"Poema sujo", de Ferreira Gullar turvo turvo a turva mão do sopro contra o muro escuro menos menos menos que escuro menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo escuro mais que escuro:
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Ferreira Gullar – Reflexão sobre o osso da minha perna
A parte mais durável de mim são os ossos e a mais dura também como, por exemplo, este osso da perna que apalpo sob a macia cobertura ativa de carne e pele que o veste e inteiro me reveste dos pés à cabeça esta vestimenta fugaz e viva sim, este osso a mais dura parte … Continue lendo Ferreira Gullar – Reflexão sobre o osso da minha perna
Ferreira Gullar – Morrer no Rio de Janeiro
Se for março quando o verão esmerila a grossa luz nas montanhas do Rio teu coração estará funcionando normalmente entre tantas outras coisas que pulsam na manhã ainda que possam de repente enguiçar. Se for março e de manhã as brisas cheirando a maresia quando uma lancha deixa seu rastro de espumas no dorso da … Continue lendo Ferreira Gullar – Morrer no Rio de Janeiro
Ferreira Gullar – Reflexão
Está fora de meu alcance o meu fim Sei só até onde sou contemporâneo de mim
Ferreira Gullar – Lições de um gato siamês
Só agora sei que existe a eternidade: é a duração finita da minha precariedade O tempo fora de mim é relativo mas não o tempo vivo: esse é eterno porque afetivo — dura eternamente enquanto vivo E como não vivo além do que vivo não é tempo relativo: dura em si mesmo eterno (e transitivo)
Ferreira Gullar – Fim
Como não havia ninguém na casa aquela terça-feira tudo é suposição: teria tomado seu costumeiro banho de imersão por volta de meio-dia e trinta e de cabelos ainda úmidos deitou-se na cama para descansar não para morrer queria dormir um pouco apenas isso e assim não lhe terá passado pela mente – até aquele último … Continue lendo Ferreira Gullar – Fim
Ferreira Gullar – Thereza
Sem apelo no vórtice do dia no abandono do chão na lâmina da luz feroz fora da vida desfaz-se agora a minha doída desavinda companheira
Ferreira Gullar – Aqui e agora
1 Que faz a defunta manhã na manhã nova? Que sois vós hoje alegria de outrora riso extinta palavra de afeto? que sois vós senão fantasmas senão miasmas a infectar de morte o que está vivo? 2 Se há sol no pátio e um carro penetra nele e estaciona e o chofer desce bate a … Continue lendo Ferreira Gullar – Aqui e agora
Ferreira Gullar – Notícia da Morte de Alberto da Silva
(Poema Dramático para Muitas Vozes) I Eis aqui o morto chegado a bom porto Eis aqui o morto como um rei deposto Eis aqui o morto com seu terno curto Eis aqui o morto com seu corpo duro Eis aqui o morto enfim no seguro II De barba feita, cabelo penteado jamais esteve tão bem … Continue lendo Ferreira Gullar – Notícia da Morte de Alberto da Silva
Ferreira Gullar – Pela rua
Sem qualquer esperança detenho-me diante de uma vitrina de bolsas na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, domingo, enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro. Sem qualquer esperança te espero. Na multidão que vai e vem entra e sai dos bares e cinemas surge teu rosto e some num vislumbre e o coração dispara. Te … Continue lendo Ferreira Gullar – Pela rua