cobra cujas costas
tinham o padrão da escuridão
das folhas mortas em que ela estava deitada. (...)
13. Marie Howe – O que os vivos fazem

Johnny, a pia da cozinha está entupida há dias, algum utensílio provavelmente caiu lá embaixo. E o Drano não está resolvendo mas cheira perigosamente, e a louça incrustada se amontoou

esperando pelo encanador que eu ainda não chamei. Este é o dia a dia de que falávamos. (...)
14. Ted Kooser – Voo noturno

Sobre nós, estrelas. Sob nós, constelações.
A cinco bilhões de milhas de distância, uma galáxia morre
como um floco de neve desfazendo-se na água. (...)
15. Juan Vicente Piqueras – Sai de ti

Não fujas do que sentes. Não te escondas
no que dizes. Não digas mentiras.
Sê tua voz. Faz. Trabalha. Não te queixes.
Não sofras por medo de sofrer mais. (...)
16. Linda Pastan – Considere o espaço entre as estrelas

Considere o espaço branco
entre as palavras em uma página, não só
as margens em torno delas.
Ou o espaço entre pensamentos:
os instantes em que a mente está inventando
exatamente o que pensa
e a boca espera
para ser preenchida com linguagem. (...)
17. Nickole Brown – Susto

Deixe-me dizer-lhe — nenhum animal de longe é o mesmo
que de perto. Ou seja, uma baleia em uma revista pode
parecer majestosa e livre, mas o que você não vê é
quão perto da superfície ela adormece,
como a luz a empola deixando-a em carne viva e como
as gaivotas rasgam sua pele queimada pelo sol, alçando ao ar
os bicos repletos de sua carne orgulhosa. (...)
18. David Whyte – O verdadeiro amor

Há fé em amar ferozmente
aquele que é seu por direito,
especialmente se você
esperou por anos e especialmente
se parte de você nunca acreditou
que poderia merecer esta
amada mão acenando
estendida para você desta forma. (...)
19. Linda Pastan – Estou aprendendo a abandonar o mundo

Estou aprendendo a abandonar o mundo
antes que ele acabe me abandonando.
Já desisti da lua
e da neve, fechando minhas cortinas
contra as reivindicações do branco.
E o mundo levou
meu pai, meus amigos. (...)
20. Billy Collins – O desfile

Que emocionante foi marchar
ao longo das grandes avenidas
debaixo do clarão das trombetas
e sob todas as bandeiras tremulantes —
a bandeira da ambição, a bandeira do amor. (...)
21. Anne Sexton – Para um amigo que alcançou o sucesso no trabalho

Considere Ícaro, colando aquelas asas viscosas,
experimentando aquele estranho puxão em suas omoplatas,
e pense naquele primeiro impecável momento sobre o gramado
do labirinto. Pense em como isso fez diferença! (...)
22. Sharon Olds – A corrida

Quando cheguei no aeroporto, corri até o guichê,
comprei uma passagem, dez minutos depois
me disseram que o voo tinha sido cancelado, os médicos
tinham dito que meu pai não sobreviveria àquela noite
e o voo fora cancelado. (...)
23. Ada Limón – Instruções para não desistir

Mais do que os funis fúcsia rompendo
da macieira, mais do que a exibição quase
obscena dos galhos da cerejeira do vizinho enfiando
suas flores cor de algodão doce no céu ardósia
das chuvas de primavera, é o verdejar das árvores
que realmente me comove. (...)
24. Cynthia Huntington – O arrebatamento

Lembro-me de estar na cozinha, misturando ossos para a sopa,
e de que, naquele momento, me tornei outra pessoa.

Era uma noite de início de primavera, o ar da Califórnia estava ameno.
Lá fora, o eucalipto se curvava compulsivamente

sobre o trailer do vizinho, estacionado na entrada da garagem.
A rua estava tranquila, pra variar, e todas as janelas estavam abertas.

