Ada Limón – O que eu quero lembrar

Logo antes da casa do general Vallejo,
com suas imponentes pedras e paredes amarelas,

há um campo ao longo do caminho
para o qual as chuvas de primavera conduzem os sapos,

toda uma sinfonia deles, inaugurando
as horas logo após o sol

afundar no Oceano Pacífico, a apenas
uma hora de distância. Por que estou colocando

você aqui? Estou em um avião indo para o oeste
e todos os humanos são tão barulhentos

que chega a doer o sangue. Mas houve uma vez em que
me sentei próxima a um caminho que ainda estava quente

do calor do dia, pernas cruzadas,
com meu amigo chamado Eco que me ensinou

a amplificar o estranho som que os sapos
faziam simplesmente cobrindo meus ouvidos.

Eu preciso manter isso fechado dentro de mim,
quando as notícias do dia estão cheias de crianças mortas,

seus rostos abrindo suas bocas para o ar
que não virá. Uma vez eu também fui uma criança

e meu amigo e eu nos sentamos por talvez uma hora,
os olhos se ajustando ao céu noturno, cobrindo

e descobrindo nossos ouvidos para ouvir
a canção que os animais mais ternos faziam.

Trad.: Nelson Santander

What I Want to Remember

Right before General Vallejo’s home,
with its stately stone and yellow walls,

there’s a field along the footpath
where spring rains bring the frogs,

a whole symphony of them, breaking
open the hours just after the sun

sinks into the Pacific Ocean only
an hour away. Why am I placing

you here? I’m on a plane going west
and all the humans are so loud

it hurts the blood. But once I sat
next to a path that was still warm

from the day’s heat, cross-legged
with my friend named Echo who taught

me how to amplify the strange sound
the frogs made by cupping my ears.

I need to hold this close within me,
when today’s news is full of dead children,

their faces opening their mouths for air
that will not come. Once I was a child too

and my friend and I sat for maybe an hour,
eyes adjusting to the night sky, cupping

and un-cupping our ears to hear
the song the tenderest animals made.

Ada Limón – O que eu não sabia antes

era como os cavalos simplesmente davam à luz outros
cavalos. Não um bebê de qualquer jeito, não
uma criatura de espaços limiares, mas um animal
de quatro patas decidido a andar, correndo atrás
da mãe. Um cavalo dá lugar a outro
cavalo e, de repente, há dois cavalos,
simples assim. Foi como eu te amei. Você,
descendo do longo trem na Red Bank carregando
um café do tamanho do seu braço, uma bolsa com dois
computadores balançando desajeitadamente ao seu
lado. Lembro-me de termos caído na risada
quando nos vimos. O que houve entre
nós não foi uma coisa frágil para ser mimada, murmurada.
Já veio totalmente formada, pronta para correr.

Trad.: Nelson Santander

What I Didn’t Know Before

was how horses simply give birth to other
horses. Not a baby by any means, not
a creature of liminal spaces, but a four-legged
beast hellbent on walking, scrambling after
the mother. A horse gives way to another
horse and then suddenly there are two horses,
just like that. That’s how I loved you. You,
off the long train from Red Bank carrying
a coffee as big as your arm, a bag with two
computers swinging in it unwieldily at your
side. I remember we broke into laughter
when we saw each other. What was between
us wasn’t a fragile thing to be coddled, cooed
over. It came out fully formed, ready to run.

Ada Limón – Viaduto

A estrada não era tão perigosa na época,
quando eu caminhava até a mureta de aço,
inclinava meu corpo flexível de menina, e contemplava
a água fria do riacho. Em uma úmida nascente,
a água que corria clara e alta, peixinhos
petiscando areia e lodo, um caranguejo
ensombrado pelos altos juncos das margens.
Eu podia olhar durante horas, algo
sempre novo em cada pedaço aguacento —
uma tampinha de garrafa, uma bota preta de homem, uma rã.
Uma vez, uma carcaça de guaxinim, metade sob
o viaduto, metade fora, apodreceu lentamente
ao longo de meses. Eu o examinava todos os dias,
observando até que os ossos brancos de sua pata
ficassem totalmente sem pele e parecessem estender-se
em direção ao sol à medida em que ele entrava na água,
mostrando todos os seus cinco doces dedos tensos
ainda contraídos. Eu não acho que a venerava,
sua morte, mas eu gostava das evidências
dela, de como parecia com um trabalho diariamente
tomar nota de sua mudança na areia.

