Ángel González – O amanhã é um mar profundo que precisamos atravessar a nado

Queria ser alga, alga enredada
na parte suave de tuas coxas.
Sopro de brisa nas tuas bochechas.
Leve areia sob tua pegada.

Queria ser água, água salgada
quando corres nua no litoral.
Sol cortando em sombra tua banal
Silhueta virgem recém-molhada.

Tudo quisera ser, indefinido,
ao teu redor: vista, luz, ambiente
gaivota, céu, navio, vela, vento…

A concha que aproximas ao ouvido,
para poder unir, timidamente,
com o rumor do mar, meu sentimento.

Trad.: Nelson Santander

Mañana es un mar hondo que hay que cruzar a nado

Alga quisiera ser, alga enredada,
en lo más suave de tu pantorrilla.
Soplo de brisa contra tu mejilla.
Arena leve bajo tu pisada.

Agua quisiera ser, agua salada
cuando corres desnuda hacia la orilla.
Sol recortando en sombra tu sencilla
silueta virgen de recién bañada.

Todo quisiera ser, indefinido,
en torno a ti: paisaje, luz, ambiente,
gaviota, cielo, nave, vela, viento…

Caracola que acercas a tu oído,
para poder reunir, tímidamente,
con el rumor del mar, mi sentimiento.

Ángel González – Aniversário

Eu percebo: como vou-me tornando
menos certo, confuso,
dissolvendo-me no ar
cotidiano, bruto
pedaço de mim, desgastado
e de punhos quebrados.

Eu compreendo: vivi
mais um ano, e isso é muito duro.
Pulsar o coração todos os dias
quase cem vezes por minuto!

Para viver um ano é necessário
morrer muitas vezes muito.

Trad.: Nelson Santander

Cumpleaños

Yo lo noto: cómo me voy volviendo
menos cierto, confuso,
disolviéndome en aire
cotidiano, burdo
jirón de mí, deshilachado
y roto por los puños.

Yo comprendo: he vivido
un año más, y eso es muy duro.
¡Mover el corazón todos los días
casi cien veces por minuto!

Para vivir un año es necesario
morirse muchas veces mucho.

Ángel González – Todos vocês parecem felizes…

… e sorriem, às vezes, quando falam.
E até dizem uns aos outros
palavras de amor. Mas
amam-se
de dois em dois
para
odiar de mil
em mil. E guardam
toneladas de asco
por cada
milímetro de felicidade.
E parecem – nada
mais que parecem – felizes,
e falam
com o fim de ocultar essa amargura
inevitável, e quantas
vezes não o conseguem, como
não posso ocultá-la
por mais tempo: esta
desesperante, estéril, longa,
cega desolação por qualquer coisa
que – não sei para onde – lentamente, me arrasta.

Trad.: José Bento