Então, meu braço direito formigou, uma palpitação começou sob a pele. (...)
25. Henry Wadsworth Longfellow – Casas assombradas

Todas as casas onde homens viveram e morreram
São casas mal-assombradas. Pelo aberto portão
As inofensivas almas, em suas tarefas, pairam,
Com pés que quase nenhum ruído produzem no chão. (...)
26. Victoria Kennefick – Monte submarino

Da areia, você aponta onde ficava a loja,
os correios, o bar;
você me conta que caminhou até o vilarejo quando menino
para ficar nas esquinas, farejar o ar salgado. (...)
27. Laura Gilpin – O bezerro de duas cabeças

Amanhã, quando os garotos da fazenda encontrarem esta
aberração da natureza, eles embrulharão seu corpo
em jornal e o levarão para o museu. (...)
28. Gabrielle Calvocoressi – Sinto a sua falta. Gostaria de dar um passeio com você.

Não importa se você acabou de chegar em seu esqueleto.
Adoraria dar um passeio com você. Sinto a sua falta.
Adoraria preparar um camarão saganaki para você.
Como você costumava me fazer quando estava viva. (...)
29. Sahar Romani – Tarde na Andaluzia

E por que a geometria não seria igual à divindade

1000 + 1 + 1 + 1 O que é a fé

senão a confiança no uno & infinito (...)
30. Sean Thomas Dougherty – Por que se importar?

Porque agora há alguém

lá fora (...)
31. Ada Limón – Viaduto

A estrada não era tão perigosa na época,
quando eu caminhava até a mureta de aço,
inclinava meu corpo flexível de menina, e contemplava
a água fria do riacho. (...)
32. Robert Hayden – A nevasca

Incapaz de dormir ou rezar, permaneço
ao lado da janela olhando para
as aluadas árvores envergadas pelo gelo
de uma tempestade de dezembro. (...)
33. Alan Jenkins – Pertences

Segurei a mão dela, que estava sempre marcada
Por cortar, fatiar, pelas facas que estavam à espreita
No lavatório, mão mal-acabada,
Os nós avermelhados dos dedos, ásperos de esfregar com força
panelas, frigideiras, xícaras e pratos,
Dando amor do único jeito que ela sabia, (...)
34. Stanley Plumly – Rinoceronte branco

O último da minha espécie, um dos últimos apreciadores das flores
e da grama das pastagens do norte, e certamente
um dos poucos habilitados a esfregar as costas no baobá
e no carvalho centenário que ainda sobrevive no quintal. (...)
35. Ada Limón – O que eu não sabia antes

era como os cavalos simplesmente davam à luz outros
cavalos. Não um bebê de qualquer jeito, não
uma criatura de espaços limiares, mas um animal
de quatro patas decidido a andar, correndo atrás
da mãe. (...)
36. Anne Sexton – Coragem

É nas pequenas coisas que a vemos.
O primeiro passo da criança,
tão espantoso quanto um terremoto.
A primeira vez que você andou de bicicleta,
chafurdando na calçada. (...)
37. Rosanna Warren – Comparação

Como quando seu amigo, excelente esquiador austríaco, na história
que ela sempre nos contava, teve que encarar
seu primeiro salto olímpico de esqui (...)
38. Annie Dillard – Como consumimos nossos dias

Como consumimos nossos dias
é, evidentemente,
como consumimos nossas vidas. (...)
39. Mary Oliver – Pesado

Naquela época
Eu pensei que não poderia
me aproximar mais da dor
sem morrer

eu me aproximei
e não morri. (...)
40. Alberto Ríos – Coelhos e fogo

Tudo já foi dito
Menos uma última coisa – terrível – sobre o
Deserto: (...)
41. Lynn Emanuel – Minha vida

Como Jonas pelo peixe, eu fui por ela recebida,
revirada e varrida por suas águas escuras,
por ela conduzida para as profundezas e para além de incontáveis rochas. (...)
42. Billy Collins – A vida após a morte

Enquanto você se prepara para dormir, escovando os dentes,
ou folheando uma revista na cama,
os defuntos do dia estão iniciando sua jornada. (...)
43. Andrea Cohen – O comitê avalia

Digo à minha mãe que
ganhei o Prêmio Nobel.