Trad.: Nelson Santander

Overpass

The road wasn’t as hazardous then,
when I’d walk to the steel guardrail,
lean my bendy girl body over, and stare
at the cold creek water. In a wet spring,
the water’d run clear and high, minnows
mouthing the sand and silt, a crawdad
shadowed by the shore’s long reeds.
I could stare for hours, something
always new in each watery wedge—
a bottle top, a man’s black boot, a toad.
Once, a raccoon’s carcass half under
the overpass, half out, slowly decayed
over months. I’d check on him each day,
watching until the white bones of his hand
were totally skinless and seemed to reach
out toward the sun as it hit the water,
showing all five of his sweet tensile fingers
still clinging. I don’t think I worshipped
him, his deadness, but I liked the evidence
of him, how it felt like a job to daily
take note of his shifting into the sand.

Ada Limón – Instruções para não desistir

Mais do que os funis fúcsia rompendo
da macieira, mais do que a exibição quase
obscena dos galhos da cerejeira do vizinho enfiando
suas flores cor de algodão doce no céu ardósia
das chuvas de primavera, é o verdejar das árvores
que realmente me comove. Quando todo o embate de branco
e caramelo e os berloques e bugigangas do mundo deixam,
de rescaldo, a calçada repleta de confetes espalhados,
as folhas vêm. Paciente, laboriosa, uma pele verde
cresce sobre o que quer que o inverno nos tenha feito, um retorno
à estranha ideia de uma vida contínua, apesar
do caos entre nós, da dor, do vazio. Tudo bem então,
a árvore parece dizer, eu farei uma folha nova e escorregadia
se desdobrar como um punho aberto, eu o farei.

Trad.: Nelson Santander

Instructions on Not Giving Up

More than the fuchsia funnels breaking out
of the crabapple tree, more than the neighbor’s
almost obscene display of cherry limbs shoving
their cotton candy-colored blossoms to the slate
sky of Spring rains, it’s the greening of the trees
that really gets to me. When all the shock of white
and taffy, the world’s baubles and trinkets, leave
the pavement strewn with the confetti of aftermath,
the leaves come. Patient, plodding, a green skin
growing over whatever winter did to us, a return
to the strange idea of continuous living despite
the mess of us, the hurt, the empty. Fine then,
I’ll take it, the tree seems to say, a new slick leaf
unfurling like a fist to an open palm, I’ll take it all.

Ada Limón – Estrelas mortas

Aqui fora, até as árvores se curvam.
A mão gelada do inverno nas costas de todos nós.
Casca escura, folhas amarelas escorregadias, uma espécie de quietude
tão silenciosa que é quase de outra era.

Ultimamente, sou uma morada de aranhas: um ninho de tentativas.

Apontamos para as estrelas que formam Órion enquanto levamos o lixo
pra fora, os contêineres coletores, uma canção de trovão suburbano.

É quase romântico, enquanto ajustamos a lixeira azul
encerada, até que você diz, Cara, nós realmente deveríamos estudar
algumas novas constelações.

E é verdade. Estamos sempre esquecendo de Antlia, Centaurus,
Draco, Lacerta, Hydra, Lyra, Lynx.

Mas sobretudo estamos esquecendo que somos estrelas mortas também, minha boca está cheia
de poeira e eu desejo reivindicar a ascensão —

inclinar-me sobre os refletores dos postes de iluminação com você, em direção
ao que temos de maior dentro de nós, em direção a como nós nascemos.

Veja, não somos coisas nada espetaculares.
Nós chegamos até aqui, e sobrevivemos. O que

aconteceria se decidíssemos sobreviver mais? Amar mais?

