Algernon Charles Swinburne – O Jardim de Proserpina

Cá, em que a terra é calma;
Cá, em que o drama é como
Ar morto e exaustas almas,
Dúbios sonhos assomo;
Eu vejo o campo a medrar
Para a ceifa e o plantar,
A colheita e o roçar,
Mundo fluido de sono.

Farto de dor e riso,
E de quem chora e ri;
Do que vem sem aviso
Aos que colhem aqui:
Dos dias e das horas,
Secos brotos da flora,
Gana, sonhos, pletora,
Tudo, menos dormir.

Aqui, mortes espreitam,
E onde não há olhares
Brisas tênues escoltam
Débeis almas e naves;
São párias à deriva,
Nus de expectativa;
Mas aqui não há brisa,
Nem voejam tais aves.

Nada cresce no charco,
Nada de vinha ou flora,
Só um florescer parco,
Verdes uvas de Cora,
Camas de juncos móveis
Prenhes de folhas débeis
Que ela esmaga e fere.
Homens em sua hora.

Gris, e sem marca ou nome,
Em tal terra de sal,
Eles deitam e dormem,
Da noite ao arrebol;
E como alma tardia
Cindida na porfia,
Bruma por companhia,
Da treva irrompe o sol.

Até mesmo o mais forte
É da morte um amigo,
No céu, não rir da sorte,
Nem, no chão, do castigo;
Mesmo o que há de belo
Tem seu fim, seu flagelo;
Mesmo a paz e o desvelo
São, no fim, desabrigo.

Gris, além dos portais,
Com folhas coroada,
Une coisas mortais,
Mãos eternas, geladas;
Seus lábios são macios
Assombram os gentios
Que a buscam, erradios,
Pelas eras e plagas.

Por eles ela vela,
Por todos ela espera;
Esquece a terra bela,
A vida pura e vera;
Primavera, grãos, ave,
Vá, em seu vôo suave,
Aonde o som soa grave,
E calcada é a hera.

Lá vão amores murchos,
De asas gastas, cansados;
Anos tais ramos mochos,
E entes consternados;
Sonhos mortos e breves,
Grãos cobertos por neve,
Folhas (que o vento as leve):
Abris despedaçados.

Não sei se sofreremos,
E o gozo é incerto;
Amanhã morreremos;
O tempo é sem dileto.
O amor é fraco, aflito,
Tem lábios, mas contrito,
Ais, e olhos de olvido,
Choro que afasta o afeto.

Por muito amor à vida,
Do medo e fé libertos,
Damos graças devidas
A uns deuses incertos:
Que as vidas se extingam,
Que os mortos não se ergam;
Que os rios que serpenteiam,
Ao mar cheguem decerto.

Nem o sol, nem estrela,
Então, despertarão:
Nem água que encapela,
Nem um sinal ou som:
Nem folhas de outono;
Nem dias de abandono,
Só um eterno sono,
E eterna escuridão.

Trad.: Nelson Santander

Republicação: poema originalmente publicado no blog em 23/02/2016

 
Conheça outros livros de Algernon Charles Swinburne clicando aqui

NOTAS SOBRE A TRADUÇÃO:

Li uma estrofe deste poema, há muito tempo, no blog do poeta e filósofo Antônio Cicero, “Acontecimentos” (o meu site de poemas favorito). A estrofe em questão foi citada pelo filósofo Richard Rorty em seu último artigo, chamado “O Fogo da Vida” que, bem a propósito, trata justamente do descobrimento da importância da poesia no momento em que o autor está diante de um diagnóstico de um câncer incurável. A estrofe em questão (a mais famosa do poema) foi assim traduzida pelo próprio Antonio Cicero:

Agradecemos brevemente
A todos os deuses que há
Por não se viver para sempre;
Por jamais os mortos se erguerem;
Por chegar, por mais que volteie,
O rio sem dúvida ao mar.

We thank with brief thanksgiving
Whatever gods may be
That no life lives for ever;
That dead men rise up never;
That even the weariest river
Winds somewhere safe to sea.

A leitura desta única e poderosa estrofe despertou a minha curiosidade a respeito do resto do poema. No entanto, embora eu tenha vasculhado a internet, não consegui achar nenhuma tradução decente do poema. Achei, sim, alguns trechos, cujo sentido do texto era mais ou menos fiel ao original, sem que, todavia, o ritmo, a métrica e/ou a rima fossem observados.

No blog Ácido Carbolítico (http://resbruscato.wordpress.com/2009/10/23/o-jardim-de-proserpina/), por exemplo, a primeira estrofe foi assim traduzida:

Aqui, onde o mundo é quieto,
Aqui onde todos os problemas são
Tumultos de ondas e vento morto
Em duvidosos sonhos e ilusão;
Eu vejo o verde campo crescer
Para o povo plantar e colher,
Para o tempo de ceifar e moer,
Em sonolento mundo de tufão.

