Guilherme de Almeida – Soneto XXVII

Hoje voltas-me o rosto, se a teu lado
passo; e eu baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto
pudéssemos varrer nosso passado.

Passo, esquecido de teu olhar — coitado!
Vais — coitada! — esquecida de que existo:
como se nunca tu me houvesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado!

Se às vezes, sem querer, nos entrevemos;
se, quando passo, o teu olhar me alcança,
se os meus olhos te alcançam, quando vais,

— ah! só Deus sabe e só nós dois sabemos! —
volta-nos sempre a pálida lembrança
daqueles tempos que não voltam mais!