E se nos levantássemos com nossas sinapses e carnes e disséssemos: Não.
Não, à onda crescente.

Pelas inúmeras bocas sem fala do mar, da terra?

O que aconteceria se usássemos nossos corpos para barganhar

pela segurança de outros, pela terra,
se proclamássemos uma noite limpa, se deixássemos o medo de lado,

se lançássemos nossas demandas para o céu, e nos tornássemos tão grandes
que as pessoas pudessem apontar para nós com as setas que elas criam em suas mentes,

rolando suas latas de lixo pra fora, depois que tudo isso terminasse?

Trad.: Nelson Santander

Dead Stars

Out here, there’s a bowing even the trees are doing.
Winter’s icy hand at the back of all of us.
Black bark, slick yellow leaves, a kind of stillness that feels
so mute it’s almost in another year.

I am a hearth of spiders these days: a nest of trying.

We point out the stars that make Orion as we take out
the trash, the rolling containers a song of suburban thunder.

It’s almost romantic as we adjust the waxy blue
recycling bin until you say, Man, we should really learn
some new constellations.

And it’s true. We keep forgetting about Antlia, Centaurus,
Draco, Lacerta, Hydra, Lyra, Lynx.

But mostly we’re forgetting we’re dead stars too, my mouth is full
of dust and I wish to reclaim the rising—

to lean in the spotlight of streetlight with you, toward
what’s larger within us, toward how we were born.

Look, we are not unspectacular things.
We’ve come this far, survived this much. What

would happen if we decided to survive more? To love harder?

What if we stood up with our synapses and flesh and said, No.
No, to the rising tides.

Stood for the many mute mouths of the sea, of the land?

What would happen if we used our bodies to bargain

for the safety of others, for earth,
if we declared a clean night, if we stopped being terrified,

if we launched our demands into the sky, made ourselves so big
people could point to us with the arrows they make in their minds,

rolling their trash bins out, after all of this is over?

Ada Limón – Mar aberto

Não adianta enganar e tramar e perder
os outros fantasmas, empurrar o sepultado mais fundo
no lodo arenoso, na lama ribeirinha, pois mesmo assim você vem,
minha fiel, o som de um corpo tão persistente
na água que eu não sei dizer se é uma onda ou você
movendo-se através das ondas. Um mês antes de morrer
você escreveu uma carta aos velhos amigos dizendo que nadou
com um grupo de golfinhos em mar aberto, despedindo-se,
mas o que você mais falou foi sobre o olho.
Aquele enorme olho inquisitivo de um peixe desconhecido
que passou por você durante o derradeiro mergulho desafiador.
Na costa, você descreveu o peixe como nada que
já tivesse visto antes, um colosso azul-acinzentado se movendo lenta
e pacientemente nas profundas e insondáveis
águas do Pacífico Norte. Naquela noite, eu ouvi mais
sobre aquele peixe e aquele olho do que qualquer outra coisa.
Não sei por que isso me ocorreu essa manhã.
Chuva morna e sem saída para o mar, eu não sou digna da imagem.
Mas não consigo deixar de pensar que algo a viu, algo
deu testemunho de você lá fora no oceano
onde você não era a mãe nem a esposa de ninguém,
mas você em sua pele original, pouco antes de morrer,
sendo observada, e hoje contigo em minha cozinha
agora que dez anos se passaram, eu fiquei tão feliz por você.

Trad.: Nelson Santander

Open water

It does no good to trick and weave and lose
the other ghosts, to shove the buried deeper
into the sandy loam, the riverine silt, still you come,
my faithful one, the sound of a body so persistent
in water I cannot tell if it is a wave or you
moving through waves. A month before you died
you wrote a letter to old friends saying you swam
with a pod of dolphins in open water, saying goodbye,
but what you told me most about was the eye.
That enormous reckoning eye of an unknown fish
that passed you during that last–ditch defiant swim.
On the shore, you described the fish as nothing
you’d seen before, a blue–gray behemoth moving slowly
and enduringly through its deep fathomless
North Pacific waters. That night, I heard more
about that fish and that eye than anything else.
I don’t know why it has come to me this morning.
Warm rain and landlocked, I don’t deserve the image.
But I keep thinking how something saw you, something
was bearing witness to you out there in the ocean
where you were no one’s mother, and no one’s wife,
but you in your original skin, right before you died,
you were beheld, and today in my kitchen with you
now ten years gone, I was so happy for you.

