Coisa nenhuma subsiste, mas tudo flui.
Fragmento ajusta-se a fragmento e as coisas assim crescem
Até que as conhecemos e nomeamos.
Fundem-se, e já não são as coisas que conhecêramos.
Formados dos átomos que caem velozes ou lentos
Vejo os sóis, vejo os sistemas se ordenarem;
É sólido que a natureza está em nós até mais
Do que nossa consciência sobre nós mesmos.
Tu também, ó Terra, teus impérios, países e mares
A menor de todas as galáxias,
Também formada assim, também tu te irás, ó Terra,
E hora a hora vais indo, ó Terra.
Nada subsiste. Teus mares desaparecerão em névoa;
As areias abandonaram o seu lugar,
E onde hoje se acamam outros mares
Abrirão, com suas foices de brancura, outras baías.
Lucrécio 96 a.C. – 55 a.C.
Trad.: Antonio José de Lima Leitão
REPUBLICAÇÃO – Poema (excerto) publicado no blog originalmente em 16/11/2022