De novo? ela diz. Em qual
categoria desta vez? (...)
44. Sylvia Plath – Estrelas sobre a Dordonha

Estrelas caem densas como rochas na linha
Enfolhada de árvores cuja silhueta é mais escura
Do que o breu do céu porque não tem estrelas. (...)
45. Roderick Ford – Giuseppe

Meu tio Giuseppe me contou
que na Sicília, durante a 2ª Guerra Mundial,
no pátio atrás do aquário,
onde a buganvília crescia tão bem,
a única sereia cativa do mundo
foi esquartejada no solo seco e empoeirado
por um médico e um peixeiro, dentre outros. (...)
46. Brigit Pegeen Kelly – Canção

Ouça: havia uma cabeça de cabra suspensa por cordas em uma árvore.
Por toda noite ela ficou lá pendurada e cantou. E aqueles que a ouviram
Sentiram um aperto em seus corações e pensaram que estavam ouvindo
O canto de uma ave noturna. Eles se sentaram em suas camas e depois
Se deitaram novamente. (...)
47. Garrett Hongo – Mendocino Rose

Na Califórnia, ao norte da Golden Gate,
a vinha cresce por quase todos os cantos,
brotando de pastagens,
de baixo das sombras dos eucaliptos
à beira da estrada,
ultrapassando todos os casebres fantasmas e cercas quebradas
que se desintegram de podres,
encharcadas pelas chuvas frescas. (...)
48. Alison C. Rollins – Para quem me lê agora

Você é invulnerável.
A única constante é a mudança.
Tal repetição leva à nostalgia
do presente. Tenso e tímido
você recita este livro de cor. Às
cegas, você me confia à memória. (...)
49. Tyree Daye – Rio Neuse

Diga-lhes para não irem
à orla sozinhos.

Diga-lhes onde
podem beber

sem precisar olhar
por cima dos ombros. (...)
50. John Murillo – Variações sobre um tema de Elizabeth Bishop

Comece com a perda. Perca tudo. Então perca tudo outra vez.
Perca uma boa mulher em um dia ruim. Encontre uma mulher melhor,
e depois perca cinco amigos correndo atrás dela. Aprenda a perder como se
sua vida dependesse disso. Aprenda que sua vida depende disso. (...)
51. Timothy Liu – Os restos

Saindo do novo cemitério, meu pai
pegou a minha mão, tendo acabado de reenterrar os restos
mortais de seu próprio pai e suas duas esposas —
sua mãe morrera de tuberculose quando ele tinha dez anos. (...)
52. Linda Pastan – Chegamos ao silêncio

Chegamos ao silêncio lentamente. Trazidos ao mundo
em uma onda de som
deixamo-lo mais tarde de bocas fechadas,
nossas grandes línguas pesadas
como pedras para nos ancorar
na terra. (...)
53. Faith Shearin – Cinzas, cinzas

O inverno é a morte pela qual todos temos esperado.
Mesmo nas Festas, em que o ano novo é louvado,
os galhos se quebram sob o peso da neve. (...)
54. Juan Vicente Piqueras – O barbeiro

Nos últimos meses, olhava-se no espelho
e via um intruso. Irritava-se com ele.

Já estás aqui outra vez? Será possível?
Sai daqui agora mesmo.
Para a rua, vagabundo, dizia-lhe. (...)
55. Javier Salvago – Canção para esse dia

Agora sim
já se vê
o porvir.
Agora sim
é o fim
que está aqui. (...)
56. Matthew Sweeney – Crucificação

Eu cozinhava uma beterraba quando a campainha tocou.
‘Quem será a essa hora?’, murmurei, marchando
para a porta. Quando a abri, o sol brilhava
tanto que só vi silhuetas, mas discerni
que pairava sobre tudo uma grande cruz preta. (...)
57. Jack Gilbert – Fracasso e voo

Todo mundo esquece que Ícaro também voou.
É a mesma coisa quando o amor chega ao fim,
ou o casamento fracassa e as pessoas falam
que sabiam que aquilo era um erro, que 
nunca daria certo. Que ela tinha
idade suficiente para sabê-lo. Mas qualquer coisa
que valha a pena fazer, deve ser feita com seriedade. (...)
58. Jaime Manrique – O céu sobre a casa de minha mãe

É uma noite de julho
perfumada com gardênias.
Brilham a lua e as estrelas
sem revelar a essência da noite.
Ao longo do crepúsculo
— com suas gradações cada vez mais intensas de ônix,
e o resplendor dourado das estrelas e das sombras —
minha mãe arrumou a casa, o jardim, a cozinha. (...)
59. Philip Larkin – A casa está tão triste

A casa está tão triste. Ficou como foi deixada,
Moldada para o conforto dos últimos saintes
Querendo reconquista-los. Ao invés, despojada
De alguém para agradar, ela definha assim, carente
De um coração para esquecer que foi roubada (...)
60. Eavan Boland – Atlântida – Um soneto perdido