Embora a tradução observe aproximadamente o sentido do texto original e as rimas interpoladas, nota-se que a métrica foi sumariamente desprezada, transformando o hexassílabo original em verso livre. Por outro lado, a tradução de parte da penúltima estrofe proposta pelo Antonio Cicero, acima transcrita, observa a métrica (tendo ele optado por versos octossilábicos), mas descuida das rimas interpoladas, mantendo-as apenas na quarta com a oitava rimas.
Assim, como não conseguia encontrar nenhuma tradução razoavelmente satisfatória do poema, resolvi eu mesmo abraçar a tarefa.

O poema The Garden of Proserpine, do poeta vitoriano Algernon Charles Swinburne, foi escrito em 1866. Proserpina (Prosérpina) ou Cora é a grafia latina da deusa Perséfone ou Koré, casada com Hades, o deus do submundo. Segundo a lenda, ela era filha de Zeus e da deusa Deméter, da agricultura. Era muito bela, o que levou sua mãe a escondê-la longe da vista dos deuses. Quando, porém, os sinais de sua grande beleza começaram a surgir, em sua adolescência, o deus Hades por ela se apaixonou perdidamente, e a pediu em casamento diretamente a Zeus que, sem consultar Deméter, concordou com o pedido. Hades, no entanto, impaciente pela demora no casamento, a raptou enquanto ela colhia flores com as ninfas, levando-a para seus domínios (o mundo subterrâneo). Uma vez lá, desposou-a e fez dela a rainha do submundo. Deméter ficou inconsolável, e acabou se descuidando de suas tarefas. Por isso, as terras ficaram estéreis e houve escassez de alimentos. Deméter procurou por sua filha em toda parte e, por fim, descobriu, por intermédio de Hécate e Helios, que a jovem deusa havia sido levada para o mundo dos mortos. Para lá então rumou, junto com Hermes, para resgatá-la. Como, no entanto, Proserpina havia comido uma semente de romã ofertado por Hades, Zeus entendeu que ela não poderia abandonar seu marido. Em razão disso, costurou-se um acordo, segundo o qual ela passaria metade do ano com seus pais e a outra metade com Hades. Este mito é a explicação do ciclo anual das colheitas.

O melancólico poema de Swinburne se vale do mito de Proserpina para expressar um estado de espírito ligado ao desejo de paz e descanso, diante do cansaço e saciedade da vida. No poema, a morte está personificada no mito da deusa Proserpina. E o jardim de Proserpina – “seco”, melancólico, devastado pela morte e pela infertilidade – é o oposto do jardim do Éden, onde a vida viceja com frutos e vegetação exuberante. O jardim de Proserpina, morto embora, não é de todo estéril. Em vários trechos do poema fica claro que ele gerou uma colheita; mas uma colheita feita de “grãos cobertos por neve”, “secos brotos”, “folhas débeis”. No poema, a natureza não é boa e acolhedora; é, antes, indiferente. E o jardim de Proserpina é o lugar para o qual vão os “amores murchos (…), cansados”; um lugar de “sonhos mortos e breves” e de primaveras arruinadas (“abris despedaçados”).

Segue abaixo uma ótima revisão do poema, escrita por Bhaskar Banerjee.
Sobre a tradução em si cumpre fazer algumas pequenas observações. O poema original de Swinburne é construído em versos hexassílabos, e, para ficar o mais fiel possível ao original, resolvi manter, na tradução, a mesma métrica. O que demonstrou ser uma péssima ideia. A língua inglesa tem uma infinidade de palavras monossilábicas que, quando vertidas para o português, tornam-se dissílabas ou trissílabas (“man”- “homem”; “watch”- “vejo”; “dreams”-“sonhos”; “green”-“verde”; “tears”- “lágrimas”; etc.). O poema de Swinburne tem um número enorme destas palavras. Veja-se, por exemplo, o primeiro e famoso verso do poema:
Here/, where/ the/ world/ is/ quiet
Em tradução livre, este verso ficaria assim:
A/qui/, on/de o/ mun/do é/ cal/mo
Melhor seria, assim, ter optado pela redondilha maior. No entanto, tomei a dificuldade como um desafio e resolvi manter a métrica original do poema.

Mantive, também, de forma bem rigorosa o esquema de rimas interpoladas (ou intercaladas) do poema. O poema de Swinburne é composto de doze estrofes, cada qual contendo uniformemente oito versos. Nele, os versos pares iniciais rimam se interpondo entre os ímpares, seguidos por três também rimados, mas de forma diferente, no rígido esquema ABABCCCB, o que procurei manter na tradução.

O original, finalmente, é repleto de figuras de sintaxe, as quais servem para reforçar a melancolia que perpassa todo o poema por força de uma repetição quase que monótona. Algumas dessas figuras de sintaxe – como as anáforas – são relativamente fáceis de recuperar na tradução. Por exemplo:

That no life lives for ever ;
That dead men rise up never ;
That even the weariest river
Winds somewhere safe to sea

Que as vidas se extingam,
Que os mortos não se ergam;
Que os rios que serpenteiam,
Ao mar cheguem decerto.

