À memória de Andréa Karandonis
Asa ou marfim
É tudo espesso
Como o ferro e a madeira
Como a proa inquebrável
De um navio
Rumo ao infinito
Assim também a morte
Espessa impenetrável
Como galeria de mina
Muro indestrutível
Poço sem fundo
Carvão aceso
Para alcançar-lhe o duro cerne
Tons de rasgar
O pano entretecidos de fagulhas
Asa ou marfim
É tudo espesso
Lâmina de aço
Assim também a morte
Sangue congelado
Relógio de granito
Parado
Ardor de braseiro
Sobre lábios tenros
Negro fio enrolado
Em negra serpentina
Sobre a neve
Asa ou marfim
Tudo é diáfano
Qual uma vidraça
Assim também a morte
Prata fosca
De um espelho
Rosto pálido
Imaterial
Oculto
Entre as pedras
Com o veludo do sono
Eterno
E a bruma dos dias
Asa ou marfim
Tudo é diáfano
Como o véu da aurora
Assim também a morte
Cais a pique
De infrangível porcelana
Onde atracam
Os que nada têm
Os que nada sabem
Os que definitivamente ganharam
A sua inocência
Trad.: José Paulo Paes