Como diabos aconteceu, eu costumava me perguntar,
de uma cidade inteira – arcos, pilares, colunatas,
isso sem falar nos veículos e animais – ter-se,
um belo dia, afundado? (...)
61. Eiléan Ni Chuilleanéin – A serenata de Hofstetter

Senti a corrente de ar há pouco, enquanto digitava os números –
a data de sua morte, ocorrida há vinte e cinco anos;
estamos em maio, mas a noite clara está ficando mais fria,
o denso fardo se abriu e a dor se disseminou
ao longo desses anos desconhecidos para ela (...)
62. Kerry Hardie – Navio da morte

Observando-a, pela primeira vez,
virar-se para preparar o seu barco, minha mãe;
quando ficou claro que você tinha outros assuntos agora —
os assuntos do seu futuro —
fui inundada pela raiva. (...)
63. Ellen Bass – Miniantologia Poética – Sumário

Uma pequena antologia dos incríveis poemas de Ellen Bass que traduzi para o blog, organizada em ordem (mais ou menos) cronológica.
64. Matt Rasmussen – Suicídio reverso

O cara para quem papai vendeu o carro
volta para buscar o dinheiro dele,

sai do veículo. Com trapos imundos
nós o esfregamos até que deixe de brilhar

e limpamos o seu sangue das
costuras do assento. (...)
65. Louis Macneice – O observador de estrelas

(...) E a esta lembrança agora eu acrescento que a
Luz que então deixou alguns deles pelo menos,
Quarenta e dois anos atrás, nunca chegará
A tempo de eu captura-la, que a luz quando
Aqui chegar pode descobrir que não resta
Mais ninguém vivo (...)
66. Billy Collins – Pardal de Natal

A primeira coisa que ouvi esta manhã
foi um rápido bater de asas, suave, insistente —

asas contra o vidro, como pude descobrir
lá embaixo, quando vi o pequeno pássaro
amotinando-se contra a esquadria de uma
janela alta, tentando lançar-se através
do enigma do vidro para a vasta luminosidade (...)
67. Kenneth Rexroth – Música de Alaúde

A Terra vai durar por muito tempo
Antes de finalmente congelar;
Os homens nela estarão; receberão nomes,
Justificarão seus atos.
Já nós estaremos aqui somente
Como componentes químicos —
Na verdade, uma pequena franquia (...)
68. Wanda Coleman – Uma conversa com meu neto de seis anos de idade

há uma tempestade cósmica sempre que ele está em minha órbita
cinco raças em guerra fora do tempo, aprisionadas

em um corpo alto e petulante, joelhos e cotovelos ossudos

os ensinamentos rigorosamente amorosos da mãe e do pai criam
raízes a despeito da engenharia de mídia e da pressão dos amigos (...)

Clique aqui e veja também a Retrospectiva do ano de 2021

Retrospectiva 2021

O ano de 2021 foi marcado pelo recrudescimento da pandemia no início do ano, o avanço da vacinação pelo país a partir de abril, pelo declínio do número de casos e mortes causados pela doença à medida em que um número maior de pessoas foram sendo vacinadas e o surgimento de uma nova variante do coronavírus muito mais transmissível que suas versões anteriores – uma espécie de Delta 3.0 Sport Turbo. E, como em 2020, termina com um presidente aloprado fazendo de tudo para impedir o avanço da vacinação – desta vez em crianças.

Na política, a sensação é a de que há mais de três anos estamos vivendo dentro do filme “O Feitiço do Tempo”, mas em uma versão terror, dirigida pelo James Wan. Foi o ano em que assistimos as instituições – salvo honrosas exceções – serem definitivamente aparelhadas e utilizadas para fins não republicanos por quem nos governa, o ano dos orçamentos secretos do Lira, dos tratoraços do Centrão, da tentativa de golpe militar em pleno 7 de setembro, etc.

E foi também o ano em que vimos a economia ir à breca e a fome – problema que julgávamos definitivamente debelado – voltar a assolar o país (no momento em que escrevo, quase 50 milhões de brasileiros encontram-se em situação de insegurança alimentar moderada ou grave).

Diante de tanta notícia ruim, cabe-nos, parafraseando Hölderlin, perguntar: e por que poesia em tempos de tanta carência?

