Ela está quase lá. Desta vez, eles
estão sentados, unidos abaixo dos ventres,
os pés em concha como macias mãos orando
na base da coluna vertebral um do outro.
E quando algo se eleva dentro dela
em direção a uma luz, ela está certa, uma vez mais,
de que não pode suportar, ela abre os olhos
e vê o rosto dele voltado para o lado,
um braço para trás, as mãos espalmadas
sobre o colchão, de modo a se segurar
para poder alavancar seus quadris, tocar
com a ponta brilhante o ponto mais profundo.
E ela descobre que não pode suportar —
não seu belo pescoço, esticado e enfeitado,
nem seus cabelos caídos de um lado como relva de praia,
ou a asa curva de sua orelha, levemente lavada
pela luz do dia, rosa profundo do corpo interno —
o que ela não suporta é não poder ver sua face,
não que ela pense precisamente isso — ela está se movendo
e ofegando — é mais o pensamento sobre o corpo dela,
abrindo-se, como está, em sua própria pura verdade.
Então, quando sua mão se ergue de sua própria violação
e o esbofeteia, duas vezes no peito,
naquela almofada de carne musculosa logo acima do mamilo,
duas vezes, rápido, como um lactente
tentando chamar a atenção da mãe,
ela se assusta com o som,
contudo, quando ele vira o rosto em direção ao dela —
que é o que o seu corpo quer, seus olhos
se abrem, como se ela tivesse mordido —
ela o alcança e o morde, no ombro,
não com força, mas com o poder que têm as crianças
sobre aqueles que os sustentam, ligados como são
ao corpo, e portanto, presos ao prazer,
à requintada dor deste mundo.
E quando ela levanta o rosto, ele vê
para onde ela foi e que não consegue falar,
está viajando em direção a algo essencial,
ao cerne de suas necessidades, então ele simplesmente
observa, detidamente, com uma calma animal
enquanto ela arqueia e grita, observa o rosto que,
se ela pudesse ver, jamais deixaria que ele o visse.
Trad.: Nelson Santander
The Lovers
She is about to come. This time,
they are sitting up, joined below the belly,
feet cupped like sleek hands praying
at the base of each other’s spines.
And when something lifts within her
toward a light she’s sure, once again,
she can’t bear, she opens her eyes
and sees his face is turned away,
one arm behind him, hands splayed
palm down on the mattress, to brace himself
so he can lever his hips, touch
with the bright tip the innermost spot.
And she finds she can’t bear it—
not his beautiful neck, stretched and corded,
not his hair fallen to one side like beach grass,
not the curved wing of his ear, washed thin
with daylight, deep pink of the inner body—
what she can’t bear is that she can’t see his face,
not that she thinks this exactly—she is rocking
and breathing—it’s more her body’s though,
opening, as it is, into its own sheer truth.
So that when her hand lifts of its own violation
and slaps him, twice on the chest,
on that pad of muscled flesh just above the nipple,
slaps him twice, fast, like a nursing child
trying to get a mother’s attention,
she’s startled by the sound,
though when he turns his face to hers—
which is what her body wants, his eyes
pulled open, as if she had bitten—
she does reach out and bite him, on the shoulder,
not hard, but with the power infants have
over those who have borne them, tied as they are
to the body, and so, tied to the pleasure,
the exquisite pain of this world.
And when she lifts her face he sees
where she’s gone, knows she can’t speak,
is traveling toward something essential,
toward the core of her need, so he simply
watches, steadily, with an animal calm
as she arches and screams, watches the face that,
if she could see it, she would never let him see.