Diego Moraes – Já se passaram dez anos

Já se passaram dez anos
Acabou a bateria do relógio que você me presenteou no natal que
seu tio ficou bêbado de vinho Dom Bosco e disse na frente dos filhos
e da esposa que era gay e viveria com um travesti búlgaro
em Londres
Já se passaram dez anos
Os poemas que escrevi quando gozava nos teus peitos de atriz da
nouvelle vague incorporada de pomba-gira amarelaram como sífilis
na fruteira
Já se passaram dez anos
A dona Gerusa que te vendia maconha morreu de AIDS na
penitenciária e o cachorro sem nome que adotamos morreu
atropelado por um táxi
Já se passaram dez anos
Hebe morreu. Michael Jackson Morreu. Roberto Piva morreu.
James Gandolfini morreu. Manoel de Barros morreu.
Já se passaram dez anos
Mas o cheiro da sua boceta ainda está impregnado no quarto, no
guarda-roupa, na cozinha, na varanda, nas estrelas.

REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 22/02/2018

Diego Moraes – Já se passaram dez anos

Já se passaram dez anos
Acabou a bateria do relógio que você me presenteou no natal que
seu tio ficou bêbado de vinho dom bosco e disse na frente dos filhos
e da esposa que era gay e viveria com um travesti búlgaro
em Londres
Já se passaram dez anos
Os poemas que escrevi quando gozava nos teus peitos de atriz da
nouvelle vague incorporada de pomba-gira amarelaram como sífilis
na fruteira
Já se passaram dez anos
A dona Gerusa que te vendia maconha morreu de AIDS na
penitenciária e o cachorro sem nome que adotamos morreu
atropleado por um táxi
Já se passaram dez anos
Hebe morreu. Michael Jackson Morreu. Roberto Piva morreu.
James Gandolfini morreu. Manoel de Barros morreu.
Já se passaram dez anos
Mas o cheiro da sua boceta ainda está impregnado no quarto, no
guarda-roupa, na cozinha, na varanda, nas estrelas.