Já as inúmeras aliterações e assonâncias espalhadas pelo texto foram muito difíceis de reproduzir com a colocação das vogais e consoantes, em minha tradução, nos pontos exatos dos versos onde ocorrem no texto original. Ainda assim, procurei inserir aliterações e assonâncias ao longo da tradução, como, por exemplo, nessas estrofes e versos:

Cá, em que a terra é calma;
Cá, em que o drama é como
Ar morto e exaustas almas,
Dúbios sonhos assomo;

Por eles ela vela,
Por todos ela espera;
Esquece a terra bela,
A vida pura e vera;
Primavera, grãos, ave,
Vá, em seu vôo suave,
Aonde o som soa grave
E calcada é a hera.

O tradutor.

UMA REVISÃO DO POEMA “O JARDIM DE PROSERPINA”
Bhaskar Banerjee

Na mitologia grega, Prosérpina é a filha de Ceres e da esposa de Plutão. Ela é, portanto, a deusa do Hades (isto é, o reino dos mortos), e seu Jardim fica na fronteira de Hades. Swinburne usa esse mito para expressar um estado de espírito. Em “O Jardim de Proserpina” o Jardim torna-se um símbolo da morte e da extinção. O poema exprime sentimentos de cansaço e saciedade para fazer da inevitabilidade da morte algo a ser aceito e até desejado.

Não a morte em si, mas sim o desejo de morte, é o tema do poema. Prosérpina é vista como a deusa, não da morte apenas, mas de todos os fins, de todas as ‘pequenas mortes’ – do dia, do amor, das estações do ano – que tornam a vida dolorosa, mas sem as quais a vida seria insuportável. É, paradoxalmente, o “muito amor à vida”, que produziu este hino em honra da morte.
O tema de Swinburne deriva muito de sua capacidade de se valer de outros aspectos do mito. Por exemplo, ele compara a Prosérpina mortífera e estéril com a Prosérpina cujo periódico retorno à terra significa o renascimento da Primavera. Prosérpina é, portanto, representada como uma ‘belle dame sans merci “, ameaçadora, mesmo repugnante, mas sedutora e irresistível.

O poema começa por estabelecer o contraste entre a quietude do Jardim e do mundo do homem atarefado; migra então para uma descrição do próprio Jardim, de Prosérpina, e de seu poder sobre o mundo, e termina com uma expressão de alívio na cessação definitiva de todas as coisas.
Os motivos e as imagens são repetidas, e o sucesso do poema depende dessas repetições. Swinburne usa os recursos da linguagem – musical, imagética, emotiva – para evocar um estado de espírito. O soporífero, mesmo hipnótico, efeito das repetições combina perfeitamente com o humor. Há, por exemplo, as imagens repetidas de flores, folhas, frutas e milho, que caracterizam a vida tanto do homem na terra e do Jardim em si. As repetições geram contrastes: as áreas de terra são verdes e crescem, enquanto os campos Proserpina são ‘inúteis’ e ‘nada cresce no charco”. Mas as repetições servem também para estabelecer paralelos: se brotos e folhas de Proserpina são “de um florescer parco”, a terra também produz “secos brotos da flora”.
A repetição é também utilizada para gerar efeitos de linguagem em dispositivos tais como anáfora, assonância e, acima de tudo, aliteração. Nas últimos três estrofes, o som e o sentido combinam para dar uma impressão exata da impermanência das coisas que torna a vida, em última análise, tão estéril como a morte.

http://voices.yahoo.com/a-review-poem-garden-proserpine-517330.html

The Garden Of Proserpine

Here, where the world is quiet;
Here, where all trouble seems
Dead winds’ and spent waves’ riot
In doubtful dreams of dreams;
I watch the green field growing
For reaping folk and sowing,
For harvest-time and mowing,
A sleepy world of streams.

I am tired of tears and laughter,
And men that laugh and weep ;
Of what may come hereafter
For men that sow to reap :
I am weary of days and hours,
Blown buds of barren flowers,
Desires and dreams and powers
And everything but sleep.

Here life has death for neighbour,
And far from eye or ear
Wan waves and wet winds labour,
Weak ships and spirits steer ;
They drive adrift, and whither
They wot not who make thither ;
But no such winds blow hither,
And no such things grow here.

No growth of moor or coppice,
No heather-flower or vine,
But bloomless buds of poppies,
Green grapes of Proserpine,
Pale beds of blowing rushes
Where no leaf blooms or blushes
Save this whereout she crushes
For dead men deadly wine

Pale, without name or number,
In fruitless fields of corn,
They bow themselves and slumber
All night till light is born ;
And like a soul belated,
In hell and heaven unmated,
By cloud and mist abated
Comes out of darkness morn.

