Joyce Carol Oates – Este não é um poema

Este não é um poema

em que o poeta descobre
delicados ossos branco-ressequidos
de uma pequena criatura
em uma margem do Grande Lago
ou os restos desidratados
dos mais grotescos atropelamentos
ao lado da apressada rodovia.

Nem é um poema em que
um espelho partido concebe
uma face assustada,
ou gramas secas sibi-
lando como consoantes
em uma língua estrangeira.
Álbum de fotos de família
repleto de saudosos
estranhos há muito falecidos,
de armário com as belas
roupas dos mortos.
Baú do sótão, poço de pedra,
ou metonímica lua
viajando no tempo por sabedoria
na era Paleolítica,
no Império Médio
ou Gênesis
ou na época de Bashō…

Em vez disso é uma série
de palavras em busca
de um recipiente —
um caule verde elegante,
um pulmão transparente,
um singular cacho de cabelo,
um arrulhar vogais
como pombas.

Trad.: Nelson Santander

Livros de Joyce Carol Oates

This Is Not a Poem

in which the poet discovers
delicate white-parched bones
of a small creature
on a Great Lake shore
or the desiccated remains
of cruder roadkill
beside the rushing highway.

Nor is it a poem in which
a cracked mirror yields
a startled face,
or sere grasses hiss-
ing like consonants
in a foreign language.
Family photo album
filled with yearning
strangers long deceased,
closet of beautiful
clothes of the dead.
Attic trunk, stone well,
or metonymic moon
time-travelling for wisdom
in the Paleolithic
age, in the Middle Kingdom
or Genesis
or the time of Bashō. . . .

Instead it is a slew
of words in search
of a container—
a sleek green stalk,
a transparent lung,
a single hair’s curl,
a cooing of vowels
like doves.