Ada Limón – O ano dos pintassilgos

Eram dois pendendo e pairando próximos
da poça de lama e do cardo almiscarado.
Esvoaçando de um poste partido
para outro, banhando-se no reflexo da água da chuva
como se fosse um espelho para algum outro universo
onde as coisas fossem mais aceitáveis, mais fáceis
do que no lugar onde eu vivia. Eu os observaria:
o exibido macho brilhante, a mirrada
fêmea, em cada caminhada matinal, dias consumidos
buscando por algum tipo de resposta fugidia
para a pergunta que minha curvada figura fazia.
Mais tarde, soube que eles eram um símbolo
da ressurreição. Claro que eram,
meus dois gêmeos de áureas-asas fazendo festa
nos espinheiros e adorando.

Trad.: Nelson Santander

The Year of the Goldfinches

There were two that hung and hovered
by the mud puddle and the musk thistle.
Flitting from one splintered fence post
to another, bathing in the rainwater’s glint
like it was a mirror to some other universe
where things were more acceptable, easier
than the place I lived. I’d watch for them:
the bright peacocking male, the low-watt
female, on each morning walk, days spent
digging for some sort of elusive answer
to the question my curving figure made.
Later, I learned that they were a symbol
of resurrection. Of course they were,
my two yellow-winged twins feasting
on thorns and liking it.

Ada Limón – O fim da poesia

Chega de ósseos e pássaro e girassol
e calçados de neve, bordo e brotos, sâmara e sementes,
chega de chiaroscuro, chega de portanto e profecia
e estoicos estancieiros e fé e pai nosso e acima
de todos, chega de parças e peito*, tez e deus
que não esquece e corpos estelares e pássaros congelados,
chega de vontade de prosseguir e de vontade de desistir ou de como
uma certa luz faz a coisa certa, chega
de ajoelhar e de levantar e de olhar
para dentro e para cima, chega de armas,
drama e suicídio de conhecido, a carta há muito
perdida na cômoda, chega do desejo e
do ego e da obliteração do ego, chega
de mãe e filho e pai e filho
e chega de apontar para o mundo, exausta
e desesperada, chega de brutalidade e de fronteiras,
chega de você pode me ver?, você pode me ouvir? chega
de eu sou humana, chega de eu estou sozinha e desesperada,
chega de animal me salvar, chega de faça
chuva**, chega de sofrimento, chega do ar e seu alívio,
estou pedindo que você me toque.

Trad.: Nelson Santander

* N. do T.: A expressão “tis of thee” foi retirada da tradicional canção patriótica americana “America (My Country, Tis of Thee)” (algo como “América (O meu país é o teu)”), composta em 1831. Logo na sequência temos o verso “enough of bosom and bud”. Em inglês, “bosom of buddy” significa, literalmente, “amigo do peito”. A alusão a uma canção patriótica seguida de duas palavras que, juntas, formam a expressão “amigo do peito” em um (anti)poema que versa sobre a negativa catártica, em tempos pandêmicos, de tudo o que é exagerado, obtuso, anti-poético e também poético, mas também inalcançável – inclusive a própria linguagem poética, não me pareceu um acaso. Assim, uma das interpretações possíveis desses versos é a de que o poema faz uma menção crítica ao suposto relacionamento secreto e promíscuo entre Trump e Putin. Aqui cabe uma observação. Segundo Gabriel Perissé, “o artista nos educa sem se preocupar com resultados pedagógicos ou técnicas didáticas. O resultado que ele procurava era, fundamentalmente, produzir a obra, levar ao fim o seu plano, por mais vago que estivesse em sua cabeça. Concluída a obra, nada mais poderá fazer. Ainda que deseje, não poderá prever ou alterar as consequências do trabalho pronto e entregue à sensibilidade… ou à falta de sensibilidade dos seus semelhantes. A obra de arte não pertence mais ao artista, no sentido de que será livremente acolhida e interpretada por outras pessoas. O leitor será coautor. (…) Vencendo passividades e inércias, quem se aproxima da obra de arte, torna-se autor de sua interpretação e, de certo modo, recriador da obra (…)”.