Though one were strong as seven,
He too with death shall dwell,
Nor wake with wings in heaven,
Nor weep for pains in hell ;
Though one were fair as roses,
His beauty clouds and closes ;
And well though love reposes,
In the end it is not well.

Pale, beyond porch and portal,
Crowned with calm leaves, she stands
Who gathers all things mortal
With cold immortal hands ;
Her languid lips are sweeter
Than love’s who fears to greet her
To men that mix and meet her
From many times and lands.

She waits for each and other,
She waits for all men born ;
Forgets the earth her mother,
The life of fruits and corn ;
And spring and seed and swallow
Take wing for her and follow
Where summer song rings hollow
And flowers are put to scorn.

There go the loves that wither,
The old loves with wearier wings ;
And all dead years draw thither,
And all disastrous things ;
Dead dreams of days forsaken,
Blind buds that snows have shaken,
Wild leaves that winds have taken,
Red strays of ruined springs.

We are not sure of sorrow,
And joy was never sure;
To-day will die to-morrow;
Time stoops to no man’s lure;
And love, grown faint and fretful,
With lips but half regretful
Sighs, and with eyes forgetful
Weeps that no loves endure.

From too much love of living,
From hope and fear set free,
We thank with brief thanksgiving
Whatever gods may be
That no life lives for ever ;
That dead men rise up never ;
That even the weariest river
Winds somewhere safe to sea

Then star nor sun shall waken,
Nor any change of light:
Nor sound of waters shaken,
Nor any sound or sight:
Nor wintry leaves nor vernal,
Nor days nor things diurnal;
Only the sleep eternal
In an eternal night.

Algernon Charles Swinburne – Uma Despedida

Vamos, canções, ela não ouviria
Sigamos sem temor por nossa via.
Silêncio, o tempo de cantar passou,
Passou já tudo o que se quis um dia.
Ela não quer o amor que nos marcou.
Fôssemos a voz de um anjo em melodia
E ela não ouviria.
Vamos partir. Ela não saberia.
Vamos ao mar, como é da ventania,
Soprando areia, espuma, que fazer?
Nada a fazer, que a vida é mesmo fria,
E o mundo é lágrimas e é padecer.
Mostrássemos a dor que em nós havia
E ela não saberia.
Para casa! Ela não sofreria.
Demos de amor, sonhos demais, e dias
E flores mortas, frutos condenados,
Dizendo:”Ceifa, como `a fantasia”
E nada resta: foi tudo ceifado.
Visse em nós, que plantamos, a agonia,
E ela não sofreria.
Ao descanso! Ela não nos amaria
Nem vai ouvir a nossa litania
Nem ver que amar caminha em dor, no mundo.
Vamos daqui, cessemos a porfia.
O amor é mar amargo, hostil, profundo;
Pudesse o céu dar flores- sim, daria,
E ela não amaria.
Desistamos! Ela nem cuidaria.
Dourasse a estrela os mares que alumia,
Dourasse o mar a vaga que estremece
E a flor da lua a flor da espuma espia,
E as ondas todas sobre nós trouxesse,
Lábios cerrasse, a mão deixasse fria,
E ela nem cuidaria
Vamos canções, ela não nos veria.
Uma vez mais, cantemos, todavia.
Talvez ela relembre o que dissemos
E queira ainda ouvir nossa elegia,
Mas nós, nós já partimos. Nem viemos!
Quem vê sabe da dor que me agonia,
Mas ela não veria.
         Trad.: Jorge Wanderley

Algernon Charles Swinburne – Um Amigo Morto

I.
Não mais, ó puro e meigo coração,
Amigo de esperas fatais,
Aqueles dias prósperos, irmão,
Não mais?Dias brilhantes de cristais
Viram mais, além desse desvão,
O que ninguém verá jamais.
 
Alma’lva como a clara cerração,
Por que, então, cedo demais
Se foi para além de nós, para não,
Não mais?

II.
Irmão de longas horas fugidias,
Que dilacerante emoção
Emanará da boca que dizia
‘Irmão’?
 
Suspiro e canção que mesclam
Louvor com desolada agonia,
Embora ascenda a louvação?

Nada oculta o que de ti irradia:
Por que encerra a escuridão –
Ó dileto e morto – tão cedo o dia,
Irmão?

III.
Caro finado, cumpriste o dever
Ainda em vida, dando amparo
Aos corações que pudeste deter,
Caro

Tempo e acaso podem, claro,
Crestar a fé com dor, e o morrer,
Cindir mãos com seu dom avaro:

A memória, ora cega a planger
A dor, vê, com seu faro raro
Tudo o que de ti se fez para ser
Caro

IV.
Fiel e afável de alma invulgar,
Que deve a memória cruel
Fazer além de ver a fé chorar,
Fiel?

Poucos viram além do véu
Do teu ser, mas quem foi ao teu lar
Dedicou-te amor a granel!

