Nelson Santander – Religio

o tempo me fascina
o tempo (os ponteiros fascistas)
de horas assassinas
suas facetas, seus lados

cegos
surdos
mudos me atraem
seus mundos

passados/
presentes/
futuros me traem

subtraem
(o tempo perdido
a perda de tempo:
pretextos para a vida

e a morte)
os relógios de hoje são tão

belos
táteis
frágeis
mesmo nas horas mais negras

brilham
glaciais
antiga-
mente, as horas fluíam enferrujadas

sujas
ocas
foscas
opacas
hoje, no ir

e vir elétrico

e silencioso dos pêndulos-dias,
os galos já não mais anunciam a aurora:
com a precisão digital

do sol,
meu coração bate

e observa os anos
que es-
correm, rapidamente
horas
abaixo

05/1988