Como em quase tudo na minha vida – da qual sou um expectador curioso, mas relativamente impotente diante de seu fluxo incessante -, eu não tenho a resposta. Nem pretendo te-las. Apenas desconfio que tem muito a ver com aquilo que o filósofo norte-americano Richard Rorty disse em O fogo da vida, seu último artigo escrito e publicado antes de morrer (e cuja leitura completa eu recomendo enfaticamente):

“(…) Como quer que tenha sido, agora gostaria de ter passado mais tempo da minha vida com os versos. Não porque tema ter perdido verdades que são incapazes de serem enunciadas em prosa. Não existem tais verdades; não existe nada sobre a morte que Swinburne e Landor soubessem, mas que Epicuro e Heidegger fracassaram em descobrir. Ao contrário, é porque teria vivido mais plenamente se tivesse sido capaz de recitar mais velhas estrofes – da mesma forma que também teria se tivesse feito mais amigos íntimos. Culturas com vocabulários mais ricos são mais plenamente humanas – mais distantes das bestas – do que aquelas com vocabulários mais pobres; homens e mulheres individualmente são mais plenamente humanos quando suas memórias estão amplamente repletas de versos.”

Acho que é mais ou menos por aí: a poesia nos torna mais humanos, mais humildes, mais compreensivos, mais empáticos. Não que o poema seja sempre uma mensagem de solidariedade e amor, edulcorado por belas palavras. Não. O poema às vezes é duro, agressivo, triste, amargamente verdadeiro. Mas, embora o poeta possa ser um fingidor, como nos adverte Pessoa, o poema raramente é dissimulado. O bom poema, nunca.

Tendo essas verdades relativas como norte, fiz, com base em minhas predileções pessoais (todas as listas não o são?), uma relação daqueles poemas que considero os melhores publicados no blog nesse interminável ano de 2021, ordenados pelo mês de publicação.