Janus, que faz o novo definhar,
Transforme algo velho em novel;
Um amor honesto a se declarar
Fiel.

V.
Puro tal qual o céu, enquanto ao chão
Tu te mantiveste seguro,
Para os homens deste o teu coração
Puro

Já não te cega mais o escuro
Agora: as horas em mutação
Afagam teu sono futuro

O amor, sentindo ainda a morte tão
Perto, pode, com seu apuro,
Evocar teu doce ser, meu irmão
Puro

VI.
Como, ó amigo, deve ser a vida?
Esquecer o perpétuo sono?
A fé concede à dor do amor guarida,
Como?

É certo, tristes seres somos.
No entanto, mesmo que certa a lida,
Brilha tua testa tal um pomo.

Sim, embora tu estejas de partida,
O amor te encontrará de assomo,
Apesar de não sabermos ainda
Como.

VII.
Passou, como canção que desvanece,
E enquanto era vivo, brilhou;
Como o pio da ave de que se esquece
Passou!

O vento da morte soprou,
O senhor da canção o fornece,
Mas teu amor firme ficou.

O trono vazio de um rei que fenece:
Mas, para a dor que perdurou,
O amor fez canção do que não se esquece.
Passou.

Trad.: Nelson Santander

 

A Dead Friend

I.
Gone, O gentle heart and true,
Friend of hopes foregone,
Hopes and hopeful days with you
Gone?
 
Days of old that shone
Saw what none shall see anew,
When we gazed thereon.
 
Soul as clear as sunlit dew,
Why so soon pass on,
Forth from all we loved and knew
Gone?
 
II.
Friend of many a season fled,
What may sorrow send
Toward thee now from lips that said
‘Friend’?
 
Sighs and songs to blend
Praise with pain uncomforted
Though the praise ascend?
 
Darkness hides no dearer head;
Why should darkness end
Day so soon, O dear and dead
Friend?

III.
Dear in death, thou hast thy part
Yet in life, to cheer
Hearts that held thy gentle heart
Dear.

Time and chance may sear
Hope with grief, and death may part
Hand from hand’s clasp here:

Memory, blind with tears that start,
Sees through every tear
All that made thee, as thou art,
Dear.

IV.
True and tender, single-souled,
What should memory do
Weeping o’er the trust we hold
True?

Known and loved of few,
But of these, though small their fold,
Loved how well were you!

Change, that makes of new things old,
Leaves one old thing new;
Love which promised truth, and told
True.

V.
Kind as heaven, while earth’s control
Still had leave to bind
Thee, thy heart was toward man’s whole
Kind.

Thee no shadows blind
Now: the change of hours that roll
Leaves thy sleep behind.

Love, that hears thy death-bell toll
Yet, may call to mind
Scarce a soul as thy sweet soul
Kind.

VI.
How should life, O friend, forget
Death, whose guest art thou?
Faith responds to love’s regret,
How?

Still, for us that bow
Sorrowing, still, though life be set,
Shines thy bright mild brow.

Yea, though death and thou be met,
Love may find thee now
Still, albeit we know not yet
How.

VII.
Past as music fades, that shone
While its life might last;
As a song-bird’s shadow flown
Past!

Death’s reverberate blast
Now for music’s lord has blown
Whom thy love held fast.

Dead thy king, and void his throne:
Yet for grief at last
Love makes music of his own
Past.

Algernon Charles Swinburne – O Jardim de Proserpina

Cá, em que a terra é calma;
Cá, em que o drama é como
Ar morto e exaustas almas,
Dúbios sonhos assomo;
Eu vejo o campo a medrar
Para a ceifa e o plantar,
A colheita e o roçar,
Mundo fluido de sono.

Farto de dor e riso,
E de quem chora e ri;
Do que vem sem aviso
Aos que colhem aqui:
Dos dias e das horas,
Secos brotos da flora,
Gana, sonhos, pletora,
Tudo, menos dormir.

Aqui, mortes espreitam,
E onde não há olhares
Brisas tênues escoltam
Débeis almas e naves;
São párias à deriva,
Nus de expectativa;
Mas aqui não há brisa,
Nem voejam tais aves.

Nada cresce no charco,
Nada de vinha ou flora,
Só um florescer parco,
Verdes uvas de Cora,
Camas de juncos móveis
Prenhes de folhas débeis
Que ela esmaga e fere.
Homens em sua hora.

Gris, e sem marca ou nome,
Em tal terra de sal,
Eles deitam e dormem,
Da noite ao arrebol;
E como alma tardia
Cindida na porfia,
Bruma por companhia,
Da treva irrompe o sol.

Até mesmo o mais forte
É da morte um amigo,
No céu, não rir da sorte,
Nem, no chão, do castigo;
Mesmo o que há de belo
Tem seu fim, seu flagelo;
Mesmo a paz e o desvelo
São, no fim, desabrigo.

