Emily Dickinson – Morri pela Beleza

Morri pela Beleza – e assim que no Jazigo
Meu Corpo foi fechado,
Um outro Morto foi depositado
Num Túmulo contíguo –

“Por que morreu?” murmurou sua voz.
“Pela Beleza” – retruquei –
“Pois eu – pela Verdade – É o Mesmo. Nós
Somos Irmãos. É uma só lei” –

E assim Parentes pela Noite, sábios –
Conversamos a Sós –
Até que o Musgo encobriu nossos lábios –
E – nomes – logo após –

Trad.: Augusto de Campos

REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 26/10/2017

I died for Beauty

I died for Beauty – but was scarce
Adjusted in the Tomb
When One who died for Truth, was lain
In an adjoining Room –

He questioned softly “Why I failed”?
“For Beauty”, I replied –
“And I – for Truth – Themself are One –
We Brethren, are”, He said –

And so, as Kinsmen, met a Night –
We talked between the Rooms –
Until the Moss had reached our lips –
And covered up – our names –

Emily Dickinson – Dizem que “O Tempo Consola”

Dizem que “O Tempo consola” —
Mas não — na realidade,
A vera dor, como um Tendão,
Se fortalece, com a idade —

O Tempo testa a Tristeza —
Porém não a remedia —
Se cura o Mal, prova apenas
Que Mal deveras não havia —

Trad.: Paulo Henriques Britto

REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 22/03/2017

They say that “Time assuages”

They say that “Time assuages” —
Time never did assuage —
An actual suffering strengthens
As Sinews do, with age —

Time is a Test of Trouble —
But not a Remedy —
If such it prove, it prove too
There was no Malady —

Emily Dickinson – Depois de uma grande dor sobrevém um sentimento austero

Depois de uma grande dor sobrevém um sentimento austero –
Os Nervos ficam cerimoniosos tal qual um cemitério –
Questiona o rijo Coração, ‘o que resistiu, foi Quem?’,
E ‘Séculos antes ou Ontem?’

Circundam, mecânicos, os pés –
Os Sopés, o Ar, ou um Quê –
Um caminho de madeira
Que negligentemente medra
Um contentamento de Quartzo, como uma pedra –

A Hora de Chumbo chegou –
Lembrada, para quem perdurou,
Como as Frias pessoas lembram a neve –
Primeiro – o Frio – depois Estupor – e então o até breve.

Trad.: Nelson Santander

After great pain a formal feeling comes

After great pain a formal feeling comes –
The Nerves sit ceremonious, like Tombs –
The stiff Heart questions was it He, that bore,
And Yesterday, or Centuries before?

The feet, mechanical, go round –
Of Ground, or Air, or Aught –
A Wooden way
Regardless grown,
A Quartz contentment, like a stone –

This is the Hour of Lead –
Remembered, if outlived,
As Freezing persons, recollect the snow –
First – Chill – then Stupor – then the letting go –

Emily Dickinson – Poema 1.222

O Enigma decifrado
Despreza-se com pressa —
A Surpresa de Ontem
Já não nos interessa —

Trad.: Augusto de Campos

Poem 1.222

The Riddle we can guess
We speedily despise —
Not anything is stale so long
As Yesterday’s surprise —

Emily Dickinson – de “Não sou ninguém”

27
Poetas mártires — não clamam —
A Dor em sílabas transmudam —
Falam por eles seus poemas —
Quando já estejam mudos.

Pintores mártires — Não falam —
Com sua Obra eles almejam
Que quando já não sejam mais —
Alguns busquem na Arte — a Paz —

Trad.: Augusto de Campos

The Martyr Poets — did not tell —
But wrought their Pang in syllable —
That when their mortal name be numb —
Their mortal fate — encourage Some —

The Martyr Painters — never spoke —
Bequeathing — rather — to their Work —
That when their conscious fingers cease —
Some seek in Art — the Art of Peace —

Emily Dickinson – “Senti um Féretro em meu Cérebro…”

Senti um Féretro em meu Cérebro,
E Carpideiras indo e vindo
A pisar — a pisar — até eu sonhar
Meus sentidos fugindo —

E quando tudo se sentou,
O Tambor de um Ofício —
Bateu — bateu — até eu sentir
Inerte o meu Juízo

E eu os ouvi — erguida a Tampa —
Rangerem por minha Alma com
Todo o Chumbo dos pés, de novo,
E o Espaço — dobrou,

Como se os Céus fossem um Sino
E o Ser apenas um Ouvido,
E eu e o Silêncio estranha Raça
Só, naufragada, aqui —

Partiu-se a Tábua em minha Mente
E eu fui cair de Chão em Chão —
E em cada Chão achei um Mundo
E Terminei sabendo — então —

Trad.: Augusto de Campos

 

Emily Dickinson – I felt a Funeral, in my Brain

I felt a Funeral, in my Brain,
And Mourners, to and fro
Kept treading — treading — till it seemed
That Sense was breaking through —

And when they all were seated,
A Service like a Drum —
Kept beating — beating — till I thought
My Mind was going numb —

And then I heard them lift a Box
And creak across my Soul
With those same Boots of Lead, again,
Then Space — began to toll,

As all the Heavens were a Bell,
And Being, but an Ear,
And I, and Silence, some strange Race
Wrecked, solitary, here —

And then a Plank in Reason, broke,
And I dropped down, and down —
And hit a World, at every plunge,
And Finished knowing — then —

Emily Dickinson – “Morrer por ti era pouco…”

Morrer por ti era pouco.
Qualquer grego o fizera.
Viver é mais difícil —
É esta a minha oferta —

Morrer é nada, nem
Mais. Porém viver importa
Morte múltipla — sem
O Alívio de estar morta.

Trad.: Augusto de Campos

Too scanty ’twas to die for you,
The merest Greek could that.
The living, Sweet, is costlier —
I offer even that —

The Dying, is a trifle, past,
But living, this include
The dying multifold — without
The Respite to be dead.

Emily Dickinson – Morri pela Beleza

Morri pela Beleza – e assim que no Jazigo
Meu Corpo foi fechado,
Um outro Morto foi depositado
Num Túmulo contíguo –

“Por que morreu?” murmurou sua voz.
“Pela Beleza” – retruquei –
“Pois eu – pela Verdade – É o Mesmo. Nós
Somos Irmãos. É uma só lei” –

E assim Parentes pela Noite, sábios –
Conversamos a Sós –
Até que o Musgo encobriu nossos lábios –
E – nomes – logo após –

Trad.: Augusto de Campos

 

I died for Beauty – but was scarce
Adjusted in the Tomb
When One who died for Truth, was lain
In an adjoining Room –

He questioned softly “Why I failed”?
“For Beauty”, I replied –
“And I – for Truth – Themself are One –
We Brethren, are”, He said –

And so, as Kinsmen, met a Night –
We talked between the Rooms –
Until the Moss had reached our lips –
And covered up – our names –

Emily Dickinson – Dizem que “O Tempo Consola”

Dizem que “O Tempo consola” —
Mas não — na realidade,
A vera dor, como um Tendão,
Se fortalece, com a idade —

O Tempo testa a Tristeza —
Porém não a remedia —
Se cura o Mal, prova apenas
Que Mal deveras não havia —

Trad.: Paulo Henriques Britto

They say that “Time assuages” —
Time never did assuage —
An actual suffering strengthens
As Sinews do, with age —

Time is a Test of Trouble —
But not a Remedy —
If such it prove, it prove too
There was no Malady —