Feliz ano novo e que venha 2022!, interminável ou não…

1. Maya Angelou – Uma verdade corajosa e surpreendente
Nós, este povo, em um pequeno e solitário planeta
Viajando através do espaço acidental
Passando por estrelas distantes, cruzando o caminho de indiferentes sóis
Para um destino onde todos os sinais nos advertem que
É possível e imperativo que aprendamos
Uma verdade corajosa e surpreendente!
2. Eavan Boland – O barógrafo
Encontrei-o no cais,
um retângulo de madeira,
um barógrafo, a pena de sua haste rabiscando o papel.
3. Anna Belle Kaufman – Frio conforto
Quando minha mãe morreu,
um dos seus bolos de mel permaneceu no freezer.
Eu não poderia suportar o seu desaparecimento,
então, abandonado, ele esperou
em sua caverna de gelo atrás das bandejas de metal
por mais dois anos.
4. Wendell Berry – O desejo de ser generoso
Tudo a que sirvo morrerá, todos os meus deleites,
a carne acesa de minha carne, jardim e campo,
os lírios silenciosos que se encontram na floresta,
as florestas, a colina, a terra toda, tudo
arderá na maldade humana, ou encolherá
na própria velhice. 
5. Una Mannion – Sepultado agachado
Eles deslocam a terra com pequenas espátulas e pincéis e
por toda a semana as focas entoam um refrão desolado como se fosse para você.
Primeiro, o pé de uma pequena criança,
movimentos lentos do pincel em seus ossinhos,
sua forma na vala ganhando definição, um lento nascimento
no canto do campo à beira da água.
6. Lisel Mueller – Imortalidade
No castelo da Bela Adormecida
o relógio bate cem anos
e a garota na torre volta ao mundo.
O mesmo ocorre com os criados na cozinha,
que nem sequer esfregam os olhos.
7. Ellen Bass – O panorama geral
Eu tento ver o panorama geral.
O sol, língua ardente
que nos lambe como uma mãe encantada
por sua nova cria, se consumirá.
Tudo é transitório.
8. X. J. Kennedy – O objetivo do tempo é evitar que tudo aconteça de uma só vez
Imagine que sua vida seja um telescópio dobrado
Atemporal, que desmoronou num piscar de olhos
Do ventre de sua mãe, você, berrando, cai
Em uma casa de repousos. Imagine que você destrói
Seu carro, seu casamento — uma criança devastando
Um campo de margaridas, estudante, adolescente espinhento
Com a amada, fechando às pressas o zíper das calças
Ao ouvir os passos de seus pais no andar de baixo — tudo de uma vez.
9. Joan Margarit – Manhã no cemitério de Montjuïc
Fui à montanha dos túmulos:
lá cheguei cruzando o ermo
da Can Tunis, coberto de seringas
e de plásticos pardacentos, onde tremem, errantes,
as estátuas de trapo dos drogados.
10. Edward Field – Máscara mortuária
No espelho, agora,
      o que vejo
me lembra
      que eu não estarei aqui para sempre.
Não me sinto nada
      como aquela cara.
Por dentro, protesto,
      eu sou completamente diferente.
11. Antonio Carlos Secchin – [Não, não era ainda a era da passagem]
Não, não era ainda a era da passagem
 do nada ao nada, e do nada ao seu restante.
12. Linda Pastan – Chove sobre a casa de Anne Frank
Chove sobre a casa
de Anne Frank
e sobre os turistas
amontoados sob a sombra
de seus guarda-chuvas,
sobre os perfeitamente silenciosos
turistas que prefeririam estar
em outro lugar
13. Robert Morgan – Outono branco
Ela sempre gostou de ler, inclusive
na infância, durante a Guerra da Secessão,
e depois desenvolveu o hábito de ficar acordada
junto ao lampião perto da lareira depois que,
concluída a faxina, o marido e os filhos iam dormir.
14. Mary Oliver – Quando estou entre as árvores
Quando estou entre as árvores,
especialmente entre os salgueiros e os espinheiros-da-virgínia,
mas também entre as faias, os carvalhos e os pinheiros,
elas emitem tantos sinais de alegria.
15. Donald Hall – Últimos dias
“Era razoável
esperar.” Então ele escreveu. No dia seguinte,
em um consultório,
a hematologista de Jane, Letha Mills, sentou-se,
tensa, sua secretária
em pé, de costas para a porta.
“Trago péssimas notícias,”
disse Letha. “A leucemia voltou.
Não há nada a fazer.”
16. Louise Glück – Acalanto
Minha mãe é especialista em uma coisa:
enviar pessoas que ela ama para o outro mundo.
Os pequeninos, os bebês — estes
ela embala, sussurrando ou cantando baixinho. Não posso dizer
o que ela fez pelo meu pai;
o que quer que tenha sido, tenho certeza de que foi o certo.
17. Warsan Shire – para mulheres que são ‘difíceis’ de amar
Você é um corcel correndo sozinha
e ele tenta doma-la
compara você a uma autoestrada impossível
para uma casa em chamas
diz que você o está cegando
que ele nunca poderia deixar você
18. Louise Glück – Santas
Em nossa família, havia duas santas,
minha tia e minha avó.
Mas suas vidas foram diferentes.
19. Mary Oliver – Canção dos construtores
Em uma manhã de verão
sentei-me
em uma encosta
para pensar em Deus—
20. Adrienne Rich – Fotografias do Hubble: Após Sappho
Deve ser a visão mais desejada de todas
a pessoa com quem você espera viver e morrer

entrando numa sala, voltando-se para olhar para você, vis-à-vis
Deveria haver ainda algo

mais desejável: 
21. Edward Field – Ícaro
Apenas as penas flutuando ao redor do chapéu
Mostravam que algo mais espetacular havia ocorrido
Além do afogamento habitual. A polícia preferiu ignorar
Os aspectos confusos do caso
E as testemunhas correram para uma guerra de gangues.
22. Lynn Ungar – Pandemia
E se pensasses nisso
da mesma forma que os judeus consideram o Sabbath —
o mais sagrado dos tempos?
22. Lisel Mueller – Românticos
Os biógrafos modernos se preocupam
em “o quão longe” foi sua terna amizade.
Eles se perguntam o que exatamente significa
quando ele escreve que pensa nela constantemente,
seu anjo da guarda, amada amiga.
23. R S Thomas – Charneca
É bela e calma;
                o ar rarefeito
como o interior de uma catedral

