Em meio à multidão a vi passar, com seus olhos tão dourados quanto seus cabelos. Caminhava cortando o ar e os corpos; uma mulher se ajoelhou em seu caminho. Senti como o sangue desertava de minhas veias gota a gota.
Vazio, andei sem rumo pela cidade. Gente estranha passava a meu lado sem me ver. Um corpo se derreteu com um leve sussurro quando nele tropecei. Andei mais e mais.
Não sentia meus pés. Quis segura-los com as mãos
e não achei minhas mãos; quis gritar, e não achei minha
voz. A névoa me envolvia.
Pesava-me a vida como um remorso; quis expulsa-la de mim. Mas era impossível, porque estava morto e andava entre os mortos
Trad.: Nelson Santander
Luís Cernuda – En Medio de la Multitud
En medio de la multitud le vi pasar, con sus ojos tan rubios como la cabellera. Marchaba abriendo el aire y los cuerpos; una mujer se arrodilló a su paso. Yo sentí cómo la sangre desertaba mis venas gota a gota.
Vacío, anduve sin rumbo por la ciudad. Gentes extrañas pasaban a mi lado sin verme. Un cuerpo se derritió con leve susurro al tropezarme. Anduve más y más.
No sentía mis pies. Quise cogerlos en mi mano y no hallé mis manos; quise gritar, y no hallé mi voz. La niebla me envolvía.
Me pesaba la vida como un remordimiento; quise arrojarla de mí. Mas era imposible, porque estaba muerto y andaba entre los muertos.
Curtir isso:
Curtir Carregando...