
Categoria: Machado de Assis

Machado de Assis – Bagatela (excerto)
Machado de Assis – Epitáfios
Machado de Assis – Memórias Póstumas de Brás Cubas
Veja também: https://nsantand.wordpress.com/2018/06/20/nelson-santander-dois-capitulos-perdidos-de-memorias-postumas-de-bras-cubas/
Machado de Assis – Uma Criatura

Machado de Assis – Uma Criatura
Sei de uma criatura antiga e formidável,
que a si mesma devora os membros e as entranhas,
com a sofreguidão da fome insaciável.
Habita juntamente os vales e as montanhas;
e no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
Traz impresso na fronte o obscuro despotismo.
cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
parece uma expansão de amor e de egoísmo.
Friamente contempla o desespero e o gozo,
gosta do colibri, como gosta do verme,
e cinge ao coração o belo e o monstruoso.
Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
e caminha na terra imperturbável, como
pelo vasto areal um vasto paquiderme.
Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
vem a folha, que lento e lento se desdobra,
depois a flor, depois o suspirado pomo.
Pois esta criatura está em toda a obra;
cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
e é nesse destruir que as forças dobra.
Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
começa e recomeça uma perpétua lida,
e sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.

Machado de Assis – Memórias Póstumas (último capítulo)
Talvez o melhor capítulo final da literatura brasileira. «Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessos narrados na primeira parte do livro. O principal deles foi a invenção do emplasto Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da moléstia que apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os […]

Machado de Assis – A Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, – restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.