esperando uma presença. 
24. Jane Hirshfield – Hoje, outro universo
O arborista determinou:
senescência         pragas        cancro
acelerado pela seca
                                    mas, em qualquer caso,
não podável       não tratável       não passível de escoras.
25. Barbara Crooker – No meio
(No meio) de uma vida que é tão complicada quanto a de todo mundo,
batalhando por equilíbrio, equilibrando o tempo.
26. Gastão Cruz – Pedro Hestnes
Agradeço muito por ela ter respeitado o meu nível e me mantido motivada. Ela lidou muito bem com meu corpo já não tão jovem e fora de forma. Não poderia querer uma instrutora melhor.
27. Denver Butson – Meu irmão
Para escapar das dores de cabeça e aos medos de uma esposa infiel
meu irmão em perpétua reabilitação usuário de drogas
maquinista encrenqueiro preso aos 14 por incêndio premeditado
e encarcerado por algumas semanas (...)
28. Ursula K. Le Guin – Como me parece
No vasto abismo antes do tempo, o eu
não existe, e a alma se mistura
com a névoa, a rocha e a luz.
29. Pattiann Rogers – Perspectiva de alcance
Lá em cima, longe desta estrada,
Longe das partículas de geada
Que revestem a casca de cada gravanço,
E do rijo inseto arqueiro em seu avanço (...)
30. Daniel Filipe – A invenção do amor
Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e
detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa
esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
31. Joan Margarit – Arcadi Volodos: Sonata D894
É uma música modesta
como um jantar na cozinha,
hospitaleira como ter tido filhos.
Compadece-se do corpo
que a maré arrasta
à praia invernal de cada um.
32. Jorge Valdés Díaz-Vélez – Matzhevá
Em um livro do meu pai, leio
a frase: «A ti, que me lês».
É o título de uma elegia
escrita há dois séculos, ou um sopro
de solitude que se elevou
ao leitor imaginário de 
fora dos círculos do tempo.
33. Stephen Dunn – O não dito
Uma noite, ambos precisaram de coisas diferentes
do mesmo tipo; ela, de consolo; ele, ser consolado.
34. Jennifer Maier – Uma história verdadeira
Um homem idoso estava morrendo em um hospital,
contou-me um amigo médico.

Estava com oitenta e nove anos, e a vida toda fora um alfaiate em uma loja
embaixo do quarto onde nasceu.
35. Natalie Diaz – Meu irmão às 3 da manhã
Ele se sentou de pernas cruzadas, chorando nos degraus,
quando mamãe destrancou e abriu a porta da frente.
        Meu Deus, ele disse. Meu Deus.
                Ele quer me matar, mamãe.
36. Dorianne Laux – Histórias de família
Tive um namorado que me contava histórias sobre sua família,
como a de certa vez em que uma discussão terminou quando seu pai
agarrou um pedaço aceso de um bolo de aniversário com ambas as mãos
e o arremessou pela janela do segundo andar.
37. Sara Teasdale – Chuvas suaves chegarão
Chuvas suaves chegarão e o cheiro de chão,
E andorinhas revoando, seus rútilos sons;
38. Linda Pastan – Elegia
Nosso último corniso inclina-se
sobre o solo da floresta

