Eu cheiro o Lírio Tigre em flor,
duas línguas saltando
de uma boca.
Eu enveneno o rio involuntariamente.
Marcho nos caminho demarcados.
Eu corto a montanha, seu corpo e sua boca escancarados.
Recolho a água da chuva em um carrinho de mão.
Eu forro o ventre da baleia com presentes até
que eles dilacerem seu estômago.
Eu rego os morangos.
Novamente eu encho meu tanque com coisas mortas,
gerações girando juntas até brilhar.
Alimento os patos com alface fresca.
Eu manejo o esquilo morto
na estrada, marcando o momento
em que a criatura se torna carne.
Aceito que meu amor é uma
flor venenosa, rotineiramente fatal.
Eu calculo a força do
amor em cada morte reluzente.
O tempo todo nesta terra, nas
florestas profundas, os verdes elétricos e
a lama ainda úmida se contorcem com vida.
A lagoa borbulha e murmura.
Todos aqui sabem tremer
quando me vêem chegando.
As mangas chegam intactas
ao supermercado.
Os lobos devem começar a correr.
Trad.: Nelson Santander
Aqui: Do/Do Not
Sobre o poema: “Eu escrevi “Fazer/Não Fazer” como parte da luta contra a impotência que muitas vezes sinto ao viver em um momento de devastação e perdas. Não importa o quanto mudemos nossos comportamentos individuais, permanecemos presos e inseridos em um sistema que trata a vida humana e não-humana como descartável. Embora eu acredite que um mundo construído com base na prosperidade mútua de todos os seres vivos seja possível, ele parece distante na vida cotidiana, onde os cuidados e a proteção estão muitas vezes entrelaçados com a exploração e a dominação. Nestas condições, o impulso de amar e nutrir é tão insuficiente quanto absolutamente necessário”. – Nisha Atalie
Do/Do Not
I sniff the blooming tiger lily,
two tongues sprung open
from one mouth.
I poison the river unintentionally.
I walk on the designated paths.
I splice the mountain, its body and mouth gaping.
I collect rainwater in a wheelbarrow.
I line the whale’s belly with gifts until
they rupture its stomach.
I water the strawberries.
Again I fill my gas tank with dead things,
generations spun together until shiny.
I feed the ducks fresh lettuce.
I maneuver the dead squirrel
on the road, mark the moment
when creature becomes meat.
I accept that my love is a
poisonous flower, routinely fatal.
I calculate the force of
loving in each glittering death.
All day on this land, in the
deep forest, the electric greens and
still-wet mud writhe with life.
The pond gurgles and whispers.
Everyone here knows to shudder
when they see me coming.
The mangos arrive unbruised
at the grocery store.
The wolves should start running.