Assim, ainda que não seja aquela a melhor interpretação deste trecho do poema, a deixa é convidativa demais para que eu não a aproveite. Assim, optei por traduzir (não sem uma ponta de satisfação) “and tis of thee” por “acima de todos”. Minha versão obviamente faz referência ao conhecido slogan do governo Jair Bolsonaro (“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”). Se de fato o poema, nesse trecho, quis fazer uma crítica à promiscuidade entre religião e política que marca o governo conservador de Donald Trump, minha versão faz o mesmo, só que ao governo Bolsonaro que, para além da hipocrisia carola que é uma de suas características mais marcantes, tem o apoio incondicional da chamada Bancada da Bíblia. Tendo optado por tal caminho, não fica difícil intuir porque traduzi o verso seguinte (“enough of bosom and bud”) por “chega de parças e peito”: além de, como ocorre no verso original, tentar emprestar um sentido poético a uma gíria (“bosom of buddy”, em inglês e “parça”, em português), é um fato incontestável que Bolsonaro se julga um grande amigo de Donald Trump (a quem, certa feita, chegou a dirigir um discreto “i love you”). Não sei se a recíproca é verdadeira, mas para Bolsonaro, ele e Trump seriam verdadeiros “parças”, amigões mesmo do peito.

A tradução, portanto, promove o deslocamento do sentido original do poema (sempre na pressuposição de que foi essa a intenção da poeta), que faz referência à parceria Trump-Putin, substituindo o presidente russo pelo brasileiro. Os contextos geopolíticos e a dinâmica desses relacionamentos são evidentemente distintas. Trump parece nutrir por Putin uma admiração que não dispensa ao presidente brasileiro. O relacionamento Trump/Putin é marcado pela simetria e equilíbrio de forças, algo muito distante da sabujice e subserviência de Bolsonaro em relação ao presidente americano. Todavia, a mudança de foco não altera o sentido geral do poema e, com vantagem para o seu entendimento em terras tupiniquins, adapta-o para a nossa realidade. Assim, o mesmo grito de “chega” que o poema parece dirigir a Donald Trump é despejado, em português, em Jair Bolsonaro. Chega mesmo.

** No contexto do poema, a frase “enough of the high water” parece se referir ao ditado americano que diz: “Come Hell Or High Water”. Em português, esse ditado pode ser traduzido por “aconteça o que acontecer” ou pelo popular “faça chuva ou faça sol”, do qual aproveitei a primeira sentença.

The end of poetry

Enough of osseous and chickadee and sunflower
and snowshoes, maple and seeds, samara and shoot,
enough chiaroscuro, enough of thus and prophecy
and the stoic farmer and faith and our father and tis
of thee, enough of bosom and bud, skin and god
not forgetting and star bodies and frozen birds,
enough of the will to go on and not go on or how
a certain light does a certain thing, enough
of the kneeling and the rising and the looking
inward and the looking up, enough of the gun,
the drama, and the acquaintance’s suicide, the long-lost
letter on the dresser, enough of the longing and
the ego and the obliteration of ego, enough
of the mother and the child and the father and the child
and enough of the pointing to the world, weary
and desperate, enough of the brutal and the border,
enough of can you see me, can you hear me, enough
I am human, enough I am alone and I am desperate,
enough of the animal saving me, enough of the high
water, enough sorrow, enough of the air and its ease,
I am asking you to touch me.