Tamara Kamenszain – O Eco de Minha Mãe

Não consigo narrar.
Que pretérito me serviria
se minha mãe já não me tece mais?
Desamparada, então, eu me detenho
diante de um estado de coisas muito presente:
ser a descuidada que dela cuida
enquanto outros a negligenciam por mim.
São pessoas que me são dispensáveis
e a gramática se torna um escândalo
quando ela, que esqueceu as palavras,
manifesta-se em um arroubo raivoso
com o intuito de dizer tudo
embora nada se compreenda.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO, com alterações na tradução: poema publicado na página originalmente em 15/09/2018

El eco de mi madre

No puedo narrar.
¿Qué pretérito me serviría
si mi madre ya no me teje más?
Desmadrada entonces me detengo
ante un estado de cosas demasiado presente:
ser la descuidada que la cuida
mientras otros la descuidan por mí.
Son personas que me sobran
y la gramática se torna un escándalo
cuando ella que olvidó las palabras
adelanta su bebé furioso
con el fin de decirlo todo
aunque no se entienda nada.

Tamara Kamenszain – O Eco de Minha Mãe

Não posso narrar.
Que pretérito me serviria
se minha mãe já não se afasta mais de mim?
Exúbere então me detenho
ante um estado de coisas demasiado presente:
ser a descuidada que dela cuida
enquanto outros a negligenciam por mim.
São as pessoas que me restaram
e a gramática se torna um escândalo
quando ela que esqueceu as palavras
ultrapassa seu bebê furioso
com o fim de dizer tudo
embora não se entenda nada.

Trad.: Nelson Santander
 

El eco de mi madre

No puedo narrar.
¿Qué pretérito me serviría
si mi madre ya no me teje más?
Desmadrada entonces me detengo
ante un estado de cosas demasiado presente:
ser la descuidada que la cuida
mientras otros la descuidan por mí.
Son personas que me sobran
y la gramática se torna un escándalo
cuando ella que olvidó las palabras
adelanta su bebé furioso
con el fin de decirlo todo
aunque no se entienda nada.