Alberto da Cunha Melo – Lendo Emile Zola

O sol esgota os objetos:
não me deixa dizer mais nada.
Transforma em plantas os fantasmas
que ontem dançavam no quintal.

Mostra a burra realidade
das coisas, o preço dos sonhos;
água laminada levando,
em ondas, o último mistério.

Tudo foi dito da maneira
mais cruel: um micro de sol
escreveu em poucos segundos
todos os livros que sonhaste.

Cada morto que descobrias
já tinha sido visitado,
não apontaste nenhum pássaro
que a floresta desconhecesse.

E esta verdade passageira
que te cumpria revelar
foi arrancada quando um garfo
de sol já ia penetrá-la.