William Carlos Williams – Nevasca

Neve:
anos de fúria seguidos de
horas que flutuam ociosamente —
a nevasca
dispersa seu fardo
mais e mais por três dias
ou sessenta anos, heim? Então
o sol! um tumulto de
flocos amarelos e azuis —
Árvores de aparência hirsuta se destacam
em longas vielas
além da selvagem solidão.
O homem se volta e ali —
sua trilha solitária se estendendo
por sobre o mundo.

Trad.: Nelson Santander

Blizzard

Snow:
years of anger following
hours that float idly down —
the blizzard
drifts its weight
deeper and deeper for three days
or sixty years, eh? Then
the sun! a clutter of
yellow and blue flakes —
Hairy looking trees stand out
in long alleys
over a wild solitude.
The man turns and there —
his solitary track stretched out
upon the world.

William Carlos Williams – A Árvore sem Folhas

A cerejeira sem folhas
mais alta que o teto
deu ano passado
muita fruta. Como
falar porém de fruta diante
desse esqueleto?
Embora possa estar vivo
não há fruta nele.
Por isso derrubem-no
e usem a lenha contra
este frio cortante.

Trad.: José Paulo Paes

 

The bare tree

The bare cherry tree
higher than the roof
last year produced
abundant fruit. But how
speak of fruit confronted
by that skeleton?
Though live it may be
there is no fruit on it.
Therefore chop it down
and use the wood
against this biting cold.

William Carlos Williams – As Árvores de Botticelli

O alfabeto das
árvores

se esfuma no
canto das folhas

os entre-
laços de finas

letras que soletram
inverno

e o frio
são iluminados

em
apontos de verde

por chuva e sol –
Os princípios

simples estritos de
justos ramos

são tangidos
por beliscões

afãs de cor, devotas
condições

os sorrisos de amor –
…………….

até que as despidas
sentenças

movam-se como pernas de
mulher sob as vestes

e louvem do ágil
sigilo em desejo

o assomo do amor
no verão

No verão o canto
encanta-se

além das palavras murcha-
das –

Trad.: Iumna Maria Simon e

Luiz Antonio de Figueiredo

William Carlos Williams – O Vento Aumenta

A saqueada
terra está varrida
As árvores
o brilho da tulipa
desponta
dobram-se e
dançam –
Desata teu amor
para fluir
Florir!
Bom Cristo o que é
um poeta – se algum
existe?
um homem
cujas palavras irão
morder
sua trilha
de retorno – ser atual
tendo a forma.
do movimento
Em cada ramo-em-ponta
novo
no torturado
corpo da mente
roendo
a terra
uma trilha
rumo à extrema
/folha-em-ponta

Trad.: Iumna Maria Simon e
Luiz Antônio de Figueiredo

William Carlos Williams – Estas

ESTAS

são as semanas desoladas, sombrias
em que na sua aridez a natureza
rivaliza com a estupidez humana.

O ano despenha-se na noite
e o coração é um abismo
mais fundo que a noite

nesse vazio varrido pelo vento
sem sol, sem lua nem estrelas
apenas uma estranha luz do pensamento

que lança um tenebroso fogo –
rodando sobre si mesma até
no frio incendiar-se

e revelar ao homem algo que ele
desconhece, não a solidão
em si – não um espectro

ainda que o pudesse abraçar – vazio,
desespero – (gemendo
soluçando) entre

as chamas e os estrondos da guerra;
casas em cujos aposentos
o frio ultrapassa o imaginável,

aqueles que se foram e que amávamos
vazias as camas, úmidos os
sofás, as cadeiras sem uso –

Oculta-os algures
longe do pensamento, deixa-os criar
raízes e crescer, salvo de olhos e ouvidos

ciosos – por si somente.
A esta mina chegam para escavar – todos.
Será isto o contraponto da música mais

suave? A fonte da poesia que
ao ver o relógio parado, diz:
Parou o relógio

que ontem trabalhava tão bem?
e ouve o som das águas do lago
salpicando – agora petrificadas.

Trad.: José Agostinho Baptista