Gris, além dos portais,
Com folhas coroada,
Une coisas mortais,
Mãos eternas, geladas;
Seus lábios são macios
Assombram os gentios
Que a buscam, erradios,
Pelas eras e plagas.

Por eles ela vela,
Por todos ela espera;
Esquece a terra bela,
A vida pura e vera;
Primavera, grãos, ave,
Vá, em seu vôo suave,
Aonde o som soa grave,
E calcada é a hera.

Lá vão amores murchos,
De asas gastas, cansados;
Anos tais ramos mochos,
E entes consternados;
Sonhos mortos e breves,
Grãos cobertos por neve,
Folhas (que o vento as leve):
Abris despedaçados.

Não sei se sofreremos,
E o gozo é incerto;
Amanhã morreremos;
O tempo é sem dileto.
O amor é fraco, aflito,
Tem lábios, mas contrito,
Ais, e olhos de olvido,
Choro que afasta o afeto.

Por muito amor à vida,
Do medo e fé libertos,
Damos graças devidas
A uns deuses incertos:
Que as vidas se extingam,
Que os mortos não se ergam;
Que os rios que serpenteiam,
Ao mar cheguem decerto.

Nem o sol, nem estrela,
Então, despertarão:
Nem água que encapela,
Nem um sinal ou som:
Nem folhas de outono;
Nem dias de abandono,
Só um eterno sono,
E eterna escuridão.

Trad.: Nelson Santander

 

Conheça outros livros de Algernon Charles Swinburne clicando aqui

NOTAS SOBRE A TRADUÇÃO:

Li uma estrofe deste poema, há muito tempo, no blog do poeta e filósofo Antônio Cicero, “Acontecimentos” (o meu site de poemas favorito). A estrofe em questão foi citada pelo filósofo Richard Rorty em seu último artigo, chamado “O Fogo da Vida” que, bem a propósito, trata justamente do descobrimento da importância da poesia no momento em que o autor está diante de um diagnóstico de um câncer incurável. A estrofe em questão (a mais famosa do poema) foi assim traduzida pelo próprio Antonio Cicero:

Agradecemos brevemente
A todos os deuses que há
Por não se viver para sempre;
Por jamais os mortos se erguerem;
Por chegar, por mais que volteie,
O rio sem dúvida ao mar.

We thank with brief thanksgiving
Whatever gods may be
That no life lives for ever;
That dead men rise up never;
That even the weariest river
Winds somewhere safe to sea.

A leitura desta única e poderosa estrofe despertou a minha curiosidade a respeito do resto do poema. No entanto, embora eu tenha vasculhado a internet, não consegui achar nenhuma tradução decente do poema. Achei, sim, alguns trechos, cujo sentido do texto era mais ou menos fiel ao original, sem que, todavia, o ritmo, a métrica e/ou a rima fossem observados.

No blog Ácido Carbolítico (http://resbruscato.wordpress.com/2009/10/23/o-jardim-de-proserpina/), por exemplo, a primeira estrofe foi assim traduzida:

Aqui, onde o mundo é quieto,
Aqui onde todos os problemas são
Tumultos de ondas e vento morto
Em duvidosos sonhos e ilusão;
Eu vejo o verde campo crescer
Para o povo plantar e colher,
Para o tempo de ceifar e moer,
Em sonolento mundo de tufão.

Embora a tradução observe aproximadamente o sentido do texto original e as rimas interpoladas, nota-se que a métrica foi sumariamente desprezada, transformando o hexassílabo original em verso livre. Por outro lado, a tradução de parte da penúltima estrofe proposta pelo Antonio Cicero, acima transcrita, observa a métrica (tendo ele optado por versos octossilábicos), mas descuida das rimas interpoladas, mantendo-as apenas na quarta com a oitava rimas.
Assim, como não conseguia encontrar nenhuma tradução razoavelmente satisfatória do poema, resolvi eu mesmo abraçar a tarefa.

O poema The Garden of Proserpine, do poeta vitoriano Algernon Charles Swinburne, foi escrito em 1866. Proserpina (Prosérpina) ou Cora é a grafia latina da deusa Perséfone ou Koré, casada com Hades, o deus do submundo. Segundo a lenda, ela era filha de Zeus e da deusa Deméter, da agricultura. Era muito bela, o que levou sua mãe a escondê-la longe da vista dos deuses. Quando, porém, os sinais de sua grande beleza começaram a surgir, em sua adolescência, o deus Hades por ela se apaixonou perdidamente, e a pediu em casamento diretamente a Zeus que, sem consultar Deméter, concordou com o pedido. Hades, no entanto, impaciente pela demora no casamento, a raptou enquanto ela colhia flores com as ninfas, levando-a para seus domínios (o mundo subterrâneo). Uma vez lá, desposou-a e fez dela a rainha do submundo. Deméter ficou inconsolável, e acabou se descuidando de suas tarefas. Por isso, as terras ficaram estéreis e houve escassez de alimentos. Deméter procurou por sua filha em toda parte e, por fim, descobriu, por intermédio de Hécate e Helios, que a jovem deusa havia sido levada para o mundo dos mortos. Para lá então rumou, junto com Hermes, para resgatá-la. Como, no entanto, Proserpina havia comido uma semente de romã ofertado por Hades, Zeus entendeu que ela não poderia abandonar seu marido. Em razão disso, costurou-se um acordo, segundo o qual ela passaria metade do ano com seus pais e a outra metade com Hades. Este mito é a explicação do ciclo anual das colheitas.

