Henry Scott Holland – [A morte não é nada]

A morte não é nada*. Ela não conta. Eu apenas passei para a sala vizinha. Nada aconteceu. Tudo permanece exatamente como sempre foi. Eu sou eu, e você é você, e a velha vida que vivemos carinhosamente juntos permanece intocada, inalterada. O que quer que tenhamos sido um para o outro, ainda o somos. Chame-me pelo meu antigo nome. Fale de mim do mesmo jeito simples de sempre. Não mude o timbre da voz. Não vista nenhum ar forçado de solenidade ou de dor. Ria como sempre ríamos das piadas de que desfrutávamos juntos. Brinque, sorria, pense em mim, ore por mim. Que o meu nome seja sempre aquela palavra de todos conhecida que sempre foi. Que ele seja pronunciado sem esforço, sem o fantasma de uma sombra a pairar sobre ele. A vida tem o mesmo significado que sempre teve. É a mesma que sempre foi. Há uma continuidade absoluta e inquebrável. O que é esta morte senão um insignificante acidente? Por que eu deveria ser esquecido se estiver fora do alcance da visão? Estou simplesmente à sua espera, por um intervalo, em um local bem próximo, ao dobrar a esquina. Está tudo bem. Ninguém está ferido. Nada está perdido. Um breve momento e tudo será como era antes. Como riremos das dificuldades da partida quando nos encontrarmos novamente!

Trad.: Nelson Santander

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Death is nothing at all

Death is nothing at all. It does not count. I have only slipped away into the next room. Nothing has happened. Everything remains exactly as it was. I am I, and you are you, and the old life that we lived so fondly together is untouched, unchanged. Whatever we were to each other, that we are still. Call me by the old familiar name. Speak of me in the easy way which you always used. Put no difference into your tone. Wear no forced air of solemnity or sorrow. Laugh as we always laughed at the little jokes that we enjoyed together. Play, smile, think of me, pray for me. Let my name be ever the household word that it always was. Let it be spoken without an effort, without the ghost of a shadow upon it. Life means all that it ever meant. It is the same as it ever was. There is absolute and unbroken continuity. What is this death but a negligible accident? Why should I be out of mind because I am out of sight? I am but waiting for you, for an interval, somewhere very near, just round the corner. All is well. Nothing is hurt; nothing is lost. One brief moment and all will be as it was before. How we shall laugh at the trouble of parting when we meet again!

*N. do T.: “Death Is Nothing At All” é um trecho de um sermão proferido pelo cônego Henry Scott Holland na Catedral de São Paulo, Londres, em 15 de maio de 1910. Este trecho, por vezes modificado e apresentado em forma de verso, é frequentemente erroneamente atribuído a Santo Agostinho. A confusão pode decorrer das semelhanças evidentes entre o texto de Holland e uma das cartas escritas por Santo Agostinho no século IV (Carta 263, endereçada a Sapida). A carta de Santo Agostinho pode ser lida no seguinte link (em inglês. mas o Google Translator dá conta): http://www.newadvent.org/fathers/1102263.htm.

A título de curiosidade e comparação, segue uma das inúmeras versões em português do poema/oração atribuída a Santo Agostinho (que, aliás, ficou muito bonita):

A morte não é nada.
Apenas passei ao outro lado.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.

Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.

Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou,
continua sendo o que era.

O cordão de união não se quebrou.
Porque eu estaria fora de teus pensamentos
apenas porque estou fora de tua vida terrena?

Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo estará bem.
Redescobrirás o meu coração,
e nele redescobrirás a ternura mais pura.

Seca tuas lágrimas e se me amas.
Não chores mais.