oferecendo frutos
aos pássaros, aos esquilos.
39. Denise Levertov – Conversando com a dor
Ah, dor, eu não deveria trata-la
como um cão vira-latas
que vem à porta dos fundos
por uma migalha, por um osso descarnado.
Eu deveria confiar em você.
40. Joseph Stroud – Nós
Tentando amarrar meus sapatos, desajeitado, incapaz de descobrir
a lógica disso, atrapalhado, enquanto meu pai fica ali,
sua raiva crescendo por um filho que não consegue fazer nem
essa coisa mais simples pela primeira vez, não consegue nem mesmo
dar o nó para manter seus sapatos nos pés
41. Mark Wunderlich – O Deus do Nada
Meu pai caiu do barco.
Seu equilíbrio já era precário há algum tempo.
Ele havia saído de barco com seu cachorro para
caçar patos em um pântano perto de Trempealeau, Wisconsin.
42. Ellen Bass – O importante é
amar a vida, ama-la mesmo
quando você não tem estômago para isso
e tudo o que você guardou afetuosamente
se desfaz feito papel queimado em suas mãos,
sua garganta repleta desse lodo.
43. Barbara Crooker – Vida comum
Este foi um dia em que nada aconteceu,
as crianças foram para a escola
sem esquecer de seus livros, lanches, luvas.
44. Czesław Miłosz – Elegia para N. N.
Diga-me se é muito longe para você.
Você poderia vir sobre as ondas mansas do Báltico
passando pelos campos da Dinamarca, atravessando um bosque de faias,
poderia se voltar para o oceano, e de lá, logo estaria em
Labrador, branca nesta época do ano.
45. Robinson Jeffers – Carmel Point
A extraordinária paciência das coisas!
Este belo lugar desfigurado por uma safra de casas suburbanas —
Quão belo quando o vimos pela primeira vez,
Um campo intacto de papoulas e tremoceiros cercado por límpidas falésias; (...)
46. Eiléan Ní Chuilleanáin – Bessboro
Isso é o que eu herdei —
Nunca foi minha própria vida,
Mas o nome de uma casa que ouvi
E outras ouviram como uma advertência
Do que poderia acontecer a uma menina
Atrevida e apanhada pela má-sorte:
Um fragmento de um destino
Desolador, uma nota-marreta de medo —
47. Marilyn Nelson – Mais rápido que a luz
Eu não queria pagar para estacionar meu carro,
por isso peguei um táxi para a estação ferroviária.
New London fica a uma hora de carro,
mas aquela foi a melhor solução que pude encontrar.
48. Charles Simic – Igreja de madeira
É só uma choupana fechada com uma torre
Sob o céu de um verão escaldante
Em uma estrada secundária percorrida raramente
Onde as sombras de árvores grandes
Roçam-se tranquilamente como forcas enfileiradas,
E corvos privados de carniça
Grasnam uns com os outros sobre dias melhores.
49. Ada Limón – Mar aberto
Não adianta enganar e tramar e perder
os outros fantasmas, empurrar o sepultado mais fundo
no lodo arenoso, na lama ribeirinha, pois mesmo assim você vem,
minha fiel, o som de um corpo tão persistente
na água que eu não sei dizer se é uma onda ou você
movendo-se através das ondas.
50. Stephen Dobyns – Percepções
O terrível desequilíbrio que ocorre com a idade
quando você de repente vê que, de suas amizades,

mais morreram do que restaram vivos. 
51. W. S. Merwin – Juventude
Durante toda a juventude estive procurando por você
sem saber o que eu procurava

ou de como chama-la acho que eu nem
mesmo sabia o que estava procurando como

poderia reconhece-la quando a visse
52. Jane Kenyon – A pera
Há um momento na meia idade
em que você fica entediado, irritado
por sua mente medíocre, assustado.
53. Eavan Boland – E alma
Minha mãe morreu em um verão —
o mais úmido nos registros do Estado.
Safras apodreciam no oeste.
54. Francisco Brines – Últimos dias
Na herdade ele confina a memória
e o corpo que declina. Tudo morre
sobre este mundo vivo; e a laranjeira,
e o voo do pombo, são traspassados
por um raio outonal de azul.
55. Donald Hall – Afirmação
Envelhecer é perder tudo.
Velhice, todos a conhecemos.
Mesmo quando somos jovens,
às vezes a vislumbramos, e acenamos-lhe com a cabeça
quando perdemos um avô.
56. Mary Oliver – O martim-pescador
Agradeço muito por ela ter respeitado o meu nível e me mantido motivada. Ela lidou muito bem com meu corpo já não tão jovem e fora de forma. Não poderia querer uma instrutora melhor.
57. Joan Margarit – Joana

A obra prima do poeta catalão Joan Margarit, “Joana”, traduzida na íntegra.

58. Kenneth Rexroth – Delia Rexroth
A Califórnia entra num
Verão modorrento, e o ar
Está repleto da agridoce
Fumaça de relva queimando
Nas colinas de São Francisco.
59. Danusha Laméris – Vestindo-se para o enterro
Ninguém fala sobre a hilaridade após a morte —
a forma como na semana em que o meu irmão se matou
a esposa dele e eu caímos na cama gargalhando
porque ela não conseguia decidir sobre o que vestir para o grande dia,
e me perguntou, “Eu quero ser sexy ou Amish?” Eu respondi: sexy.
60. Henry Wadsworth Longfellow – A reunião
Depois de uma longa ausência
     Nos vemos de novo, afinal:
O encontro nos dá prazer,
     Ou, ao contrário, aflição?
61. Mary Oliver – Primavera
Em algum lugar,
uma ursa preta
acaba de despertar
e lança seu olhar

montanha abaixo.
62. Jane Hirshfield – Um dia é vasto
Um dia é vasto.
Até o meio-dia.
Depois acaba.