O melancólico poema de Swinburne se vale do mito de Proserpina para expressar um estado de espírito ligado ao desejo de paz e descanso, diante do cansaço e saciedade da vida. No poema, a morte está personificada no mito da deusa Proserpina. E o jardim de Proserpina – “seco”, melancólico, devastado pela morte e pela infertilidade – é o oposto do jardim do Éden, onde a vida viceja com frutos e vegetação exuberante. O jardim de Proserpina, morto embora, não é de todo estéril. Em vários trechos do poema fica claro que ele gerou uma colheita; mas uma colheita feita de “grãos cobertos por neve”, “secos brotos”, “folhas débeis”. No poema, a natureza não é boa e acolhedora; é, antes, indiferente. E o jardim de Proserpina é o lugar para o qual vão os “amores murchos (…), cansados”; um lugar de “sonhos mortos e breves” e de primaveras arruinadas (“abris despedaçados”).

Segue abaixo uma ótima revisão do poema, escrita por Bhaskar Banerjee.
Sobre a tradução em si cumpre fazer algumas pequenas observações. O poema original de Swinburne é construído em versos hexassílabos, e, para ficar o mais fiel possível ao original, resolvi manter, na tradução, a mesma métrica. O que demonstrou ser uma péssima ideia. A língua inglesa tem uma infinidade de palavras monossilábicas que, quando vertidas para o português, tornam-se dissílabas ou trissílabas (“man”- “homem”; “watch”- “vejo”; “dreams”-“sonhos”; “green”-“verde”; “tears”- “lágrimas”; etc.). O poema de Swinburne tem um número enorme destas palavras. Veja-se, por exemplo, o primeiro e famoso verso do poema:
Here/, where/ the/ world/ is/ quiet
Em tradução livre, este verso ficaria assim:
A/qui/, on/de o/ mun/do é/ cal/mo
Melhor seria, assim, ter optado pela redondilha maior. No entanto, tomei a dificuldade como um desafio e resolvi manter a métrica original do poema.

Mantive, também, de forma bem rigorosa o esquema de rimas interpoladas (ou intercaladas) do poema. O poema de Swinburne é composto de doze estrofes, cada qual contendo uniformemente oito versos. Nele, os versos pares iniciais rimam se interpondo entre os ímpares, seguidos por três também rimados, mas de forma diferente, no rígido esquema ABABCCCB, o que procurei manter na tradução.

O original, finalmente, é repleto de figuras de sintaxe, as quais servem para reforçar a melancolia que perpassa todo o poema por força de uma repetição quase que monótona. Algumas dessas figuras de sintaxe – como as anáforas – são relativamente fáceis de recuperar na tradução. Por exemplo:

That no life lives for ever ;
That dead men rise up never ;
That even the weariest river
Winds somewhere safe to sea

Que as vidas se extingam,
Que os mortos não se ergam;
Que os rios que serpenteiam,
Ao mar cheguem decerto.

Já as inúmeras aliterações e assonâncias espalhadas pelo texto foram muito difíceis de reproduzir com a colocação das vogais e consoantes, em minha tradução, nos pontos exatos dos versos onde ocorrem no texto original. Ainda assim, procurei inserir aliterações e assonâncias ao longo da tradução, como, por exemplo, nessas estrofes e versos:

Cá, em que a terra é calma;
Cá, em que o drama é como
Ar morto e exaustas almas,
Dúbios sonhos assomo;

Por eles ela vela,
Por todos ela espera;
Esquece a terra bela,
A vida pura e vera;
Primavera, grãos, ave,
Vá, em seu vôo suave,
Aonde o som soa grave
E calcada é a hera.

O tradutor.

UMA REVISÃO DO POEMA “O JARDIM DE PROSERPINA”
Bhaskar Banerjee

Na mitologia grega, Prosérpina é a filha de Ceres e da esposa de Plutão. Ela é, portanto, a deusa do Hades (isto é, o reino dos mortos), e seu Jardim fica na fronteira de Hades. Swinburne usa esse mito para expressar um estado de espírito. Em “O Jardim de Proserpina” o Jardim torna-se um símbolo da morte e da extinção. O poema exprime sentimentos de cansaço e saciedade para fazer da inevitabilidade da morte algo a ser aceito e até desejado.

