Dan Gerber – No final de setembro

Certa estrela, da qual eu gostava,
desapareceu. É possível que
eu a tenha perdido. Esqueci
os nomes das nuvens e árvores e
rostos, como canções das quais
remanesce apenas uma duradoura melodia.
*
Pequeno riacho,
sob os salgueiros junto à minha cabana alugada —
mais minha do que qualquer outra que eu possa possuir —,
diga-me novamente o nome secreto
que você murmura enquanto estou sentado aqui sozinho,
sem decepções nem esperanças.

Trad.: Nelson Santander

In Late September

A certain star I’ve grown fond of
has gone missing. It’s possible
I’ve misplaced it. I’ve forgotten
the names of clouds and trees and
faces, like songs from which
only an abiding melody remains.
*
Little creek,
under the willows by my rented cabin—
more mine than any I could own—
tell me again the secret name
you murmur as I sit here alone,
without disappointment or hope.

Dan Gerber – Cinema Paradiso

No final de novembro
palavras apareceram na ponta da minha caneta
como a resposta a uma pergunta que
eu ainda não havia feito.
Uma tornou-se um condor; outra,
uma nuvem,
enquanto uma terceira palavra, espinhosidade,
ganhou vida no sonho de um cardo.
O que é mais real,
a neve ou a bola de neve,
a palavra ou as letras que a
compõe?
Eu empacotei a neve, uma galáxia de minúsculas
estrelas brancas entre as palmas das mãos.
É assim que surge um buraco negro?
Não, um buraco negro é um eixo
repleto de luz.
Com o tempo,
que nem vem nem vai,
o próprio universo pode
se tornar um buraco negro;
nesse caso ainda estaremos todos juntos,
na escuridão,
esperando o início do espetáculo.

Trad.: Nelson Santander
Cinema Paradiso

On a morning in November
words appeared at the end of my pen
like the answer to a question
I hadn’t yet asked.
One became a condor, another
a cloud,
while a third word, spinosity,
came to life in the dream of a thistle.
Which is more real,
the snow or the snowball,
the word or the letters of which
it’s composed?
I packed the snow, a galaxy of tiny
white stars between my palms.
Is this how a black hole begins?
No, a black hole is an axis
chock-full of light.
In time,
which neither comes nor goes on,
the universe itself may
become a black hole,
in which case we’ll all still be together,
in the dark,
waiting for the show to begin.

Dan Gerber – Para Deneb


Tão impossivelmente distante,
dizem os eruditos astrônomos,
mais remota
do que qualquer outra Coisa que
eu já tenha visto,
calorosa companheira de uma noite de verão,
um quarto de milhão de vezes
a luz do nosso sol,
obliterando os quatrilhões
de milhas da escuridão à sua volta,
ainda assim tão familiar,
tão em casa com as estrelas do nosso bairro,
aqui na cauda do Cisne,
tão serena em seu ménage com a Águia
e a ainda resplandecente Lyra.

Trad.: Nelson Santander

To Deneb

So impossibly distant,
the learned astronomers tell me,
more remote
than any one Thing
I’ve ever seen,
fond companion of a summer night,
a quarter-million times
the light of our sun,
obliterating the darkness
quadrillions of miles around you,
yet so familiar,
so at home with our neighborhood stars,
here in the tail of the Swan,
so serene in your ménage with the Eagle
and the still-shining Lyre.

Dan Gerber – Frequentemente, imagino a terra

Frequentemente, imagino a terra
com o olhar dos átomos de que somos feitos —
átomos, peculiares
átomos por toda parte —
sem eu, sem você, sem opiniões,
sem princípio, sem meio, sem fim,
planando juntos como aqueles
antigos pássaros chineses
nascidos milagrosamente com apenas uma asa,
ajudando uns aos outros a voar para casa.

Trad.: Nelson Santander

Often I Imagine the Earth

Often I imagine the earth
through the eyes of the atoms we’re made of—
atoms, peculiar
atoms everywhere—
no me, no you, no opinions,
no beginning, no middle, no end,
soaring together like those
ancient Chinese birds
hatched miraculously with only one wing,
helping each other fly home.