Não a morte em si, mas sim o desejo de morte, é o tema do poema. Prosérpina é vista como a deusa, não da morte apenas, mas de todos os fins, de todas as ‘pequenas mortes’ – do dia, do amor, das estações do ano – que tornam a vida dolorosa, mas sem as quais a vida seria insuportável. É, paradoxalmente, o “muito amor à vida”, que produziu este hino em honra da morte.
O tema de Swinburne deriva muito de sua capacidade de se valer de outros aspectos do mito. Por exemplo, ele compara a Prosérpina mortífera e estéril com a Prosérpina cujo periódico retorno à terra significa o renascimento da Primavera. Prosérpina é, portanto, representada como uma ‘belle dame sans merci “, ameaçadora, mesmo repugnante, mas sedutora e irresistível.

O poema começa por estabelecer o contraste entre a quietude do Jardim e do mundo do homem atarefado; migra então para uma descrição do próprio Jardim, de Prosérpina, e de seu poder sobre o mundo, e termina com uma expressão de alívio na cessação definitiva de todas as coisas.
Os motivos e as imagens são repetidas, e o sucesso do poema depende dessas repetições. Swinburne usa os recursos da linguagem – musical, imagética, emotiva – para evocar um estado de espírito. O soporífero, mesmo hipnótico, efeito das repetições combina perfeitamente com o humor. Há, por exemplo, as imagens repetidas de flores, folhas, frutas e milho, que caracterizam a vida tanto do homem na terra e do Jardim em si. As repetições geram contrastes: as áreas de terra são verdes e crescem, enquanto os campos Proserpina são ‘inúteis’ e ‘nada cresce no charco”. Mas as repetições servem também para estabelecer paralelos: se brotos e folhas de Proserpina são “de um florescer parco”, a terra também produz “secos brotos da flora”.
A repetição é também utilizada para gerar efeitos de linguagem em dispositivos tais como anáfora, assonância e, acima de tudo, aliteração. Nas últimos três estrofes, o som e o sentido combinam para dar uma impressão exata da impermanência das coisas que torna a vida, em última análise, tão estéril como a morte.

http://voices.yahoo.com/a-review-poem-garden-proserpine-517330.html

The Garden Of Proserpine

Here, where the world is quiet;
Here, where all trouble seems
Dead winds’ and spent waves’ riot
In doubtful dreams of dreams;
I watch the green field growing
For reaping folk and sowing,
For harvest-time and mowing,
A sleepy world of streams.

I am tired of tears and laughter,
And men that laugh and weep ;
Of what may come hereafter
For men that sow to reap :
I am weary of days and hours,
Blown buds of barren flowers,
Desires and dreams and powers
And everything but sleep.

Here life has death for neighbour,
And far from eye or ear
Wan waves and wet winds labour,
Weak ships and spirits steer ;
They drive adrift, and whither
They wot not who make thither ;
But no such winds blow hither,
And no such things grow here.

No growth of moor or coppice,
No heather-flower or vine,
But bloomless buds of poppies,
Green grapes of Proserpine,
Pale beds of blowing rushes
Where no leaf blooms or blushes
Save this whereout she crushes
For dead men deadly wine

Pale, without name or number,
In fruitless fields of corn,
They bow themselves and slumber
All night till light is born ;
And like a soul belated,
In hell and heaven unmated,
By cloud and mist abated
Comes out of darkness morn.

Though one were strong as seven,
He too with death shall dwell,
Nor wake with wings in heaven,
Nor weep for pains in hell ;
Though one were fair as roses,
His beauty clouds and closes ;
And well though love reposes,
In the end it is not well.

Pale, beyond porch and portal,
Crowned with calm leaves, she stands
Who gathers all things mortal
With cold immortal hands ;
Her languid lips are sweeter
Than love’s who fears to greet her
To men that mix and meet her
From many times and lands.

She waits for each and other,
She waits for all men born ;
Forgets the earth her mother,
The life of fruits and corn ;
And spring and seed and swallow
Take wing for her and follow
Where summer song rings hollow
And flowers are put to scorn.

There go the loves that wither,
The old loves with wearier wings ;
And all dead years draw thither,
And all disastrous things ;
Dead dreams of days forsaken,
Blind buds that snows have shaken,
Wild leaves that winds have taken,
Red strays of ruined springs.

We are not sure of sorrow,
And joy was never sure;
To-day will die to-morrow;
Time stoops to no man’s lure;
And love, grown faint and fretful,
With lips but half regretful
Sighs, and with eyes forgetful
Weeps that no loves endure.

From too much love of living,
From hope and fear set free,
We thank with brief thanksgiving
Whatever gods may be
That no life lives for ever ;
That dead men rise up never ;
That even the weariest river
Winds somewhere safe to sea

Then star nor sun shall waken,
Nor any change of light:
Nor sound of waters shaken,
Nor any sound or sight:
Nor wintry leaves nor vernal,
Nor days nor things diurnal;
Only the sleep eternal
In an eternal night.